Coleta seletiva no Rio: apenas 0,5% do lixo reciclável é reciclado

Coleta seletiva: Rio recicla apenas 0,5% do lixo reciclável que produz

Segundo Comlurb, a quantidade de recicláveis que chega às cooperativas é muito pequena, são apenas 1.500 toneladas por mês. Apesar dos 21 anos de existência da coleta seletiva de recicláveis no Rio de Janeiro, o serviço ainda é invisível para boa parte da população.

A cidade do Rio de Janeiro recicla apenas 0,5% de todo o lixo misturado que o município envia por mês para o aterro sanitário de Seropédica, Baixada Fluminense. Segundo Comlurb, a quantidade de recicláveis que chega às cooperativas é muito pequena, são apenas 1.500 toneladas por mês.

Apesar dos 21 anos de existência da coleta seletiva de recicláveis no Rio de Janeiro, o serviço ainda é invisível para boa parte da população. O serviço prestado pela Comlurb é alvo de muita desconfiança.

A frota da coleta seletiva da Companhia Comlurb conta com apenas 16 caminhões para a cidade inteira, que circulam com aproximadamente 30% de espaço ocioso.

Os caminhões azuis que fazem a coleta seletiva podem misturar sem problemas papel, papelão, vidro, plásticos e metais. Misturar o chamado lixo seco não causa nenhum prejuízo à reciclagem. Só não pode misturar os recicláveis com o lixo orgânico, que são os restos de comida.

“Mistura todo o reciclável não é misturar tudo orgânico. Então cuidado, pode parecer que a gente vai lá com o caminhão azul e mistura o orgânico e reciclável, não é”, explica Edison San Romã, coordenador da coleta seletiva da Comlurb.

Entretanto, o RJ2 entrevistou muita gente que não acredita que os caminhões da coleta seletiva levem os recicláveis para o lugar certo.

“Acho que colocam tudo e vai para o aterro sanitário, algo do tipo. Se você não sabe para onde vai, porque você vai fazer na sua casa, se no final não vai ser correspondido teu trabalho em casa”, questiona Thiago Roldão.

“Não sei onde deixam tudo separado porque é lixo, é muito lixo”, diz Anete Braga.

“Você acha que eles separam isso tudo? Claro que não! Claro que não separam. Vai tudo para o lixão comum como sempre vai”, conta Frederico Costa.

“Acho que vai tudo para o mesmo lugar, por mais que a gente separe em casa”, diz Mateus Cabral

Para confirmar o caminho que fazem os materiais recicláveis recolhidos pelo caminhão azul, o RJ2 instalou um rastreador em materiais recicláveis coletados numa Rua do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, e acompanhou o deslocamento do caminhão azul sem que a Comlurb soubesse.

O veículo seguiu direto até a Rua Matapi, no Jacaré, Zona Norte do Rio, onde fica uma das cooperativas de catadores que participam do projeto.

“Tem a roteirização de todos esses caminhões, então todos os caminhões saem para um roteiro determinado e, no final, a gente também tem determinado qual é a cooperativa que eles vão levar através de um sistema de monitoramento de todos os caminhões via satélite.

A quantidade do material reciclável que chega às cooperativas mal dá para garantir a renda dos catadores, dizem os coordenadores das cooperativas.

“O material vem, mas meio vazio. A gente precisa mais rotatividade, mais caminhões dentro da população do Rio de Janeiro para fazer essa coleta seletiva e chegar até mesmo às cooperativas. Falta muita campanha mesmo para fazer essa separação e seleção para que chegue material de fato nas cooperativas”, explica Ana Carla Nistaldo, diretora financeira da cooperativa Coopideal.

Um dos diretores da cooperativa Copam, Luiz Carlos Fernandes, diz que a Comlurb precisa aumentar a frota.

“Acho que a Comlurb precisa aumentar a frota de caminhões porque já tivemos número muito maior de pessoas trabalhando e a gente teve que reduzir devido a quantidade de material que chega. O número de resíduos reduziu bastante”.

“A gente tem que dar nosso jeito para correr atras de material. Falta uma conscientização das pessoas sobre a reciclagem. Muitas pessoas não entendem e acabam jogando o material no rejeito. São muitas bandejas de ovo, que é pet, mas não é reciclável, bandeja de uva, esponja, muita embalagem aluminada por dentro. Nada disso é reciclável e gera uma grande quantidade de rejeito na cooperativa. Fica difícil para a gente que depende desse material”, diz Adilson Farias da Silva, representante da triagem da Copam.

“Aqui somos 22 famílias nesse espaço aqui, que depende desse material para viver. A gente depende que esse material seja separado em casa”, disse Luiz Carlos Fernandes.

A diretora da Coopideal fala sobre os catadores.

“São catadores que vieram do antigo lixão de Gramacho, que hoje estão aqui nessa luta pelejando pra que chegue material na cooperativa, pra que eles possam levar seu sustento pra dentro de casa”.

Sem campanhas públicas de estímulo à reciclagem, os interessados em participar da coleta seletiva têm que procurar informações por conta própria no site da Comlurb, onde há um espaço para saber se a rua onde mora está na rota dos 117 bairros cobertos pelo projeto.

Oficialmente, a Prefeitura do Rio estima que a coleta seletiva garanta a separação de pelo menos 10% dos recicláveis. Mas nem o prefeito acredita nesse número. Eduardo Paes falou sobre isso há menos de um mês. Pela quarta vez prefeito da cidade, Paes ainda não encontrou um caminho para popularizar a coleta seletiva.

“A sensação que a gente tem é de muito mais baixo do que isso. Portanto, acho que a gente tem que querer ousar nisso. Avançar, mas não é aquele padrão, não acho que tenha que ser o padrão. Não vamos conseguir trazer o padrão europeu pra cá. Separação em casa, colaboração da população, a gente vai ter que olhar um pouco para nossa realidade e eventualmente a gente pode disparar esse número”, fala o prefeito do Rio.

O diretor da Comlurb, Thales Malta, afirma que a solução está na educação de base.

“A gente não vê isso no dia a dia, não vê propaganda, não vê de certa forma de que isso vai funcionar e vai gerar resultado positivo para a sociedade pra no dia a dia. Se a gente tiver na base das crianças uma educação voltada para isso e de alguma forma. Atingir pais e mais velhos em ter conssciência de separar resíduo reciclável, isso leva tempo, até haver mudança de cultura. Mas acho que é caminho fundamental. Trabalhei 16 anos da minha vida dentro do lixão e é um sonho que o Rio realmente de fato, com tantas cooperativas que tem município grande, tenha coleta seletiva de verdade. Que tenha caminhões e mais caminhões chegando nas cooperativas, toneladas de materiais recicláveis, dando sustentabilidade a nós catadores”.

A Comlurb disse ao RJ2 que o serviço de coleta seletiva conta com divulgação constante pra população da cidade em feiras livres, praças e pontos de grande movimentação de pessoas, todos os fins de semana. E que além disso, são realizadas campanhas nas redes sociais.

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