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Com cadáveres para estudo em queda, UFG busca alternativas para aulas práticas

Última atualização 23/06/2023 | 16:32

A formação de alunos de curso nas áreas da saúde vêm enfrentando uma dificuldade séria ao longo dos últimos anos. A queda da quantidade de cadáveres para estudo e pesquisa vem obrigando as universidades a aderir a alternativas e reforçar o cuidado com os atuais corpos. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), a oferta ideal seria de 12 novos materiais cadavéricos por ano. Em 2022, dois passaram a integrar o “acervo” e neste ano ainda não houve nenhum.

O problema é enfrentado em todo o mundo por basicamente dois motivos: o uso de tecnologia dificulta a ocorrência de corpos sem identificação e aumento da quantidade de faculdades de medicina. Somente no Brasil, há 388 dessa graduação autorizados pelo Ministério da Educação. A necessidade de cadáveres para aulas de anatomia, no entanto, se estende a toda área de saúde e biológicas por diferentes razões.

“É primordial ao aluno para o reconhecimento fiel das estruturas anatômicas, levando a perceber as inter-relações existentes entre os tecidos biológicos, como diferenciá- los, além de como estes se arranjam no corpo. A dissecação e o estudo topográfico levam ao médico desenvolver habilidades de manuseio do instrumental cirúrgico, como também aprender e reconhecer esse nível de organização”, explica o chefe do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFG, Edson Benetti.

Segundo ele, as aulas não utilizam modelos sintéticos somente para demonstração. A opção se justifica pelo fato de a instituição ainda ter aproximadamente 38 cadáveres não desarticulados. Eles são oriundos de convênios firmados ao longo de duas décadas. Apesar de os alunos terem a oportunidade de verem em detalhes todo o corpo humano, algumas partes estão desgastadas pelo tempo de exposição – mesmo mantido e glicerina – e manuseio por milhares de alunos, sendo 710 novos estudantes de 15 cursos de graduação por ano.

“Quando pensamos que um profissional não teve acesso ao material cadavérico e passou sua disciplina vendo modelos sintéticos, este não irá construir e desenvolver essas habilidades. Será um caminho mais árduo e difícil na sua formação. Ainda, sobre as pesquisas relacionadas à morfologia geral (anatomia, histologia) são a base para outros estudos e pesquisas, pois depende muito das formas de abordagem do corpo humano”, frisa o professor.

Embora o aprendizado in loco seja o ideal, o médico Marcelo Daher acredita que a uso de modelos anatômicos não interfere na formação profissional. O infectologista concluiu a graduação em 1991. Ele estudou anatomia no curso com corpos dos chamados indigentes e lembra que já havia a discussão sobre o risco de falta de póstumos.

“Hoje em dia temos modelos digitais e modelos perfeitos. Não sou cirurgião, mas acho que os modelos atuais substituem bem e dão uma noção. Isso é complementado na prática médica com os estágios. O dilema é o uso de um corpo que já foi uma pessoa e às vezes era ou poderia ter sido comercializado. Antigamente, tinha benefício de pena para preso que doasse o corpo para estudo”, ressalta.

O comércio de cadáveres é proibido legalmente com pena de até oito anos de prisão. A prática é coibida com uma série de precauções. De acordo com Benetti, os corpos entregues à UFG vêm da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP), através de seus órgãos ou repartições como o Instituto Médico Legal (IML) e o Serviço de Verificação de Óbito (SVO). A cessão ocorre após publicação do óbito do cadáver ignorado em jornais locais de grande circulação e fornecimento da documentação pelo IML para a instituição de ensino.

Em seguida, o corpo é fixado e conservado. A dissecação por regiões anatômicas ocorre após seis meses e então as partes são disponibilizadas para o estudo dos universitários. Os restos cadavéricos das peças que se deterioraram pelo uso são recolhidos e armazenados para serem incinerados e/ou sepultados em cemitério municipal na vala comum.

Benetti lembra que a solução envolve não apenas a entrada de mais cadáveres disponíveis para a UFG após uma longa burocracia. “Carecemos de mão de obra especializada e de reagentes químicos envolvidos na preparação e conservação dos póstumos”, ressalta. A doação de órgãos se tornou uma estratégia de universidades estrangeiras para tentar alcançar o mínimo de póstumos para estudo e pesquisa.

A modalidade assusta muitas pessoas, o que resulta em baixa adesão. Há registro de dois casos pós-morte desde 2013 e dois em andamento de pessoas em vida cumprindo os trâmites necessários na UFG. A identidade de nenhuma delas foi revelada. As etapas do processo variam conforme a instituição beneficiada, apesar de se basearem na lei e nas orientações da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA). Elas são basicamente o preenchimento de um Termo de Intenção de Doação, reconhecer a firma da assinatura do doador no cartório e manter uma cópia autenticada em família.

Através da doação de corpos, as instituições de ensino poderão obter a quantidade necessária de corpos para manter a qualidade do ensino da Anatomia e assim formar profissionais melhor qualificados. Além disto, a doação de corpos também permitirá aos médicos desenvolverem novos procedimentos cirúrgicos, cada vez menos agressivos e mais eficientes. Os médicos residentes também poderão aprender e treinar os diversos procedimentos médicos que são fundamentais para as suas especialidades.

Corpos sem identificação

A média de pessoas mortas “não reclamadas” chega a cinco por ano em Goiânia. Todos os 20 corpos enterrados desde 2019 tiveram causas naturais comprovadas pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) da capital. Eles são sepultados no cemitério municipal após um mês de negativas. A certidão de óbito em cartório é emitida logo em seguida a esse prazo. O processo fica em um prontuário para o caso de algum familiar solicitar os dados exatos do local.
O serviço social faz a busca ativa através de ligações para telefones apresentados em casos de internação ou no registro do Cadastro Nacional de Dados do Sistema Único de Saúde (CADSUS). Além disso, os profissionais fazem visitas nos locais onde o falecido residia para coletar informações junto a vizinhos como a existência de familiares. Em caso negativo, os servidores recorrem ao banco estadual.

O Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid) tem informações dos corpos enterrados como não reclamados e ajudam parentes a encontrar familiares em todo o País. Em Goiás, o programa sistematiza e cruza informações provenientes de diversos órgãos sob coordenação do Ministério Público estadual.

Novas matrículas

A demanda será ainda maior a médio e longo prazos com a permissão da pasta para abertura de mais vagas em relação a 2023 para medicina. A medida foi celebradas por entidades representativas como a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) por ser considerada uma forma de proporcionar mais oportunidades de estudo e formação para os jovens brasileiros, fortalecer a educação e contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.

“Essa conquista representa um passo importante na busca pela democratização do acesso à educação de qualidade A ampliação de vagas em Medicina e Direito é um avanço significativo e uma notícia que traz esperança para os estudantes que almejam ingressar nessas áreas. Com essa autorização, o ProUni se fortalece como um programa essencial para a promoção da inclusão e da mobilidade social no Brasil. O futuro começa a ganhar novas perspectivas, e a educação é o caminho para um Brasil melhor”, informou a ABMES.

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