Goiânia está abrindo espaço para um novo ramo: a comédia de stand-up. Na capital, dois grandes estabelecimentos estão funcionando regularmente. No Setor Sul, há o Goiânia Comedy Club. No Setor Nova Suíça, está localizado o Guardians Comedy Club. Com a cena do riso angariando profissionais e espectadores, o Diário do Estado foi atrás de informações sobre alguns responsáveis pelos espetáculos.
O riso como refúgio
Luiz Antônio se apresenta como Luiz Titoin, sobretudo no Goiânia Comedy Club. Aos 30 anos, a sua decisão de se dedicar à comédia não veio de forma abrupta.
“Eu sempre gostei de assistir stand-up, já acompanhava alguns humoristas americanos. Com o Comedy Central, comecei a acompanhar os humoristas brasileiros, mas até então não tinha pensando em me apresentar. Gostava apenas como telespectador”, conta o humorista ao DE.
No início de sua vida profissional, Luiz trabalhava em uma empresa e fazia cursinho para passar em Medicina. Depois de três anos sem conseguir o objetivo, ele começou a ficar depressivo e encontrou o seu refúgio na comédia. Foi aí que veio a decisão: se ele não passasse novamente no vestibular, passaria a se dedicar às piadas.
Foi exatamente o que aconteceu. De acordo com Luiz Titoin, viver unicamente de comédia em Goiânia ainda não é fácil, até porque o gênero é considerado muito novo na cidade. Cinco anos depois de começar suas incursões, Luiz revela que as coisas estão começando a ganhar proporções nacionais. A intenção final é que humoristas goianos não precisem ir para São Paulo a fim de fazer sucesso.
Estrutura da apresentação
A estrutura de uma apresentação de stand-up varia. No caso de Luiz Antônio, ele possui um solo com começo, meio e fim, contando com roteiro. Em apresentação de convidado, fica de 20 a 30 minutos e não tem uma ordem de textos, vai conduzindo de acordo com a plateia. Quanto à elaboração de piadas, a experiência pessoal é essencial.
“Meu trabalho é observar. Tudo que acontece na minha vida eu penso em como posso fazer virar um texto de humor. A fórmula da comédia é ‘tragédia mais tempo’, uma dor que às vezes sofremos e com o tempo superamos, ao ponto de fazer piada daquilo. Minhas ideias vêm de acontecimentos da minha vida, falo muito sobre temas que me envolvem como ser negro, minha religião umbanda, racismo que já sofri, e observações dos acontecimentos do dia a dia”, descreve.
Um sonho de criança
O desafogo não é o único caminho de um comediante. Para Wagner Oliveira, de 23 anos, alegrar uma plateia era um sonho de criança, mas um sonho distante que ele não fazia ideia de como realizar. Depois de ver um amigo se apresentando, ele enxergou uma possibilidade após sentir algumas frustrações na profissão e em relacionamentos.
Nesse ponto, a sua jornada se assemelha à de Luiz Titoin. “A melhor forma de você lidar com um problema é transformá-lo em piada e fazê-lo ficar mais leve”, afirma Wagner. Além disso, ele também compartilha da importância da experiência própria nesta profissão, mas destaca a visão externa em relação a outras pessoas, sendo elas famosas ou não.
“A missão é transformar essa situação em algo engraçado e que a plateia entenda e possa rir disso. É bem diferente de contar uma história engraçada numa mesa para os amigos, pois, quando montamos um texto, existem estruturas de piada e estratégias para que a plateia possa se envolver com o que você está dizendo”, explica.
Atualmente se apresentando no Guardians Comedy Club, Wagner gosta de citar algumas referências goianas em suas piadas, principalmente bairros, pessoas ou manias que as pessoas da capital vão entender. A estratégia é criar uma proximidade com o público, porque, quanto maior a identificação, maior a graça.
Introdução ao stand-up
Para você, que tem interesse em integrar a cena do stand-up em Goiânia, oportunidades não faltam. No Guardians Comedy Club, por exemplo, há uma noite de “open mic” toda quarta-feira. Esses eventos consistem na apresentação de novos comediantes, em um processo de análise de piadas.
“Qualquer pessoa pode se apresentar, desde que fale conosco. A gente analisa o texto, para ver qual o tipo de piada, se não há nenhuma ofensa gratuita”, declara Ramiro Braga, proprietário do local. Desta forma, a comédia pode se solidificar para qualquer um como um refúgio, ou dar vida a um sonho de criança.