Entenda como equipe de Trump calculou tarifas recíprocas
Cálculo não considerou tarifas aplicadas aos EUA pelos países
As tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump sobre
dezenas de países na quarta-feira (2) foram apresentadas como “recíprocas”,
correspondendo ao que outros países cobram dólar por dólar dos EUA, mesmo
levando em conta barreiras não tarifárias, como impostos sobre valor agregado e
outras medidas semelhantes.
Mas o cálculo real usado pelo governo Trump não é nada recíproco.
Comparar as tarifas dos países dólar por dólar é uma tarefa incrivelmente
difícil, que envolve analisar a tabela tarifária de cada país e comparar uma
gama complexa de produtos, cada um com uma taxa diferente para cada variante.
Em vez disso, a administração Trump usou um cálculo bem simples: o déficit
comercial do país dividido por suas exportações para os Estados Unidos dividido
pela metade. É isso.
O analista de Internacional da CNN, Lourival Santanna, havia apresentado ao WW
de quarta a possibilidade. A administração Trump confirmou nesta quinta-feira
(3) que esse foi o cálculo que usou.
Por exemplo, o déficit comercial dos Estados Unidos com a China em 2024 foi de
US$ 295,4 bilhões, e os Estados Unidos importaram US$ 439,9 bilhões em produtos
chineses.
Isso significa que o superávit comercial da China com os Estados Unidos foi de
67% do valor de suas exportações — um valor que o governo Trump rotulou como
“tarifa cobrada dos EUA”.
Mas não é nada disso.
“Embora essas novas medidas tarifárias tenham sido enquadradas como tarifas
‘recíprocas’, a política, na verdade, é de meta de superávit”, observou Mike
O’Rourke, estrategista-chefe de marketing da Jones Trading, em nota aos
investidores na quarta-feira.
“Não parece ter havido nenhuma tarifa usada no cálculo da taxa. A administração
Trump está mirando especificamente nações com grandes superávits comerciais com
os Estados Unidos em relação às suas exportações para os Estados Unidos”, ele
acrescentou.
O cálculo simples usado pelo governo Trump pode ter amplas implicações para os
países dos quais os Estados Unidos dependem para obter produtos — e para as
empresas globais que os fornecem.
“Saber como essas taxas foram calculadas destaca que elas geralmente serão mais
severas nas nações das quais as empresas dos EUA dependem fortemente em sua
cadeia de suprimentos”, disse O’Rourke. “É difícil imaginar como essas tarifas
não causariam estragos nas margens de lucro das principais corporações
multinacionais”.