Na tarde desta quinta-feira, 04, o Diário do Estado conversou com a Dra. Maria Cunha Amorelli, que é especialista em hereditariedade do câncer pelo Hospital Albert Einstein. Atuante como hematologista e hemoterapeuta pelo Instituto Nacional do Câncer, atende atualmente no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia. Perguntada sobre qual a relevância do fator hereditário no surgimento do câncer, a médica conta: “Já se sabe hoje em dia que quase 20% dos cânceres têm uma tendência familiar. E desses vinte, até 10% entram na classificação de Síndrome da Hereditariedade do Câncer, que são mutações genéticas que passam de pais para filhos, e podem envolver toda uma família“.
Nestes casos, seria possível prever o surgimento futuro da doença? “Sim. Nesse ponto a genética veio para ajudar muito. Acredito que a genética vá causar uma mudança definitiva na medicina, em como avaliamos, tratamos e prevenimos os pacientes. Muitas vezes, esses cânceres genéticos… numa só família podem ter casos de câncer na próstata, na mama, de ovário que acredita-se serem isolados, e na verdade podem estar relacionados a um único gene. Quando fazemos uma avaliação genética na família, descobrimos os riscos que você corre com aquela determinada variante (mutação). De acordo com isso, sabemos qual a prevenção devemos fazer”, explica.
Segundo a hematologista, existe hoje na medicina algo chamado “Mapeamento Genético“, onde, a partir de exames genéticos, o médico consegue fazer um mapeamento e descobrir a quais doenças o paciente é propenso. “Existem diversos tipos de painel. Podemos olhar toda a genética, e também os painéis específicos. Nós olhamos as mutações específicas que são relacionadas a cada doença, como por exemplo o câncer. Mas existem também para famílias com doenças cardíacas, em que a gente sabe que várias pessoas tiveram aneurisma, ou infartos…”, exemplifica.
Com a evolução “a passos largos” da medicina genética, como descreveu a Dra. Amorelli, “O primeiro exame de avaliação genética da história custou US$ 1 milhão. Era completamente inacessível. Hoje em dia não… alguns deles são até cobertos pelo convênio em alguns casos de doenças familiares comprovadamente genéticas”, aponta. “O mapeamento é indicado para pessoas que tem mais de três casos de câncer na família, mesmo que sejam em locais diferentes, de dois casos de parentes de primeiro grau ou casos de câncer precoce“, ensina.
Mas, ainda o estilo de vida é o fator número um na prevenção do câncer (e de doenças no geral). “Sem dúvida, sempre será. Mesmo com condição genética, quando nos expomos a fatores carcinogênicos (que podem causar câncer) acelera-se muito essa mutação. Porque a formação de um tumor é um processo multifatorial. Então aquela pessoa que não faz exercício físico, que come enlatados, excesso de sal, de álcool, cigarro. Isso daí são sempre fatores que ajudam a transformar uma célula que antes era saudável em mutação, virando maligna“, alerta a profissional, por fim.
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