Como evitar que filhos se envolvam em crimes virtuais e a quais sinais ficar atento? Veja orientações
Autora de pesquisa sobre violência extrema entre jovens aponta necessidade de
diálogo, incentivar pensamento crítico e atenção a mudanças de comportamento e
temas de interesse.
Especialista dá orientações sobre segurança de jovens nas redes sociais — Foto: Reprodução/JN
Um adolescente, de 15 anos, que utilizava a plataforma Discord para maltratar
animais
[https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2025/04/15/adolescente-de-limeira-e-apreendido-suspeito-de-torturar-e-matar-animais-com-transmissao-de-crimes-pelo-discord.ghtml],
foi apreendido em operação da Polícia Civil, nesta terça-feira (15). O jovem,
que é morador de Limeira (SP), foi encontrado no bairro Guainases, na Zona Leste
de São Paulo (SP).
O caso não é isolado. A frequência de crimes virtuais envolvendo adolescentes
vêm gerando alertas em autoridades, que já monitoram plataformas onde esse tipo
de conteúdo é transmitido
[https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/04/06/infiltrados-no-discord-policiais-se-disfarcam-em-comunidades-digitais-para-combater-crimes-contra-menores.ghtml].
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O DE entrevistou Cléo Garcia, mestre e doutoranda em Educação pela Unicamp e
advogada especialista em Justiça Restaurativa e Direito Educacional, que deu
orientações sobre como evitar o envolvimento de filhos e outros familiares
nestes tipos de crimes e a quais sinais ficar atentos.
Autora de pesquisa sobre violência extrema às escolas no Brasil, ela aponta que
pais devem buscar diálogo, monitoramento com limites, incentivar pensamento
crítico e prestar atenção a mudanças de comportamento e temas de interesse.
Confira, a seguir, as orientações da especialista:
Adolescente de Limeira é apreendido por torturar animais e transmitir na internet
COMO OS PAIS PODEM EVITAR?
Relação de confiança
Conversar, dialogar, abertamente e constantemente com os filhos. Hoje, existem
muitos materiais e especialistas oferecendo informações sobre isso
gratuitamente. Também manter uma relação de confiança com os filhos. Para que
eles se sintam seguros e possam relatar algumas situações que eles entendam que
são suspeitas.
Interagir com a vida digital deles
Uma sugestão é jogar juntos, para que os pais vejam o tipo de jogo que o filho
está acessando. Conversar sobre as tendências, sobre memes, porque grupos
extremistas utilizam memes para cooptar crianças e adolescentes.
Incentivar pensamento crítico
Incentivar também a criança e adolescente para que seja crítico, ou seja,
analise o que está acontecendo. E questione: será que essa pessoa que está
falando comigo é de verdade? Será que esse conteúdo aí eu posso confiar?
A educação midiática também vai ajudar a identificar os discursos de ódio e
linguagens que são disfarçadas de humor, mas que carregam preconceito.
Deixar claro o que pode ou não
Ensinar o que é certo e o que é errado nesse ambiente virtual, que a internet
não é uma terra sem lei, que tudo o que é feito online pode sim ter
consequências legais. E falar sobre os tipos de crimes online, que é o bullying,
extorsão, pedofilia, golpes financeiros, uso de dados de outras pessoas, ameaça,
invasão de contas, ou distribuir fotos sem consentimento.
Falar sobre privacidade e segurança
Falar sobre privacidade e segurança. Ensinar a importância de não compartilhar
os seus dados, seja endereço, qual é a sua escola, qual é o seu telefone e
senhas. E participar da configuração da privacidade das redes sociais. Há
tutoriais que ensinam isso.
Monitorar, mas com respeito
Monitorar o que estão acessando na internet, mas com respeito. Ser
transparentes, explicando porque está fazendo aquilo, estabelecer quais são os
limites de tempo, como se dará o acesso, saber com quem as crianças conversam,
quais sites que elas estão utilizando, os aplicativos.
É possível usar ferramentas hoje de controle parental, que permitem acompanhar o
conteúdo sem invadir a privacidade. Descobrir a senha e acessar conversas
privadas pode causar um dano grande na relação parental.
Mostrar o uso positivo
Mostrar também o uso positivo da internet, que é uma excelente ferramenta para
aprender, para criar, para colaborar, e até mesmo para brincar.
Antivírus e atualizações
Uso de antivírus podem ajudar a evitar algumas práticas ilegais. E manter os
dispositivos sempre atualizados.
Especialista recomenda que pais monitorem temas de postagens de filhos — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
SINAIS AOS QUAIS FICAR ATENTO
Mudanças de comportamento
Os pais podem ficar atentos se há um isolamento repentino, se o jovem está se
afastando da família, dos amigos, demonstra uma irritabilidade ou frequentemente
ele se mostra agressivo. Principalmente quando fala sobre alguns assuntos
específicos como política, religião, gênero e raça. Avaliar se o adolescente
está utilizando uma linguagem mais agressiva ou carregada de preconceito.
Postagens que defendem violência
Verificar se posta comentários que defendem a violência como solução de
conflitos, que demonstra desprezo por certos grupos minorizados em âmbito
social, racial, religioso, ou de gênero. Verificar se existe menção a termos ou
desenho de símbolos ligados a ideologias extremistas.
Temas de interesse
Monitorar se tem um interesse exagerado por temas de guerra, armamentos ou
outras causas violentas. Verificar se acessa sites com memes tóxicos, se está
lendo algum conteúdo com teor conspiracionista, ou racista, ou mesmo misógino.
Uso de símbolos extremistas
Checar se faz uso de símbolos de movimentos extremistas ou de palavras-códigos.
Há algumas siglas que identificam certos grupos. Por exemplo, o número 1488
identifica grupos de ideologias extremistas. Também há os red pill, incels,
entre outros.
Adolescente torturava animais
No caso envolvendo o adolescente de Limeira, segundo a Delegacia de
Investigações Gerais (DIG) de Limeira, ele torturava e matava gato enquanto
fazia transmissões no Discord.
As ações eram acompanhadas por espectadores online, que também solicitavam atos
de tortura por meio do chat, segundo a polícia.
A investigação teve início após o Laboratório de Operações Cibernéticas receber
a notícia de que usuários da plataforma planejavam ataques a escolas por meio da
caixa de conversas do aplicativo, segundo a polícia.
No local das buscas, a polícia também apreendeu dois celulares. As equipes ainda
cumpriram mandado de prisão preventiva contra a mãe do adolescente, por crimes
de furto e tráfico de drogas.
> “A partir de análise de grupos na plataforma Discord, a investigação desvelou
> uma comunidade focada em maus tratos de animais, em que, através de
> transmissão ao vivo, utilizam da tortura e posterior morte de seres sencientes
> para a diversão de expectadores, que também solicitam atos de tortura através
> do chat”, detalhou a polícia.
“Ainda, através de pesquisas em sistemas de investigação e de informações
fornecidas pelo Google, foi possível desvelar um dos envolvidos nas atrocidades
demonstradas contra um gatos, os quais foram torturados e sacrificados de
maneira repugnante”, descreveu.
Prédio da DIG de Limeira, equipe responsável pela operação de apreendeu o
adolescente suspeito — Foto: Polícia Civil de Limeira
O QUE É O DISCORD?
O Discord é uma plataforma de comunicação digital que permite que os usuários
conversem por meio de mensagens de texto, voz e vídeo.
No Brasil, a rede social diz que só permite acesso para adolescentes a partir
dos 13 anos.
O aplicativo é usado principalmente por adolescentes que querem jogar e
conversar ao mesmo tempo, e, inclusive, foi desenvolvido com esse propósito.
Denúncias contra conteúdo criminoso no Discord aumentaram 272% no 1º trimestre
de 2025
PLATAFORMA DIZ TER POLÍTICA DE ‘TOLERÂNCIA ZERO’
Em nota, o Discord afirmou que tem uma política de tolerância zero para
atividades ilegais. “Assim que tomamos conhecimento desse tipo de conteúdo,
agimos imediatamente e aplicamos as medidas cabíveis, que podem incluir o
banimento de usuários e a derrubada de servidores”, comunicou.
A plataforma acrescentou que mantém diálogo constante com o sistema judiciário e
autoridades de segurança e coopera com investigações realizadas.
> “O Discord fez comunicações proativas às autoridades brasileiras, denunciando
> grupos e indivíduos envolvidos nesse tipo de conduta prejudicial e/ou
> comportamentos que apresentavam risco para outras pessoas. Nossas divulgações
> proativas, em alguns casos, ajudaram a impedir crimes antes que ocorressem e
> contribuíram para a prisão de indivíduos mal-intencionados”, destacou.
O Discord ainda informou que continua investindo em novas tecnologias e
iniciativas, como a Assistência à Segurança do Adolescente, para combater seu
uso para atos ilegais.