Conexão entre PCC e máfia italiana: Prisão, delação, portos e rotas em acordo internacional

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Prisão, delação, portos e rotas: os bastidores da conexão entre o PCC e a máfia italiana

A presença do traficante Vincenzo Pasquino em São Paulo e no Paraná e a extradição dele para a Itália desencadeou um acordo para a criação de equipes conjuntas de investigação permanente que miram organizações criminosas nos dois países.

Giovanni Bombardieri, procurador da República da Direção Distrital Antimáfia de Turim, trouxe detalhes da delação de Pasquino e os objetivos da máfia da Calábria na parceria com o DE (leia mais abaixo).

A colaboração premiada do traficante italiano Vincenzo Pasquino trouxe em detalhes as conexões entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a máfia da Calábria ‘Ndranheta, uma das mais poderosas da Europa. Aos promotores italianos, ele revelou detalhes das relações entre a facção e os narcotraficantes italianos, a busca por novas rotas e os interesses no Brasil após uma antiga atuação da máfia calabresa na América do Sul.

A partir desse caso, foi negociado um acordo entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) brasileira com as autoridades italianas para a criação de equipes conjuntas de investigação permanente que têm como alvo a atuação de máfias e organizações criminosas nos dois países.

Em entrevista à GloboNews e ao DE, o procurador distrital antimáfia de Turim Giovanni Bombardieri, que também chefe da divisão antimáfia contra a ‘Ndranheta, trouxe detalhes da delação de Pasquino e os objetivos da máfia da Calábria na parceria com o PCC (leia mais abaixo).

Vincenzo Pasquino tinha posição de liderança entre os mafiosos e foi visto, nas investigações, como o maior intermediário do tráfico de cocaína da América do Sul para os clãs da ‘Ndrangheta. Durante pelo menos quatro anos, ele viveu no Paraná e em São Paulo e, nessa período, também teria contato também com a facção Comando Vermelho (CV).

No jargão do Judiciário italiano, Pasquino agora se tornou um “pentito”, um arrependido. É o equivalente, no Brasil, ao delator que fecha acordo de delação premiada. O mafioso chegou ao Brasil em 2017, quando começou a trabalhar com o envio de drogas para a Itália. Primeiro ele morou no Paraná, por cuja fronteira com países vizinhos entram grandes carregamentos de cocaína. Depois, mudou-se para São Paulo, ponto de saída das drogas para a Europa.

Em maio de 2021, uma operação conjunta entre Polícia Federal, Interpol e polícia italiana prendeu, em um flat em João Pessoa, Vincenzo e Rocco Morabito, um dos traficantes italianos mais procurados na época.

A polícia paulista já vinha investigando o criminoso, que usava imóveis no litoral e na capital de São Paulo.

“O Vicenzo morou no bairro do Tatuapé. Ele tinha um apartamento e também se utilizava de um apartamento no bairro do Morumbi e dois apartamentos no Guarujá. Eram bases que eram utilizadas para encontros com outros narcotraficantes, dentre eles traficantes italianos e até mesmo albaneses”, disse o delegado Fernando Santiago, do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc).

Vicenzo andava acompanhado de dois seguranças albaneses. São eles que, segundo a polícia, aparecem em imagens entrando no elevador de um dos prédios em que o criminoso morava.

Bombardieri afirmou que as conexões da ‘Ndranheta com outras organizações criminosas estrangeiras são antigas. Em 2017, Pasquino viajou ao Brasil para estreitar os laços entre a máfia e o PCC e mudou o perfil de relacionamento para o transporte e envio de armas e drogas para a Europa.

Nesta aproximação, a ‘Ndrangheta manifestou o interesse em rotas e portos seguros para o envio de drogas e armas.

Em 2024, Pasquino decidiu colaborar com as autoridades italianas e firmou uma espécie de delação premiada com a Justiça. Desde então, a Procuradoria-Geral da República (PGR) no Brasil auxilia as autoridades italianas no processo.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve assinar em junho o acordo de cooperação com autoridades italianas para a criação de equipes conjuntas de investigação permanente que têm como alvo a atuação de máfias e organizações criminosas nos dois países.

Uma comitiva de investigadores italianos participaram de um seminário sobre segurança pública, direitos humanos e democracia promovido pelo IREE em São Paulo (SP) nesta quinta-feira (29). Tanto os procuradores estrangeiros quanto os brasileiros reforçaram que o combate às máfias e ao tráfico internacional de drogas não pode funcionar sem a cooperação entre autoridades estrangeiras.

Um estudo feito por uma ONG dedicada ao combate do crime organizado internacional mostra que a facção brasileira desempenha um papel logístico no tráfico internacional ao distribuir a cocaína que é produzida na América do Sul. Segundo a pesquisa, o envio da droga para a Europa tem a participação da Máfia dos Bálcãs. O estudo aponta que o estado de São Paulo, onde nasceu o PCC, está em uma posição considerada estratégica para o tráfico, especialmente por conta do maior porto da América do Sul.

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