Conflito comercial entre Trump e China ameaça exportações de propano dos EUA

Bandeira dos EUA em um porto marítimo na cidade de Qingdao, na província de Shandong, no leste da China • Yu Fangping/Future Publishing/Getty Images

As medidas tarifárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocaram em risco um dos principais produtos de exportação do país na última década: o propano. O combustível, que se tornou essencial para a indústria chinesa de plásticos, agora enfrenta barreiras comerciais que comprometem seu destino no mercado internacional.

Com a escalada da guerra comercial, o propano americano ficou caro demais para as usinas chinesas responsáveis por transformá-lo em propileno — matéria-prima usada na fabricação de itens como carpetes, para-choques de carros, embalagens, garrafas, colchões e até meias. Desde o anúncio das novas tarifas no início do mês, os preços do propano nos EUA caíram cerca de 15%, e as taxas de transporte marítimo por navios-tanque especializados também sofreram forte retração.

O centro do conflito é a imposição de tarifas recíprocas entre as duas maiores economias do mundo. Os Estados Unidos aplicaram uma tarifa de 145% sobre produtos chineses, e a China reagiu com um imposto de 125% sobre mercadorias americanas, incluindo o propano. Essa sobretaxa tornou o combustível norte-americano inviável economicamente para os compradores chineses.

Nos últimos anos, o propano conquistou espaço entre os principais produtos exportados pelos EUA para a China, ao lado da soja e de equipamentos eletrônicos. Em 2023, quase 18% de todo o propano exportado pelos Estados Unidos teve como destino o mercado chinês, ficando atrás apenas do Japão.

Grande parte dessa demanda vem de usinas chinesas de desidrogenação de propano, que transformam o combustível em propileno. Com as novas tarifas, especialistas apontam que o custo de produção aumentou consideravelmente, colocando em risco a operação dessas plantas industriais.

Além disso, existe a preocupação de que as tarifas americanas também impactem a demanda pelos produtos plásticos que a China fabrica a partir do propano dos EUA e posteriormente exporta. Um cenário semelhante ocorreu em 2018, quando, diante de tensões comerciais com Trump, a China interrompeu a compra de propano americano e buscou fornecedores alternativos. Desde então, porém, o número de usinas chinesas especializadas nesse tipo de produção aumentou significativamente.

Apesar disso, a substituição do combustível americano não é tarefa simples. De acordo com Julian Renton, da consultoria East Daley Analytics, os Estados Unidos respondem por 60% do consumo chinês de propano importado. “A China não consegue substituir o propano dos EUA, e os EUA não têm como compensar a perda da demanda chinesa. Esses dois mercados estão profundamente interligados”, afirmou.

O Departamento de Energia dos EUA estima que parte dos cerca de 400 mil barris de propano exportados diariamente para a China deverá ser redirecionada para outros compradores. No entanto, analistas consideram que isso não será suficiente para evitar um acúmulo do produto nos centros de exportação, como o polo de Mont Belvieu, no Texas, nem para impedir uma nova queda nos preços do combustível.

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