Negociações, ameaças e violência: entenda os conflitos envolvendo povos
indígenas no oeste do Paraná
No dia 12 de julho, um jovem Avá-Guarani foi encontrado decapitado, com um
bilhete que trazia ameaças. O crime está sendo investigado. Região registra
conflitos há décadas.
Liderança indígena diz que comunidade terá mais paz com a compra das
terras. — Foto: Arquivo pessoal
O conflito por demarcação de terras no oeste do Paraná, que envolve comunidades
indígenas Avá-Guarani, é histórico e se estende há décadas. Em 2024, pelo menos
cinco ataques foram registrados na região.
No caso mais recente, em 12 de julho, Everton Lopes Rodrigues, de 21 anos, foi
encontrado morto
ao lado de uma carta com ameaças às comunidades indígenas e à Força Nacional de
Segurança Pública. A Polícia Federal (PF) e a Polícia Civil do Paraná (PC-PR)
investigam o crime
Segundo o Ministério Público (MP), o documento afirmava: “[…] nós vamos matar
mais de vocês, iremos invadir as aldeias já existentes, atacaremos os ônibus com
as vossas crianças dentro, queimaremos vivos. Não é uma ameaça vazia, mas, sim,
recheada com ódio.”
As ameaças levaram crianças e adolescentes indígenas a deixarem de frequentar
aulas
por medo de ataques. Diante da situação, o Ministério Público do Paraná (MP-PR)
e o Ministério Público Federal
(MPF)
recomendaram, em 15 de agosto, o reforço da segurança na região por parte de
órgãos federais, estaduais e municipais.
Em março, outro indígena, Marcelo Ortiz, foi encontrado morto e decapitado em
uma estrada rural de Guaíra, no oeste do estado, próximo ao aeroporto da cidade. O corpo estava jogado na vegetação e a cabeça, pendurada em uma estaca feita de galho de mamona. A autoria e a motivação ainda são desconhecidas. A Polícia Federal (PF) e a Polícia Civil do Paraná (PC-PR) investigam o crime.
Já em janeiro, quatro indígenas Avá-Guarani foram baleados
durante um ataque em área de disputa de terras entre Guaíra e Terra Roxa. Entre as vítimas estavam uma criança de 7 anos e um adolescente de 14 anos. Outras duas pessoas, de 25 e 28 anos, sofreram ferimentos graves.
A disputa por terras na região remonta à construção da Usina Hidrelétrica de
Itaipu, entre 1973 e 1982. De acordo com a Comissão Estadual da Verdade do Paraná, a formação do reservatório da usina inundou milhares de hectares e forçou a migração dos povos indígenas.
Além de serem retirados dos locais onde viviam, espaços sagrados, como
cemitérios, as casas de reza e o maior conjunto de cachoeiras do mundo em volume
de água, o Salto de Sete Quedas, ficaram debaixo d’água por conta da construção.
Muitos dos indígenas que viviam nas áreas inundadas foram reassentados em
Guaíra. Tanto indígenas quanto fazendeiros reivindicam a área, já que em
diversos pontos há sobreposição de áreas compradas por agricultores de forma
regular com as áreas que haviam sido destinadas aos indígenas.
Em março de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) homologou um acordo
emergencial para a compra de 3 mil hectares destinados a 31 comunidades Avá-Guarani. A aquisição, no valor de R$ 240 milhões, será custeada pela Itaipu Binacional como forma de reparação histórica pelo impacto causado pela instalação da usina.
As áreas ficam em São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Santa Helena, Terra Roxa e Guaíra, onde vivem cerca de 5,8 mil indígenas.
As primeiras famílias já começaram a ser assentadas em uma área de 220 hectares
em Terra Roxa, adquirida com recursos da Itaipu.
Ao todo, 60 famílias de três comunidades vão ocupar a área conhecida como
Fazenda Brilhante. Duas delas já viviam no local, enquanto a terceira está em
processo de mudança.
Segundo a Itaipu, a medida busca pacificar os conflitos fundiários.
Até o fim de agosto, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) deve avaliar outras 22 áreas indicadas pelas comunidades, com expectativa de adquirir a totalidade dos 3 mil hectares previstos no acordo.