Um divórcio pode afetar minimamente os filhos? A resposta é controversa, mas, para algumas pessoas ela é positiva. Estratégias como um novo tipo de guarda compartilhada promete ajudar as crianças a lidarem melhor com a situação. É o chamado birdnesting ou apenas nesting que significa ninho de pássaro em português.
A modalidade ainda não está prevista na legislação brasileira, porém não é necessário o reconhecimento legal para ser aplicada nos divórcios. Atualmente, o convívio de milhares crianças brasileiras de pais separados se baseia na ida delas ao encontro de um dos genitores, principalmente aos finais de semana, desde 2014, quando se tornou regra.
O presidente da Comissão de Direito das Famílias da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Christiano Melo, explica que o nesting é um modelo inverso ao aplicado no País hoje. Para ele, a maioria da população tende a não saber lidar com esse formato de separação. A modalidade consiste em uma espécie de revezamento entre os pais, já que a criança permanece em uma casa fixa. Na prática, ao contrário de filho, de tempos em tempos, mudar de ‘residência’, são os adultos que passam por esse ‘rodízio’.
“Essa proposta visa manter o lar como referência para a criança. Trabalho há 20 anos nessa área e posso afirmar que a maior parte dos divórcios tem motivação por problemas passionais. Nessa situação, se um sabe que o outro está namorando pode ser que resolva dificultar o divórcio consensual. Pode ser uma proteção emocional para os filhos, mas talvez não seja para os pais”, pontua.
A prática é mais comum em países da Europa, Austrália e Estados Unidos. Os motivos seriam o fato de a população millennial, tida como “cabeça aberta”, corresponderia de 5% a 10% dos casais separados, de acordo com o especialista. No caso das pessoas fora desse perfil, a preferência está na guarda compartilhada.
“A concepção de família aqui no Brasil é diferente. As relações interpessoais no exterior são diferentes. O próprio divórcio para eles é algo mais prático enquanto para nós isso está mais associado a um luto. Não faz sentido adoecer os pais nesse processo”, argumenta Christiano.
No entanto, a falta de maturidade emocional seria apenas um dos entraves para a disseminação desse formato. Os custos dessa mudança frequente para os pais e baixa adesão ao homeoffice dificultariam a troca dos adultos no cuidado dos pequenos, principalmente se os divorciados morarem em cidades diferentes.