Segundo o Center of Diseases Control and Prevention (CDC), a estimativa até o ano passado era de que uma criança a cada 44 nasciam com o espectro autista. No Brasil, vivem cerca de 2 milhões de autistas. Ainda assim, isso não evita que ainda exista preconceito com essa parcela de sociedade. Para acabar com tal discriminação, as palavras-chave são conscientização e inclusão.
O primeiro passo é a conscientização
Tatiana Takeda é advogada, professora universitária, mestre em Direito, presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/GO, autora e coautora de livros, cartilhas e ebooks, e criadora/administradora do “Direito e Inclusão”. Ela tem um filho autista e já passou por muitas situações de discriminação, em restaurantes, festas, escola e parques.
“O jeito diferente de se comportar acaba por despertar a resistência de algumas pessoas, que optam por criticar ou ficar longe”, explica Tatiana ao DE.
Para a advogada, o primeiro passo para acabar com a discriminação contra autistas é a conscientização. Segundo ela, as barreiras atitudinais são obstáculos comuns na vida dessas pessoas e é essencial evitar que isso perpetue no tempo.
Desta forma, torna-se necessário usar leis e normas como ferramenta de conscientização. No entanto, é ainda mais importante explicar para o sociedade em geral os motivos pelos quais essas leis existem, para que assim a conscientização alcance um patamar maior.
“Tudo que parece ser ‘diferente’ causa certa resistência. Parte substancial da sociedade possui dificuldade em aceitar aquilo que não é ‘convencional’. Ou seja, uma sociedade preconceituosa”, declara Tatiana.
Desrespeito com pessoas autistas
No último mês de junho, a influenciadora digital Larissa Rosa, de Anápolis, gravou um vídeo zombando de vagas de estacionamento para autistas. O caso ganhou repercussão e, na semana passada, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) propôs um acordo.
Para não haver denúncia à Justiça, a influenciadora teria de pagar R$ 10 mil em parcelas mensais de R$ 1 mil, com destino a uma associação que atua nos direitos de pessoas com deficiência. Além disso, Larissa precisaria cumprir 360 horas de serviços comunitários a entidades.
“Se realmente há essa previsão, considero que, embora o valor possa parecer tímido como ressarcimento, há de se pesar que esse tempo prestando serviços será importantíssimo para a reflexão da acusada. Ainda mais se for em um local que cuide de pessoas com deficiência. É importante ponderar que o Ministério Público tem muita experiencia em questões análogas”, comenta Tatiana Takeda.
Marcelo Oliveira, diretor do NAIA Autismo e membro da Comissão Municipal da Pessoa com Deficiência, também compartilha da mesma opinião. Em sua visão, o ideal é que Larissa e pessoas que cometem atos parecidos façam trabalhos sociais em locais contendo pessoas autistas, com o intuito de gerar repercussão positiva.
“Todo e qualquer episódio nesse sentido tem que ser utilizado para potencializar a informação. A gente só respeita aquilo que conhecemos. Muito do preconceito que a sociedade tem com os autistas vem da falta de conhecimento da causa e de alguns estereótipos que são propagados pela mídia”, afirma Marcelo.
Para que a discriminação contra autistas acabe, Marcelo acredita que é preciso incluir pessoas com deficiência nas escolas, não só os autistas. Assim, as crianças já vão crescer aprendendo que cada um possui suas próprias particularidades, tornando-se adultos melhores no processo.