O isolamento social provocado pela pandemia fez muita gente repensar a moradia. A correria diária deu ao espaço quase limitado a pernoite em ares de estadia prolongada. Entretanto, a falta de conforto aqueceu a busca por casas ou apartamentos maiores. Contratos foram fechados, prazos firmados, porém, faltaram e ainda faltam funcionários para construir esses sonhos. A solução das empresas de construção civil foi mudar um pouco a rota e investir em capacitação da mão-de-obra.
Diariamente, centenas de vagas na construção civil são divulgadas pelos Sistema Nacional de Emprego (Sine) nos municípios e em diversos outros centros de recrutamento. A falta de qualificação e de experiência costumam ser o principal obstáculo entre o candidato e a tão sonhada vaga. Ruim para o trabalhador e para 90% das empresas do segmento no País que amargam dificuldade para encontrar funcionários de acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC).
Em Goiás, a providência de responsáveis por grandes empreendimentos foi estabelecer parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para formar pessoas para preencher as oportunidades em aberto. Um exemplo é o complexo imobiliário com instalações comerciais e shopping chamado World Trade Center (WTC), uma franquia norte-americana, que deve ser entregue em dezembro do ano que vem.
Para conseguir atender ao cronograma, a Consciente Construtora e Incorporadora criou dois cursos voltados especificamente para as funções que mais faltavam pessoal assim como 85% das demais do setor, conforme aponta pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). O engenheiro civil e coordenador de obras do WTC na capital, Leonardo Menezes, afirma que a estratégia ajudou a resolver parcialmente o déficit.
“Precisávamos de carpinteiros e armadores. Identificamos os talentos entre os ajudantes que já fazem parte da equipe e os capacitamos para se tornarem profissionais nessas áreas com formação teórica na função. Nossa intenção é capacitar também pedreiro, que está na maior frente na obra”, diz.
Mudança de vida
Ronez Borges é um desses profissionais. Ajudante de armador, responsável pela montagem e armação de estruturas de concretos, ele atuou em diversos outros setores antes de chegar até um canteiro de obras. Ele não tinha experiência, mas teve a chance de mudar isso para planejar a realização de sonhos dele e da família. A conclusão do curso para armador nesta semana parece ser um divisor de águas.
“Vou ser efetivado como armador e meu salário vai dobrar. Pretendo financiar uma casa. Está sendo muito bom para mim e para meus amigos que estão no curso. Minha vida vai melhorar bastante. Estou muito feliz porque nunca tive essa oportunidade antes em nenhuma empresa em que trabalhei”, celebra Ronez.
O engenheiro Leonardo destaca que o perfil de trabalhador capacitado internamente pela empresa como Ronez é até melhor comparado ao daquele que tem experiência no mercado. Além disso, ele afirma perceber uma certa fidelização do funcionário com a empresa quando recebe outras propostas de trabalho, embora a troca seja positiva para a construtora e para ele. “No final das contas, todo mundo ganha”, frisa.