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Conversa mostra médico alvo da PF pedindo cartão de vacina em branco

Última atualização 09/05/2023 | 10:36

Uma conversa revelada por Dzirrê de Almeida Gonçalves, enfermeira supostamente envolvida na fraude do cartão de vacinação da mulher de Mauro Cid, mostra o momento em que Farley Vinicius de Alcântara pede um comprovante da imunizante em branco. O médico é alvo da Polícia Federal na investigação contra o ex-funcionário de Jair Bolsonaro. 

 

O pedido foi feito à mulher no dia 25 de novembro de 2021. Na conversa é possível ver o momento em que o médico pede o cartão de vacina em branco, sendo seguido pela resposta da enfermeira que informa que na unidade de saúde em que ela trabalha não teria o que ele pediu. Segundo Dzirrê, após o pedido, Farley não falou mais com ela e nem deu explicações sobre o motivo de ter solicitado o documento em branco. 

 

“Eu não perguntei [para quê ele queria]. Nunca imaginava que fosse para fazer algo ilícito. Quando falei que não tínhamos, ele não falou mais nada”, disse Dzirrê ao G1. 

 

A médica informou ainda que conheceu Farley durante um plantão que havia feito com ele, no hospital municipal de Cabeceiras, no Entorno do Distrito Federal, em maio de 2021. “Fiz uns dois plantões com ele e conheci ele nesses plantões, mas ele era um ótimo profissional e muito reservado, era totalmente fora de suspeitas”, descreveu Dzirrê.

 

Farley foi preso por suposto envolvimento na falsificação do comprovante de vacinação de Gabriela Santiago Cid, esposa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. O médico é sobrinho do sargento do Exército Luís Marcos do Reis, ex-integrante da equipe de Cid, que foi preso na última quarta-feira, 3. 

 

De acordo com a Polícia Federal, além de entregar o cartão falso de vacinação, retirado do comprovante de vacinação de uma enfermeira que teria sido imunizada em Cabeceiras, Farley também entregou outro cartão em branco já que o grupo não teria conseguido cadastrar o cartão anterior no sistema do Rio de Janeiro. 

 

Dzirrê deve o nome citado como responsável pela aplicação da vacina. No entanto, a enfermeira disse que nunca atuou na aplicação de vacinas e que trabalhava em um lugar diferente de Farley, sem conviver no dia-a-dia com o médico. 

 

“Trabalho há quase cinco anos na administração do PSF e isso nunca aconteceu. Tenho uma ética profissional, nunca vou fazer uma coisa dessa. Não tenho nada a ver com isso, meu nome foi usado”, afirmou.

 

Além de Dzirrê, outra enfermeira que supostamente atuou na aplicação de vacinas, Edynez Farias Costa, negou qualquer tipo de envolvimento na fraude e contou que sequer conhecia Farley. 

Suposta fraude em cartões de vacina

 

A operação deflagrada pela Polícia Federal foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na suposta fraude de cartões de vacina. No documento, consta que Farley foi acionado pelo tio, Luis Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid, enquanto trabalhava para a Prefeitura de Cabeceiras, em 2021. 

 

Na ocasião, o médico teria conseguido um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do município onde estaria preenchido dados de Gabriela Cid, com a informação de aplicação de duas doses de vacina contra a Covid-19. 

 

De acordo com a apuração da PF, mensagens trocadas entre os suspeitos mostram que os dados da vacina que constam no cartão com o nome de Gabriela, como data, lote, fabricante e aplicador, foram retirados por Farley de um cartão de vacinação de uma enfermeira que teria sido vacinada na cidade de Cabeceiras. 

 

Ainda de acordo com a PF, os documentos foram enviados no dia 22 de novembro de 2021, em uma mensagem entre Luis Marcos dos Reis e Mauro Cid, com um arquivo digitalizado de um ‘cartão de vacinação’ do Sistema Único de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Governo de Goiás. 

 

O cartão está em nome de Gabriela Santiago Ribeiro Cid e consta registro de aplicação de uma dose no dia 17 de agosto de 2021, no lote FF2591, e outra no dia 9 de novembro de 2021, do lote TG3529. Ambas as doses seriam CoronaVac, produzidas pelo laboratório Biotech. No campo de observação do cartão de vacina, é possível ver a assinatura e o carimbo de Farley. 

 

“Acredito que ele tenha pego o cartão de vacina de uma pessoa que realmente vacinou aqui na cidade, que realmente possa ter vacinado com a gente e ele tenha transcrevido isso para outro cartão, mas não sei o que passou na cabeça”, deduziu Dzirrê.

 

De acordo com o prefeito de Cabeceiras, Everton Francisco, a prefeitura municipal está ouvindo profissionais de saúde em um processo administrativo. O órgão investiga se realmente houve fraude por parte do médico e, se sim, descobrir se ele teve ajuda para cometer os crimes. Entre os profissionais ouvidos estão Dzirrê e outra enfermeira também citada no comprovante de imunização de Gabriela Cid.

 

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