Copa do Mundo de Clubes: futebol precisa se adaptar a “novo normal” do clima,
dizem especialistas
Interrupções nos jogos e impactos na logística devem se repetir nos Estados
Unidos na Copa do Mundo de seleções em 2026; eventos extremos deverão ser mais
frequentes e intensos
Copa do Mundo de Clubes tem jogos paralisados por condições climáticas extremas
As interrupções nos jogos da Copa do Mundo de Clubes 2025 têm evidenciado como grandes eventos esportivos serão cada vez mais impactados por condições adversas de clima e tempo. Entre elas o forte calor, as chuvas intensas e as tempestades de raios, entre outros. Clubes, federações e confederações precisam se adaptar rapidamente a esse cenário, dizem especialistas.
A Copa teve cinco jogos até agora interrompidos por causa do clima. Um deles foi entre Palmeiras e Al Ahly, disputado em Nova Jersey. Os outros quatro foram entre Ulsan e Mamelodi Sundwons, depois entre Pachuca e RB Salzburg, Benfica e Auckland City, e o mais recente entre Boca Juniors e o mesmo Auckland City.
As ameaças de tempestades também afetaram a logística das delegações fora dos estádios. Treinos, entrevistas coletivas e viagens sofreram atraso. O mesmo aconteceu, claro, com jornalistas e membros da Fifa que trabalham no torneio.
— Os eventos extremos vêm aumentando. Temos visto preocupação dos governos, e o esporte precisa ir nesse caminho. Em um dos jogos, um atleta estava quase mergulhando dentro de um tanque de gelo. Outros estavam vendo a partida do vestiário. O que vamos normalizar? Que eles fiquem no vestiário e só saiam em determinado momento? Na Europa os bancos são preparados para o frio. E para o calor? — disse Diego Lima, mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Pernambuco, e que pesquisa a relação entre atividade física e desastres naturais.
Protocolo americano de tempestades paralisa jogos da Copa do Mundo de Clubes
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Isso deve se repetir no ano que vem. Estudo publicado no início deste ano, pela Universidade Queen, de Belfast, na Irlanda do Norte, apontou que quase 90% dos estádios da Copa do Mundo de seleções de 2026 poderão enfrentar níveis perigosos de calor.
Essa é talvez a maior ameaça ao futebol, entre esses eventos mais sérios do clima. Dos 16 estádios que servirão como sedes em 2026, 14 devem enfrentar temperaturas acima dos 28° C durante parte dos jogos.
Na última Eurocopa, em 2024, o jogo entre Alemanha e Dinamarca pelas oitavas de final foi paralisado por 25 minutos, no primeiro tempo, por causa de um temporal com raios e até granizo que atingiu a cidade de Dortmund.
E na edição anterior das Olimpíadas, em Tóquio-2020 (realizada em 2021), a tradicional maratona não foi realizada na capital do Japão, mas sim a 800km de distância, na cidade de Sapporo, por conta das altas temperaturas previstas. Os exemplos de adaptações necessárias vão se acumulando a cada ano, diante de mais mudanças do clima.
— Muitos grandes eventos esportivos, do Aberto da Austrália, passando pela Bundesliga até os Jogos Olímpicos, estão cientes da situação de que precisam se adaptar. Está virando um tópico cada vez maior. Não só sobre adaptação, mas mitigação. A preocupação principal tem que ser a segurança dos espectadores e dos atletas. É muito claro que os eventos extremos climáticos estão cada vez mais frequentes, e os eventos esportivos precisam se adaptar a esse novo normal, em condições de muito calor, com muita chuva e fortes ventos.
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Entre as adaptações mencionadas por especialistas estão: maior flexibilidade no calendário; infraestrutura mais resistente; novas regras e regulamentos que levem o clima adverso em consideração; novos equipamentos, melhores para lidar com calor etc. Até 2050, as mudanças do clima vão provocar 14,5 milhões de mortes e perdas econômicas na ordem de 12,5 trilhões de dólares, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial.