O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (18) elevar a taxa básica de juros para 15% ao ano, maior patamar em quase 20 anos. Havia dúvida no mercado sobre se a diretoria do Banco Central (BC) manteria a Selic inalterada ou optaria por uma pequena elevação. Mais importante que a decisão em si era o conteúdo do comunicado, que traria sinais sobre os rumos da política de juros no Brasil. E os recados foram claríssimos.
O BC continua preocupado com as expectativas de inflação acima da meta de 3%; a economia global, especialmente a imprevisibilidade da política econômica conduzida por Donald Trump nos Estados Unidos, representa um fator de instabilidade para economias emergentes como o Brasil; a resiliência da economia brasileira, com crescimento do PIB em níveis sólidos e mercado de trabalho aquecido, pode pressionar a inflação, sobretudo no setor de serviços. O BC reconhece que os juros estão em um patamar elevado, suficiente para desacelerar a economia.
O BC também entende que é o momento de encerrar o ciclo de alta iniciado em setembro e observar os efeitos na economia. Uma nova elevação só deve ocorrer se o cenário econômico piorar. O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação. O PIB do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, novamente acima das projeções de mercado; a taxa de desemprego foi de 6,6% no trimestre terminado em abril, menor patamar para o período em toda a série histórica do IBGE.
Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado.