Coritiba: Rafael Cammarota, o herói inesquecível do título brasileiro de 1985

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Da macarronada à glória: 40 anos do título brasileiro do Coritiba com a “canonização de São Rafael”

Mãos de Cammarota, na cozinha ou no campo, tiveram papel importante na conquista do Coxa

O herói coxa-branca: Rafael Cammarota relembra título brasileiro de 1985 pelo Coritiba

O herói coxa-branca: Rafael Cammarota relembra título brasileiro de 1985 pelo Coritiba

Quando o Brasil parou para ver a final do Campeonato Brasileiro na noite de 31 de julho e início da madrugada de 1º de agosto de 1985, foi um par de luvas que se ergueu com a taça no Maracanã. Naquele data, há 40 anos, o goleiro Rafael Cammarota se tornou mais que um jogador para o Coritiba: ele se tornou um herói, palavra que, na época, era reservada apenas para grandes feitos.

Sua irreverência e personalidade marcante o transformaram em uma figura inesquecível na história do clube, mesmo tendo passagem marcante pelo rival da cidade. Quarenta anos depois, Rafael Cammarota ainda se emociona ao relembrar a epopeia que corou o Coritiba com o título nacional.

É uma coisa diferente, uma coisa que mexe com a alma. Quem foi, sabe. O Maracanã vem na memória, estádio lotado. Ninguém vai esquecer isso. Precisamos de dois dias para ser campeão brasileiro, de 31 de julho para 1º de agosto. Começamos em um mês e terminamos no outro. Muitos não acreditavam, mas quando eu vim era para ser campeão brasileiro — lembrou Cammarota.

Rafael Cammarota, goleiro campeão brasileiro pelo Coritiba em 1985

A final, disputada em jogo único no Maracanã, tinha o Bangu como mandante, o que significava uma torcida massiva contra o Coritiba. A hostilidade da chegada e a multidão de torcedores, muitos de outros clubes cariocas que se uniram contra o time paranaense, só o motivavam ainda mais. Mas, para Cammarota, isso era o combustível essencial para seu jogo.

Estava do jeito que eu gostava de jogar. Eu não gostava era de casa vazia. A nossa chegada foi hostil. Era o Rio de Janeiro contra nós. O Bangu não tinha toda aquela torcida, ali tinha torcedores de Flamengo, Fluminense, Vasco… Mas eu adorava isso, quando mais cheio era melhor para mim — recordou o ex-goleiro.

A CANONIZAÇÃO DE “SÃO RAFAEL”

Os feitos do “São Rafael”, como a torcida o chamava, ecoam até hoje. Companheiros de time como o ex-zagueiro Heraldo e o ex-lateral Dida não economizam elogios ao goleiro.

— Rafael, para mim, merecia uma estátua aqui no Couto — afirma Heraldo, comparando-o ao ídolo Dirceu Krüger, único que até então tem tal honraria no estádio do Coritiba.

O Rafael foi fantástico o campeonato todo. Se a gente tem que agradecer ao Seu Ênio Andrade e a todos, porque a conquista foi coletiva, mas o Rafael foi um cara merecedor e pouco valorizado nisso — completou Dida.

XEQUE-MATE EM UMA DEFESA

Um dos momentos mais antológicos daquela campanha foi a meta zerada na semifinal contra o Atlético-MG, que já lhe rendera o apelido de “santo”, e principalmente uma defesa sobrenatural no Mineirão. Rafael Cammarota descreve o lance com clareza.

A bola não entrou, não! Essa pergunta que você ia fazer, eu tenho foto. Quem chutou foi o Gomes, nem eu esperava isso. Quando vi, estava em cima de mim, foi para dentro do gol… Eu girei rápido e puxei – mas foi uma coisa rápida. Foi a nossa epopeia… ali foi o xeque-mate — falou o goleiro.

De onde veio aquela agilidade, ninguém sabe ao certo. Mesmo assim, Rafael faz questão de ressaltar o trabalho coletivo.

— Eu acho que foi o time todo, não apenas eu. Nos grandes lances eu apareci bem, pois a gente não podia tomar gol. O Ênio falava: ‘maluco, hoje você não pode sofrer gol’. Eu brincava com ele: ‘só se eu colocar a rede ao contrário’ — destacou Cammarota.

MACARRONADA DA SORTE

Além de suas defesas espetaculares, Rafael Cammarota também se destacava por uma paixão peculiar fora dos gramados: a culinária. Toda sexta-feira, o goleiro assumia o fogão na concentração para preparar uma macarronada com frango para o elenco.

Esse ritual se tornou uma superstição e um momento de união e descontração para o grupo, considerado por muitos como parte fundamental do sucesso do time.

Toda sexta-feira a gente fazia uma bela macarronada com frango, acho que dava sorte para a gente, né? Faz sucesso até hoje. Porque quando eu não fazia, o jogo era duro — explicou Rafael.

A história de Rafael Cammarota é um lembrete de que o futebol é feito de grandes feitos, de personagens únicos e de momentos que transcendem as quatro linhas. Ao final do Brasileirão 1985, ele foi o único jogador do Coritiba a integrar a seleção da competição, conquista individual, mas compartilhada de forma coletiva.

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