Corte de árvores e incinerador em Itaquera geram polêmica: moradores e ambientalistas se revoltam em SP

Corte de 10 mil árvores e incinerador em Itaquera geram polêmica em SP

Moradores e lideranças ambientais criticam mudança no Plano Diretor que abre
brecha para corte de 10 mil árvores e construção de incinerador

São Paulo — O corte de cerca de 10 mil árvores em área remanescente de mata
atlântica e a construção de um incinerador na região de São Mateus, na zona
leste, têm provocado a revolta de moradores, ambientalistas e lideranças
populares contra a Prefeitura de São Paulo. Em audiência pública, realizada nesta terça-feira (26/11), pessoas contrárias ao
projeto repudiaram a falta de discussão a respeito dos impactos da obra.

O projeto de lei 799/2024, enviado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB),
foi aprovado em primeira votação na Câmara e, se confirmado, altera o Plano Diretor para
permitir a ampliação da Central de Tratamento Leste, onde já existe um aterro
sanitário. A segunda votação deverá ocorrer nos próximos dias. Se alterado o
zoneamento, abre-se a possibilidade de fazer no local aquilo que a prefeitura
chama de ecoparque, com o corte das árvores e a construção do incinerador.

As principais críticas se concentram no fato de que o planeta vive uma crise
climática e cortar árvores deveria ser algo impensável em uma cidade como São
Paulo. Mas também foram apresentados outros argumentos contrários ao ecoparque
durante a audiência pública.

Coordenadora da área de resíduos sólidos do Instituto Pólis, Maria Elizabete Grimberg critica a mudança que permite
a criação do ecoparque. “Por que não implantar sistemas de biodigestão para
tratamento e captura de metano para produção de energia renovável?”, questionou.
“Vamos pensar em uma São Paulo do futuro como cidade resíduo zero, que não enterra e não queima.”

O defensor público Paulo Alvarenga também questionou a falta de debate com a
população sobre o tema. “Ao que me parece, não se buscou saber de fato a vontade
do povo, dos moradores da região, que serão os mais impactados pelo projeto,
assim como da população de São Paulo em geral no que diz respeito da contratação
de incineradores de resíduos sólidos urbanos”, afirmou.

Pessoas contrárias ao projeto citaram uma série de medidas que deveriam ser
tomadas pela prefeitura, como a destinação adequada de resíduos e ampliação da
coleta seletiva, no lugar da implementação de incineradores. Também apontaram o
impacto do corte das árvores na drenagem urbana da região.

Durante a audiência pública, representantes da prefeitura afirmaram que as
nascentes do Rio Aricanduva estão sendo protegidas e que as árvores, mesmo as
exóticas, serão substituídas por exemplares nativos (mudas de 1,30 metro).
Também fizeram a defesa do incinerador e apontaram a geração de empregos na
região como algo positivo. São Paulo produz 13 mil toneladas de lixo
diariamente.

Vereador eleito, Nabil Bonduki (PT) tem acompanhado as discussões e participou
da audiência pública nesta terça, apontando que a empresa que fez o estudo de
viabilidade ambiental para a implementação do ecoparque da zona leste é a mesma
que também atuou no projeto do túnel da Vila Mariana, que tem provocado
protestos na zona sul da cidade inclusive pelo fato de promover o corte de mais
de 170 árvores. Questionado posteriormente sobre o projeto de lei, Bonduki refuta o argumento de
que grande parte das árvores são exóticas, como se isso bastasse para cortá-las. Segundo o vereador eleito, a segunda votação deverá ocorrer em meio ao pacote de
fim de ano da Câmara, mas o resultado pode ser diferente da primeira, quando a
sociedade ainda não estava mobilizada em relação ao assunto.

Será realizada mais uma audiência pública sobre o tema na próxima segunda-feira
(2/12).

O QUE DIZ A PREFEITURA

A Prefeitura de São Paulo, por meio da SP Regula, afirma que a ampliação da
Central de Tratamento Leste e a criação do Ecoparque Leste, propostas no Projeto
de Lei Executivo nº 799/2024, “serão um marco para a modernização da gestão de
resíduos sólidos no município”.

“Elas permitirão um aumento do potencial de reciclagem da cidade e uma redução
do envio de resíduos destinados a aterros”, diz, em nota. Segundo a prefeitura, o empreendimento cumpre rigorosamente as exigências
ambientais e foi autorizado pelos órgãos licenciadores, entre eles, a Secretaria
do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), que concedeu Licença Ambiental de Instalação
Prévia. O empreendimento também conta com Termo de Compromisso Ambiental (TCA)
já firmado.

“O projeto de lei segue em debate junto ao Legislativo e pode ser acompanhado
pela população”, afirma.

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Bolsonaro: tentativa de golpe fracassa, presidente cogita fugir do país

Bolsonaro abriu a cova onde mais dia, menos dia será enterrado

Quem o criou que enxugue suas lágrimas

Embora tenha ouvido duas vezes a recusa dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica em apoiar o golpe de Estado para impedir a posse de Lula, o presidente Jair Bolsonaro decidiu novamente fazê-los mudar de ideia. Era sua última esperança.

Foi em 14 de dezembro de 2022, véspera do golpe que fracassou. Desta vez, Bolsonaro delegou a tarefa ao general Paulo Sérgio, ministro da Defesa. Sérgio recebeu o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior no Palácio da Alvorada.

Mostrou-lhes uma nova versão da minuta do golpe, enxugada pelo próprio Bolsonaro, preocupado em dar ares de legalidade ao crime que estava prestes a ser cometido. O ministro ouviu o terceiro não dos dois. E foi por isso que Bolsonaro cancelou o golpe.

Naquela noite, o prédio no final da Asa Sul, em Brasília, onde mora Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, estava cercado pelos militares designados para prendê-lo e depois assassiná-lo, mas ele não estava lá. E Lula viajara a São Paulo.

Não há golpe dentro das quatro linhas da Constituição. Mas para Bolsonaro, golpe dentro das quatro linhas significava golpe com o apoio das Forças Armadas. Como elas racharam no apoio à trama, ele preferiu não se arriscar a ser preso e não assinou a minuta.

Nem por isso, desistiu completamente do golpe. Conversou muito a respeito com seus auxiliares mais próximos e recebeu alertas de pessoas não tão próximas dele para que arquivasse a ideia. Uma dessas pessoas foi o ministro Dias Toffoli, colega de Moraes.

Bolsonaro e Toffoli davam-se bem. Antes de assumir a presidência do tribunal, Toffoli visitou em São Paulo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. À época, Bolsonaro ainda não se elegera presidente da República, mas sua vitória era dada como certa.

Toffoli perguntou a Fernando Henrique como deveria comportar-se caso Bolsonaro de fato se elegesse. Os dois então travaram o seguinte diálogo:

– Você sabe o que é clinche? – perguntou Fernando Henrique

(No boxe, é um lance em que o lutador abraça seu adversário para impedi-lo de desferir golpes.)

– É claro que sei. Já assisti muitas lutas. Eu gosto de boxe – respondeu Toffoli.

– Você vai ter que viver em clinche com Bolsonaro – arrematou Fernando Henrique.

A pedido de Toffoli, o ministro Fábio Faria, das Comunicações, casado com uma das filhas de Silvio Santos, marcou um jantar em sua casa, no Lago Sul de Brasília, no dia 14 de dezembro, onde Bolsonaro era um dos convidados. Os demais convidados:

– Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo;
– o ministro titular da Casa Civil, Ciro Nogueira;
– o procurador-geral da República, Augusto Aras;
– o chefe da Advocacia-Geral da União, Bruno Bianco;
– o almirante Flávio Rocha, da Secretaria de Assuntos Estratégicos;
– e o ministro do Tribunal de Contas da União Jorge Oliveira.

No dia 13, Bolsonaro cancelou o jantar. No dia seguinte haveria o golpe, ainda mantido em segredo. Com os mesmos convidados, o jantar aconteceu no dia 19. E todos ali aconselharam Bolsonaro a reconhecer a eleição de Lula, que já fora proclamada pela justiça.

Por mais de uma vez, Bolsonaro garantiu aos seus interlocutores que não se envolveria em nenhuma aventura ou ato terrorista, segundo contou mais tarde um dos convidados. Após o jantar, Toffoli chamou Bolsonaro para uma conversa a sós.

Bolsonaro ficou em silêncio quando Toffoli lhe perguntou a certa altura da conversa:

– Presidente, o senhor acredita mesmo que se houver um ato de força, os generais deixarão um ex-capitão assumir o poder? A história de 1964 prova que não.

Bolsonaro disse que jamais passaria a faixa presidencial para Lula, e admitiu que temia ser preso, e seus filhos alvos de perseguição. Toffoli sugeriu que ele viajasse para o exterior ainda na condição de presidente. Foi o que Bolsonaro acabou fazendo no dia 30.

Nos Estados Unidos, com certificado falso de vacinação contra a Covid-19 que não precisou apresentar para entrar no país, Bolsonaro acompanhou a tentativa de golpe do 8/1. Ele e os golpistas de dezembro torceram para que fosse bem-sucedida.

Foi mais uma Operação Tabajara.

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