Presidente da CPI dos trotes vê impunidade uma década após denúncias em 7 universidades: ‘Tudo foi arquivado’
Após uma década desde as denúncias de trotes violentos em sete universidades que resultaram na criação de uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo, o presidente da comissão, Adriano Diogo (PT), ainda observa um cenário de impunidade persistente. De acordo com ele, mesmo após a CPI ter levado os casos ao Ministério Público e ter promovido comissões de mediação e modificação de procedimentos, a punição não avançou, resultando no arquivamento de todos os processos.
A CPI dos trotes foi instaurada em 16 de dezembro de 2014 e finalizada em 10 de março do ano seguinte com o intuito de investigar a omissão ou negligência das universidades paulistas diante de violações de direitos humanos contra estudantes. Durante as 35 sessões e mais de 100 depoimentos, foram ouvidas opiniões de professores, especialistas e vítimas que relataram abusos em sete instituições de ensino superior.
Entre as universidades citadas nas denúncias estavam a USP, Unicamp, Unesp, Unifesp, PUCSP, PUC-Campinas e FAI. Os relatos destacavam situações de hostilização, repressão e casos de violência tanto física quanto moral, demonstrando a gravidade e a recorrência dos trotes abusivos dentro do ambiente universitário.
O médico infectologista e ex-aluno da Unicamp, André Citroni Palma, que foi vítima de violência durante trotes universitários, ressalta a cultura enraizada que permeia essas práticas dentro das universidades. Ele destaca a importância da CPI em ampliar o debate sobre o problema e conscientizar a sociedade sobre as violações de direitos que ocorrem nos campi.
O professor Antônio Almeida, da Esalq/USP, também enfatiza a relevância da CPI na denúncia de práticas abusivas e na luta contra os trotes violentos. Mesmo diante da impunidade que persiste, ele destaca que o relatório com mais de 3 mil páginas da comissão é um documento fundamental para a conscientização e combate a essas práticas no Brasil.
Diante das denúncias envolvendo abusos e violações de direitos, o Ministério Público de São Paulo informou que há um inquérito civil em andamento para investigar os fatos, enquanto as universidades citadas se posicionaram repudiando as práticas violentas e enfatizando medidas internas para coibir os trotes abusivos. A despeito da impunidade ainda presente, a CPI dos trotes foi um marco na denúncia e na conscientização sobre a gravidade desses atos dentro das universidades brasileiras.