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Cresce número de mortes de mulheres vítimas de violência doméstica em Goiás

Última atualização 09/05/2022 | 14:07

Casos de mulheres mortas em decorrência de violência doméstica aumentaram 22% em Goiás, no comparativo de 2020 e 2021 realizado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). No ano passado, foram registradas 54 vítimas, enquanto em 2020, foram 44 ocorrências.

De forma geral, os índices de violência doméstica no estado também aumentaram, contabilizando 37.583 casos apenas em 2021. De acordo com a delegada, Cybelle Tristão, que atua na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Aparecida de Goiânia, a elevação destes números pode estar atribuída ao machismo estrutural.

“Nós podemos atribuir este aumento ao fato das mulheres estarem realmente dizendo não e reagindo a essa violência. E o homem não está acostumado a ouvir não. Nós estamos em uma sociedade machista, esse machismo ainda, infelizmente, está enraizado na nossa convivência, no dia a dia”, relatou a delegada.

Ainda de acordo com ela, a falta de políticas públicas, voltada para o acolhimento dessas mulheres, também é um fator que contribuiu para o aumento da violência doméstica.

“A falta de políticas públicas relacionadas à mulher, acaba interferindo também nesta questão de aumento na violência. Nós precisamos de investimento nesta área. Precisamos dar às mulheres realmente condições para que elas possam se sustentar, sobreviver sem a dependência deste relacionamento. Para que ela possa se livrar deste relacionamento abusivo, destrutivo, que pode levar ao feminicído”, reforçou Cybelle.

Pandemia

Conforme a delegada, apesar do período crítico da pandemia ter levado ao um ‘boom’ de aumento de casos de violências contra mulheres, adolescentes e idosos, ela não deve ser a culpada pelo aumento da violência.

“A pandemia escancarou algo que já vinha acontecendo.E que talvez o estado não divulgava. Com a pandemia, nós não podemos dizer que quem não era violento se tornou violento. A pandemia é um fator acelerador da violência”, explicou Cybelle.

Portanto, conforme a delegada, o “fim” da pandemia não deve diminuir a violência, “porque a causa da violência não é a pandemia.

Mesmo com o tema em alta nos últimos dois anos, as mulheres ainda só procuram a delegacia quando a violência tomou grandes proporções. Ainda de acordo com a delegada, nem todas percebem os sinais da violência ou que estão vivendo em um relacionamento abusivo.

“A violência dá sinais, às vezes até sutis, mas é uma violência. Quando aquele relacionamento é abusivo, um ciúme excessivo, proibição da liberdade de ir e vir, proibição de ter contato com pessoas, amigos, família, usar determinado tipo de roupa, e a mulher só deixar para procurar a delegacia quando os atos de violência já aconteceram de maneira reiterada”, afirma a delegada.

Em relação a A Lei Maria da Pena, Cybelle ressalta que é uma das melhores leis do mundo, em relação à proteção das mulheres. Mas ainda é necessário atitudes governamentais e políticas públicas para transformar de fato “essa lei em efetiva, real, uma lei eficaz, que traga resultados para as nossas mulheres”.