Cristina Lopes (PSDB), conhecida como Doutora Cristina, foi a segunda vereadora mais bem votada nas eleições de 2016. Seu primeiro mandato foi em 2012, onde se destacou na oposição da Casa e na proteção a minorias e pessoas com deficiência. Ao Diário do Estado, a parlamentar contou sobre sua trajetória política, suas impressões sobre a nova legislatura e sobre o mandato do prefeito Iris Rezende (PMDB), além de analisar as questões sociais da cidade e do país.
Rafael Tomazeti
Ricardo Castro
Sara Queiroz
Diário do Estado – Como iniciou sua trajetória política?
Cristina Lopes – Eu nunca fui filiada a partido algum. Fui do Movimento Estudantil, fui da UNE, de DCE. Vi o PT nascer dentro das universidades, vi a redemocratização. Eu tinha muitas ponderações em relação a como os partidos se organizavam desde os Anos de Chumbo. Hoje, com essa ampliação partidária, virou um verdadeiro balcão de negócios. Em 2008, no entanto, a Denise Carvalho me convidou para me filiar ao PV e aceitei como um apoio a ela e também por acreditar naquilo que o partido tinha como princípio.
Diário do Estado – Quando se candidatou pela primeira vez?
Cristina Lopes – Eu fui candidata pela primeira vez em 2008, pelo PV. Fiz quase três mil votos. Não fui eleita por causa de legenda. Então, tomei a decisão de ser candidata, ser eleita e trabalhar. Eu me organizei com meus companheiros de chapa e, quando as eleições de 2012 se aproximaram, eu queria a posição do partido. Para minha infelicidade, o presidente do partido me disse que ainda não estava definido. A decisão era executiva e nós poderíamos opinar, mas não votar. Eu disse a ele que seria candidata e seria eleita. O presidente então falou que eu poderia me desfiliar. Aquilo para mim foi um choque, achei um absurdo.
Diário do Estado – Por que se filiou ao PSDB?
Cristina Lopes – Comecei a entender que, ou você está em um partido grande, ou vai ser dono de um partido pequeno. Eu tinha três opções: PT, PMDB e PSDB. A minha afinidade era maior com o PSDB e eu tinha uma relação muito próximo com a Valéria Perillo, por conta do trabalho com queimados. Ela soube da minha desfiliação do PV e me fez o convite para ir para o PSDB, onde fui candidata.
Diário do Estado – Como a senhora analisa a onda de violência doméstica que ocorre no Brasil nestes últimos anos?
Cristina Lopes – O Legislativo brasileiro é muito hipócrita. Ainda tem aquela coisa do conservadorismo, do patriarcado. O Estatuto da Criança, assim como o do Idoso, é muito recente. A Lei Maria da Penha completou 10 anos há pouco. É muito recente que o Brasil criminaliza a violência que acontece dentro de casa. Tem coisas bárbaras contra a mulher, o idoso, a criança. Nós precisamos refletir e nos conscientizar. Tem que haver um compromisso de tudo para que não se reproduza a cultura do preconceito, do machismo, da violência. O que me importa a cor ou a sexualidade da pessoa? O que é importante é a conduta da pessoa. Estamos vivendo em um momento que a intolerância impera na sociedade. Há uma necessidade de reflexão e as mulheres precisam participar desse processo.
Diário do Estado – Como surgiu essa onda de violência nas cidades?
Cristina Lopes – A violência urbana está nascendo dentro de casa, servida na mesa e aí a pessoa externa. Aí, o poder público tem muita responsabilidade. Se você andar em Goiânia, não tem um programa de esportes, de lazer ou de cultura. A única coisa que os jovens estão achando na rua, é crack, músicas que transmitem valores muito frágeis, uma cultura que quer uma ascensão muita rápida. O poder público está se omitindo. As religiões estão assumindo uma função de acolhimento de idosos, deficiente e dependentes químicos, que é do poder público.
Diário do Estado – Em relação à política. Como está a divisão entre base aliada e oposição na Câmara Municipal?
Cristina Lopes – Na primeira sessão, tivemos uma amostra clara de que havia um direcionamento para o candidato apoiado pelo Executivo (Andrey Azeredo). Tivemos uma reunião fechada de um grupo que não o apoiava e eu sugeri que criássemos um bloco de oposição. Alguns vereadores disseram que não votariam no Andrey Azeredo (PMDB), mas também não fariam oposição ao Executivo. Alguns ficaram receosos, mas o Elias Vaz (PSB) sugeriu que formalizássemos a oposição. O bloco, composto por nove vereadores, nos deu suporte para ter duas vagas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Diferente de todas as outras, essa mesa diretora nos deu apenas dois lugares em cada comissão e quatro presidências dos colegiados. Normalmente eram seis presidências e três assentos em cada comissão.
Diário do Estado – Como à senhora avalia o início do mandato de Iris Rezende?
Cristina Lopes – Acreditei sinceramente que ele (Iris Rezende) faria um governo absolutamente técnico e pró-ativo. Ele já foi prefeito dessa cidade, governador do estado e ministro da Federação. Eu acreditei que ele iria querer fazer o melhor governo da vida dele. Talvez ele queira, mas com essa composição política já não é mais possível. É muito difícil estabelecer um norte para a melhora da cidade sem um critério técnico.
Diário do Estado – Para a senhora, como foram feitas as escolhas para a equipe de governo?
Cristina Lopes – Foi feito um tabuleiro de xadrez, acredito que com visão para 2018. Muita gente acha e afirma que ele será candidato (ao governo estadual). Ele é um eterno candidato e esse será o primeiro ano que ele não terá o Marconi na disputa.
Diário do Estado – Quais projetos de sua autoria na última legislatura ou nessa você destacaria?
Cristina Lopes – Um dos meus projetos prevê uma composição da Mesa Diretora que tenha, necessariamente, mulheres. Neste ano, temos a vereadora Leia Klebia (PSC) compondo a Mesa. Também está tramitando o projeto para que os indicados para ocupar cargos tenham qualificação técnica para assumir. Esses projetos estão tramitando. Eu também tinha um projeto de cotas, que não foi aprovado, para pessoas com deficiência. As cotas estão sendo muito discutidas. Nossa intenção é ampliar o debate, pois esse é o caminho.
Diário do Estado – Qual seria a principal contribuição de uma maior participação feminina na política?
Cristina Lopes – Homens e mulheres têm diferenças e isso é positivo. Eu acho que essa diferença é que produz o equilíbrio. As concepções são diferentes e isso é bonito. Essas duas forças que se completam são necessárias em todas as áreas, inclusive a política. Isso promove a evolução. Quando tenho uma decisão eminentemente masculina ou eminentemente feminina, ela não ficará completa. Você precisa da interação dessas forças. Essa contribuição fará o país progredir.
Diário do Estado – Por que a senhora não assinou o projeto para reduzir as férias parlamentares para 30 dias?
Cristina Lopes – Eu questiono é a legalidade do projeto. Não pode vir com esse viés populista. Nós (parlamentares) não somos submetidos à CLT. Obedecemos a Constituição Federal, que determina que são 30 dias de férias e 15 dias de recesso no fim do ano. Foi o que eu sempre defendi juntou ao autor do projeto (Paulo Magalhães (PT)). Isso foi feito na legislatura passada. Depois, veio com esse projeto de 30 dias com um cunho absolutamente populista. Temos que começar a desmistificar, clarear esses projetos populistas. Se a Procuradoria da Casa identificar o projeto como legal, certamente ele terá minha assinatura.
Diário do Estado – O que a credenciou para ser a segunda vereadora mais votada?
Cristina Lopes – Foi resultado do meu trabalho. As pessoas que freqüentam a Câmara passaram a me conhecer. Tive uma ocupação muito grande nos órgãos de imprensa. O IPTU foi muito marcante para a reeleição. Mas, especialmente,as pessoas me veem como uma pessoa franca, clara. Ser acessível à população também é muito importante”