Em meio a polêmicas familiares e disputas judiciais, veio a público detalhes do testamento de Olavo de Carvalho (1947-2022), escritor, astrólogo e influente figura entre conservadores brasileiros. O documento, firmado em 5 de fevereiro de 2018 na Virgínia, Estados Unidos, tem de casas nos Estados Unidos a exclusão de sua filha Heloísa de Carvalho, conforme revelou o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo.
Olavo, que residia em North Dinwiddie, Virgínia, declarou estar em pleno uso de suas faculdades mentais ao estabelecer seu último testamento. Sua viúva, Roxane de Carvalho, com quem manteve união estável por quase duas décadas, ficou com os direitos sobre duas residências nos EUA (nas cidades de Petersburg e Noth Dinwiddie, ambas no estado da Virginia) e 30% dos direitos autorais de suas obras.
Seus filhos Leilah e Pedro Luiz de Carvalho, frutos da união com Roxane, receberam fatias maiores do que os demais irmãos, garantindo 20% dos direitos autorais cada um. Os demais filhos, Maria Inês, Luiz, Davi, Tales, e Percival, juntamente com seu irmão Luiz Paulo de Carvalho, foram contemplados com percentuais menores das receitas intelectuais de Olavo, variando de 0,3% a 0,5%.
Deserdada
Heloísa de Carvalho, afastada do pai desde 2017 devido a divergências políticas e pessoais, foi a única filha excluída do testamento. Conhecida por seu posicionamento contrário ao do pai e sua filiação ao Partido dos Trabalhadores (PT), Heloísa tentou abrir o inventário do pai na Justiça brasileira, buscando transparência nas finanças do filósofo.
Em fevereiro de 2024, Roxane apresentou o testamento válido e solicitou o encerramento do processo de inventário no Brasil devido à ausência de bens no país.
A relação entre Olavo e Heloísa foi marcada por conflitos e ações judiciais. Em 2017, Olavo acusou a filha de integrar uma organização criminosa, e Heloísa, em suas publicações, criticou duramente o pai. Após a morte de Olavo, Heloísa divulgou que ele faleceu em decorrência da COVID-19, doença que o filósofo minimizava.
Conflitos
Heloísa ganhou notoriedade e rompeu com o pai após publicar a “Carta aberta a um pai” e, mais tarde, o livro “Meu pai, o guru do presidente: a face ainda oculta de Olavo de Carvalho”. Nessas obras, ela descreve a infância dela e dos irmãos, marcada pela ausência paterna.
Ela acusava Olavo de não a ter matriculado na escola. Segundo Heloísa, ele fez a família morar nos fundos da Escola Júpiter, onde dava cursos de astrologia, enquanto mantinha a casa da frente para sua nova esposa. Heloísa expressou ressentimento pelo abandono intelectual, pois foi alfabetizada pelo Mobral, um antigo programa governamental de alfabetização de adultos.
“Acordar cedo nunca foi parte da vida do meu pai. Às vezes, chegávamos atrasados à missa porque ele perdia a hora. Hoje, ele se diz católico desde criança, mas foi muçulmano e levou todos os quatro filhos, minha mãe e suas esposas na época para o islamismo. Chegou a ter três esposas muçulmanas ao mesmo tempo”, revelou em entrevista à Época, em 2019.
Segundo Heloísa, Olavo mudou-se para os EUA para ter “condições de atacar as pessoas” sem ser processado ou atingido.
A relação entre ambos foi tumultuada, com trocas de acusações e ações judiciais. Em 2017, Olavo acusou Heloísa de fazer parte de uma organização criminosa apoiada por partidos de esquerda para destruir sua reputação. O caso foi arquivado. Olavo também processou a filha por calúnia e difamação após a publicação da carta, mas chegaram a um acordo judicial: ela deletou sua conta no Facebook e ele encerrou o litígio.
Em 2023, Heloísa se desfiliou do PT. Filiada desde 2021, ela afirmou ter sido agredida fisicamente pela secretária de comunicação do partido, Adriana Carvalho, em Atibaia, interior de São Paulo. Heloísa também relatou que o presidente do partido na cidade, William Vieira, presenciou a cena, mas apenas “saiu rindo”.
Após a morte do pai, Heloísa divulgou que Olavo faleceu em decorrência da COVID-19, doença cuja gravidade ele negava. “Que Deus perdoe ele de todas as maldades que cometeu”, escreveu ao compartilhar a nota de falecimento do pai.
Na mesma ocasião, Heloísa comentou sobre as pessoas que celebravam a morte de Olavo: “Comemorar a morte de qualquer pessoa é assinar o atestado de total falta de humanidade. Deus está vendo e eu também”, concluiu.