Sinalizadores no The Town: fãs exaltam experiência, mas uso é proibido e cheio de riscos
Debate reacende polêmica antiga que vai do futebol aos festivais de rock e trap. Afinal, uso dos artefatos luminosos são tradição cultural ou ameaça à segurança?
Público acende sinalizadores em show de Travis Scott
O uso de sinalizadores em shows voltou a ser debatido depois do primeiro fim de semana do The Town, em São Paulo. As imagens de luzes coloridas e fumaça no meio do público do festival chamaram atenção e dividiram opiniões: para alguns, é um elemento que torna inesquecível a experiência da plateia; para outros, trata-se de uma prática perigosa. O uso é proibido e o festival disse que tenta conter a entrada dos artefatos.
A discussão não é nova. Desde episódios no futebol até cenas em shows de bandas como o System of a Down, o uso desses artefatos gera controvérsia. De um lado, há quem defenda o aspecto visual e emocional. Do outro, prevalece a preocupação com segurança. Afinal se trata de um dispositivo pirotécnico, que pode causar queimaduras, intoxicação e até mortes.
Cinco argumentos a favor dos sinalizadores em shows
– Criam impacto visual que amplia a experiência coletiva e estética.
– Funcionam como símbolo de união e pertencimento entre os fãs.
– Reforçam a atmosfera de catarse típica de festivais e grandes shows.
– São vistos como tradição em algumas plateias, especialmente de rock.
– Trazem um componente de espontaneidade, em contraste com eventos cada vez mais controlados. Seria a diferença de um jogo em uma arena sem alma e em um estádio “raiz”.
Cinco argumentos contra sinalizadores em shows
– Apresentam alto risco de queimaduras e acidentes graves.
– Podem causar incêndios em locais com estrutura temporária de palco.
– Produzem fumaça tóxica, que afeta a respiração de quem está por perto.
– O manuseio irregular pode transformar o artefato em arma letal.
– São proibidos por lei em eventos esportivos e musicais, com risco de punições. Por conta do uso em multidões, colocam em risco pessoas que não estão usando.
Na edição deste ano do festival criado pelos organizadores do Rock in Rio, o uso de sinalizadores foi mais impressionante no primeiro dia, quase todo dedicado ao trap (estilo de rap mais festejado pelos jovens hoje).
Os “foguinhos” no meio da plateia mostraram as transformações no comportamento do público mais jovem em grandes festivais. Travis Scott, rapper americano que fechou o sábado (6), conseguiu convencer parte da plateia a desligar os celulares. Esses fãs levantaram as mãos para cima, entraram em grandes rodinhas pulantes e botaram para cima sinalizadores, com fumaça colorida.
O QUE DIZ A ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL?
A organização do The Town afirmou, por meio de nota, que “a segurança do festival está atenta ao uso de sinalizadores nos shows e retira do evento quem estiver portando ou utilizando o dispositivo, que não é permitido na Cidade da Música”. O comunicado ainda destacou a presença de dois mil profissionais de segurança, drones e 95 câmeras, além da importância de evitar riscos para que todos possam ter uma experiência segura.
O QUE DIZEM FÃS QUE USAM SINALIZADORES?
Quando questionados sobre os perigos, fãs costumam responder que a prática é parte da cultura dos shows de trap e não deveria ser criminalizada. Muitos argumentam que é um jeito de mostrar a emoção do momento e afirmam que ninguém se machuca quando é feito com cuidado. Outros dizem ainda que é hipocrisia liberar fogos oficiais no palco e proibir na plateia. Contam ainda que o problema não é o sinalizador, mas a falta de educação de quem usa errado.
FÃS DO SYSTEM OF A DOWN SÃO PIONEIROS?
Os relatos de shows do System of a Down no Brasil ajudam a entender como os sinalizadores se tornaram um símbolo de intensidade entre plateias de rock, antes de serem adotados definitivamente por quem curte trap. Desde os anos 2000, cenas com fumaça e fogos caseiros aparecem nas apresentações da banda. Em 2015, no Rock in Rio, a performance teve até um “replay” de músicas, sob protestos e euforia com sinalizadores. Não é exagero afirmar que os fãs do grupo foram dos primeiros a associar o dispositivo a uma experiência coletiva marcante nos festivais.
E O USO DE SINALIZADORES NO FUTEBOL?
O debate nos shows lembra a trajetória no futebol. O Estatuto do Torcedor, de 2003, proibiu artefatos pirotécnicos nos estádios. A regra se endureceu após tragédias como a da Libertadores de 2013, quando o adolescente boliviano Kevin Espada morreu atingido por um rojão náutico. Casos na Europa, como os dos goleiros Dida e Luca Bucci, atingidos em campo em 2005, reforçaram a dimensão internacional do problema. Ao mesmo tempo, muitos torcedores criticam a proibição total, associando-a à elitização das arenas.
QUAIS SÃO OS DIFERENTES TIPOS DE SINALIZADORES?
Os sinalizadores variam em formato e função:
– os manuais, que emitem fachos de luz intensa;
– os aéreos, conhecidos como rojões, que explodem no alto;
– os fumígenos, que liberam nuvens coloridas;
– e os sonoros, usados em situações de alerta.
Originalmente criados para comunicação marítima e militar, esses artefatos foram adaptados para contextos festivos. Mas o risco permanece: todos operam em temperaturas elevadas, capazes de causar queimaduras graves e intoxicação pela fumaça.