Era noite de terça-feira, quando oito policiais militares invadiram a casa de Denizar de Oliveira (33), coordenador do Movimento Nacional da População de Rua e o espancaram. Denizar estava dormindo quando, teve o sossego, o celular, documentos e dinheiro levados pelos homens fardados. “Acho que ele era um dos comandantes do momento”, relata Denizar em uma entrevista emocionante dada por telefone ao Diário do Estado.
“Não era ele, devíamos ter matado”, foi o que um dos policias disseram, quando acenderam a luz. Carregado de desespero e marcas da violência cometida por quem devia proteger a sociedade, Denizar reconheceu um dos militares.
Por medo, Denizar deixou sua casa e sua família. “Estou em pânico! Não consigo dormir, não consigo comer. Estou sofrendo muito em estar longe da minha família. Perdi o chão depois que aconteceu isso. Eles me agrediram dentro da minha casa, sem nenhum motivo. Está muito difícil de superar”, relata Denizar.
Ex-morador de rua, Denizar nunca imaginou que um teto não iria te trazer segurança. A sua casa não é mais o seu lar:
“Eu fui muito agredido na rua, mas não esperava que depois que saísse da rua chegasse acontecer isso comigo. A gente não espera que um dia você vai estar dentro da sua casa, andando pelo certo e a polícia vai invadir sua casa e te bater. Te agredir e chegar no ponto a quase te matar”, desabafa o coordenador do MNPR.
“Não vou desistir nunca!”
Ativista de movimentos sociais Denizar encontrou na revolta mais um motivo para lutar por direitos. “Não vou desistir nunca! Quero garantir meus direitos” destaca ele. “Cobrar justiça e uma resposta do Estado. Eu não sou o primeiro e nem o último à passar por isso. Vai acontecer com várias pessoas. Enquanto o governo do estado não tomar uma posição sobre isso, vamos continuar reivindicado”.
Além das marcas físicas e emocionais a atitude covarde, também deixou indignação. Denizar relembra que durante todo esse ano, inúmeras denúncias foram feitas contra as ações truculentas da polícia. “Não é só eu, são várias pessoas que no decorrer desse ano sofreram agressão por pela polícia, denunciaram e, mesmo assim, o governo se calou. A Secretaria de Segurança Pública se calou, não obtivemos resposta sobre essas agressões […] Os direitos das pessoas são violados e não tem justiça. O que aconteceu comigo hoje, pode acontecer com outro amanhã”.
Denizar finaliza a entrevista com um desabafo, acompanhado de choro:
“Hoje eu estava agradecendo à Deus por ele ter me dado mais um dia de vida. É ruim demais. Pensei que eu ia morrer”, lamenta em lágrimas.
Comitê dos direitos humanos pede respostas
Em nota, o Comitê dos Direitos Humanos afirmou que: configurada pela ausência de mandado judicial, invasão de domicílio e agressão física, exigimos que sejam adotadas todas as providências cabíveis para garantir a apuração de todos os fatos, a identificação e punição dos culpados”.
Ainda de acordo com o comitê, encaminhou-se um ofício para a Promotora de Justiça Tamara Andreia Botovchenco Rivera, Coordenadora da Área de Atuação em Políticas Públicas e Direitos Humanos do Ministério Público de Goiás, pedindo que ela acompanhe o caso. O Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de Goiás também está atuando.
“O Comitê Goiano também acionou o Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos e juntos irão fazer um informe à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre esse caso”, informou Pedro Wilson, integrante da coordenação executiva do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino:
“Estamos acompanhando juridicamente o caso e articulando uma ampla rede de solidariedade e proteção ao defensor e sua família”, completa Pedro Wilson.
Procuramos a assessoria de imprensa da Polícia Militar, mas até o fechamento desta matéria, não obtivemos respostas.