Delegado diz que drone mostrou cerca de 70 homens com fuzis na porta da casa de
Doca no início de megaoperação
Depoimentos de policiais apontam também que cerca de 10% dos fuzis dos complexos
da Penha e do Alemão foram apreendidos, e que operação foi adiada ‘algumas
vezes’.
O Ministério Público do Rio de Janeiro enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF)
depoimentos de policiais que participaram da operação do dia 28 de outubro nos
Complexos do Alemão e da Penha, que terminou com 121 mortos — 4 deles,
policiais.
Entre os relatos, chama atenção a descrição do delegado Moyses Santana Gomes
sobre o monitoramento da casa de Edgar Alves de Andrade, o Doca
[https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/11/02/doca-lider-do-comando-vermelho-e-alvo-principal-de-megaoperacao-escapa-e-comanda-tropa-do-urso-com-taticas-de-guerrilha-no-rio.ghtml],
apontado como chefe do Comando Vermelho.
Segundo o delegado da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, imagens de drone
mostraram mais de 70 homens armados com fuzis concentrados na porta da casa do
traficante na véspera da ação. As imagens não foram divulgadas.
“Doca é um traficante de enfrentamento, de confrontar as forças policiais.
Então, a gente estava preparado para encontrar uma resistência muito grande e
sabia que teríamos dificuldades, e foi o que acabou de fato acontecendo. Até o
início das incursões das forças policiais, nós já estávamos com monitoramento
aéreo, então, nós sabíamos que havia um grupo grande de traficantes que estava
posicionado, no início da operação, em frente à casa do Doca”, disse o delegado.
Doca conseguiu escapar da megaoperação e está foragido.
ARMAS: APREENSÃO DE 10% DO ARSENAL
Tipos de fuzis apreendidos em operação no RJ contra o Comando Vermelho — Foto:
Foto: Leslie Leitão/TV Globo e Arte: g1
Outro documento anexado ao relatório, produzido pela Coordenadoria de Segurança
e Inteligência do MP no dia 29 de outubro, chama atenção para o número de armas
apreendidas na operação — 91 fuzis.
A inteligência da Polícia Militar estimou em 2023 que havia 926 fuzis apenas nos
Complexos da Penha e do Alemão. A coordenadoria ressalta que a estimativa tem
mais de dois anos, e o total pode ter aumentado.
Assim, as apreensões representariam apenas 10% do arsenal, causando prejuízo ao
Comando Vermelho, mas sem comprometer a continuidade das ações criminosas.
OPERAÇÃO ADIADA POR CLIMA, MOVIMENTAÇÃO E ATÉ POR UM MURO
No depoimento, o delegado também disse que a operação chegou a ser adiada
“algumas vezes” por diversos fatores: o clima, movimentações de traficantes e
até a construção repentina de um muro pelos criminosos na região monitorada.
A prorrogação do prazo para o governo prestar esclarecimentos ao STF foi
concedida pelo ministro Alexandre de Moraes. A nova data para envio das
informações é segunda-feira (17) — o prazo anterior terminaria no dia 12.
Enquanto isso, o Ministério Público já coleta depoimentos de agentes que atuaram
no planejamento e na execução da operação. A decisão de enviar os documentos ao
Supremo também atende a pedidos do ministro, que cobrou informações do próprio
MP, do Tribunal de Justiça e da Defensoria Pública.
CÂMERAS CORPORAIS: FALHAS E NÚMEROS ABAIXO DO EXIGIDO
Menos da metade de policiais do Bope e da Core utilizou câmeras corporais em
megaoperação
Os depoimentos também revelam problemas no uso de câmeras corporais — item
obrigatório por decisão do STF para todos os agentes em operações policiais no
Rio.
O coordenador da Core, delegado Fabrício Oliveira, afirmou que apenas 57 dos 128
policiais do grupo usaram câmeras no dia da ação. Ele disse que houve um
problema operacional: uma das docas onde os equipamentos ficam armazenados
apresentou falha, constatada pela empresa responsável.
No Bope, segundo o comandante, tenente-coronel Corbage, apenas 77 dos 215
policiais atuaram com câmeras.
MP DESTACA CASOS ATÍPICOS EM NECROPSIAS
O relatório do MP enviado ao STF também inclui informações técnicas obtidas no
acompanhamento de exames de necropsia no Instituto Médico Legal. Dois casos
foram destacados como “atípicos”:
* um corpo com características de tiro a curta distância;
* outro com tiro à distância, mas também com ferimento de decapitação
PRÓXIMOS PASSOS
Após ouvir os responsáveis pelo comando e pelo planejamento da megaoperação, os
promotores passarão agora à fase de investigação das mortes ocorridas durante o
confronto.
O MP quer tomar depoimentos de policiais que estavam na linha de frente. Dos 117
mortos, além dos 4 agentes de segurança, a Promotoria busca identificar
circunstâncias, locais e a dinâmica de cada ocorrência.




