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Dengue: média em Goiás é cinco vezes maior que no Brasil; clima do Cerrado ajuda o mosquito

Última atualização 03/05/2022 | 18:06

De acordo com dados desta segunda-feira (2), divulgados pelo Ministério da Saúde (MS), Goiás tem média de casos de dengue cinco vezes maior que a do país como um todo. Entre os goianos, são 1.336 diagnósticos para cada 100 mil habitantes. No Brasil, são 254 por 100 mil. Cidades com mais casos estão na região metropolitana da Capital e no Entorno do Distrito Federal.

Ao ser questionada sobre o que explica esta alta de casos, a gerente de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Edna Covem, afirma que a dengue e outras doenças transmitidas por insetos, como a febre amarela, sempre foram endêmicas em Goiás. “Tem a ver com o bioma Cerrado, com o clima”.

A pesquisadora e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Adelair dos Santos, estuda o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, há 16 anos anos. Segundo ela, de fato, o clima da região ajuda o mosquito a sobreviver.

“No Cerrado, as temperaturas não mudam muito como no Sul, por exemplo, em que temos épocas de frio rigoroso. No sudeste também vemos mais chuvas fortes que provocam alagamentos e isso não é bom para o mosquito, porque a água destrói muitos criadouros. Aqui em Goiás, não temos tanto isso. Existe um período de seca, mas não é tão prolongado. Então, o mosquito aprende a se adaptar facilmente às mudanças da nossa região, que não são tão extremas”, explica a especialista.

Por outro lado, mesmo nos dias de seca, a especialista lembra que os criadouros dentro das casas continuam: bebedouros de animais de estimação, ar-condicionado de modelo antigo que acumula água, vaso de planta e até mesmo fossos de elevadores, nos quais, segundo a pesquisadora, o Aedes não só bota ovos, mas também pega carona, subindo até os andares mais altos.

Pandemia sem agentes

A pandemia de Covid-19 é tida como um problema que prejudicou o combate à dengue, zika e chikungunya – e não só porque as pessoas foram menos aos hospitais buscar diagnóstico. “Na pandemia, tivemos a suspensão de visitas domiciliares dos agentes de saúde e voltamos em outubro do ano passado. Isso comprometeu as medidas de controle e combate do criadouro. No fim do ano de 2021, quando voltou a chover, já percebemos o aumento de casos”, explica a representante da Secretaria de Saúde.

O ovo pode resistir centenas de dias, esperando a próxima chuva. A especialista conta que, em laboratório, já viu ovos de Aedes durarem mais de um ano em lugar seco. O vírus da dengue também consegue ficar “hibernando”. Em contato com a água, é questão de dias para um mosquito ser liberado. O ciclo do Aedes Aegypti, processo que acontece  desde que o ovo é colocado na água, até um novo inseto surgir, dura de uma semana a dez dias. “Não é só o clima do Cerrado. A verdade é que temos muitos focos de criadouros do mosquito em Goiânia, na cidade toda, em todos os bairros”, alerta a pesquisadora da UFG.

Além de tudo isso, Edna, da SES, afirma que o período mais intenso de chuvas dos últimos meses e o fato de estarem circulando dois tipos de vírus da dengue no estado, fazem com que o cenário seja pior.

Regiões de maior alerta para dengue

Edna Covem, gerente de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador da SES-GO. (Foto: Divulgação/SES-GO)

“A dengue está no estado todo”, afirma Edna. Por outro lado, a integrante da pasta estadual de Saúde explica que alguns locais preocupam mais pelo número de casos. Primeiro, a região metropolitana de Goiânia, como a própria capital, Aparecida e Senador Canedo; Segundo, o entorno do Distrito Federal: Luziânia, águas Lindas, Valparaíso e Nova Gama, por exemplo.

“A população não deve esperar piorar para procurar o médico. Começou a apresentar sintomas como náusea e febre, já deve ir ao hospital para checar”, explica Edna. Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), equipes da Saúde da Família e Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) fazem diagnóstico e tratamento da população.

Na última semana, Goiás confirmou que duas gestantes contraíram zika vírus, o que alerta para o risco de microcefalia nos bebês. “As duas crianças já nasceram. Uma está bem, sem sinal de consequência da doença. A outra faleceu, mas por outra causa, não por conta da zika. As duas mães e o bebê continuam sendo monitorados”, afirma Edna, que conta ainda que não existem outros casos confirmados ou sob suspeita de zika em grávidas de Goiás.