Dengue: por que pacientes com sintomas podem testar negativo para o vírus?

Febre, dor de cabeça forte, dor atrás dos olhos, vômito, manchas vermelhas na pele com teste negativo para dengue. Este pode ser um cenário possível e até mesmo comum. Mas por que pacientes com sintomas clássicos da doença podem isentar a detecção pelo vírus transmitido para o Aedes aegypti? Gil Amaro, professor de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB) e mestre em Biologia Molecular explica que fatores podem influenciar a acurácia de um exame positivo indicando a doença.

Confira a entrevista, na íntegra:

Por que vários pacientes testam negativo mesmo tendo todos os sintomas clássicos?
GA: Cada fase da doença tem um exame específico. Os testes para o período dos sintomas são o RT-PCR, o do Antígeno NS1 ou o de Isolamento Viral. Se a pessoa usar os testes de Anticorpo IgG/IgM no período de sintomas, o resultado será negativo, porque esse teste IgG/IgM é para outra fase da doença. O segundo motivo é que todo exame tem um limite de detecção, sensibilidade e especificidade. Essas três propriedades afetam quando o exame “acerta” ou “erra”. As configurações de ciclo, enzimas e temperaturas no teste RT-PCR podem diminuir a especificidade, afetar o limite de detecção e dar falso negativo. Por fim, a parte pré-analítica pode diminuir a qualidade da amostra dificultando a detecção. Laboratórios com certificações e acreditações tem chance maior de acertar o exame.

Como é feito o teste de dengue? Há mais de um? Existe a possibilidade de um falso negativo? Se sim, por que isso acontece?
GA: O padrão é procurar o vírus da dengue ou os anticorpos gerados contra ele no sangue. Situações especiais usam outros fluídos do corpo como saliva, sêmen, urina, líquor ou líquido amniótico. Tem mais de um tipo de exame e cada exame funciona bem em uma fase da doença. Como todo teste tem um limite de detecção, uma sensibilidade e uma especificidade, há uma chance pequena de falsos negativos, mesmo usando o teste correto de cada fase da doença.

Além dos três motivos citados acima e dos fatores pré-analíticos, analíticos e pós-analíticos, até a temperatura de armazenamento do sangue coletado pode afetar o teste. A ciência está em constante melhoria e os testes são otimizados ano a ano para ficarem mais efetivos, acertando quando tem e quando não tem a doença.

Por que alguns pacientes mesmo tendo todos os sintomas clássicos, característicos de dengue, testam negativo para a doença?
GA: Isso ocorre por causa das fases da doença e do uso correto dos testes para cada fase. Vale alertar que outros exames, que não medem diretamente o vírus, ajudam no manejo clínico do paciente que tem dengue, mas o teste deu negativo. O conjunto de sinais e sintomas podem determinar a suspeita de dengue mesmo se um teste der resultado negativo. Existem sinais de alarme e gravidade característicos da dengue, além da sazonalidade. É possível determinar dengue pelos testes laboratoriais ou pelo chamado “vínculo clínico-epidemiológico”.

Existe a possibilidade desse paciente que testou negativo ter contraído uma carga viral menor da doença?
GA: Sim, é possível. Cada pessoa tem uma constituição genética e fatores ambientais, como nutrição e o histórico de outras doenças, aliados à presença de anticorpos gerada por infecções anteriores do mesmo subtipo de dengue, pode levar à diminuição mais rápida da viremia. Na maioria dos casos, na segunda infecção por dengue do mesmo subtipo, os anticorpos IgG e IgM atacam o vírus rapidamente, sendo o período e a quantidade de viremia menor.

Em casos raros, a cada nova infecção a saúde da pessoa fica mais comprometida. E, dependendo da saúde no momento da próxima infecção com a dengue, o cenário pode piorar muito. Plaquetas baixas ou imunidade baixa por outras doenças ou medicamentos pode agravar o caso e prolongar a viremia em tempo e em quantidade da carga viral.

Qual a orientação para os pacientes que testaram negativo mas apresentam todos os sintomas da doença?
GA: A orientação é procurar as unidades de saúde para avaliação do vínculo-epidemiológico que determina dengue. Outros exames podem determinar a suspeita de dengue e, até mesmo, classificar o grupo de estadiamento (A, B, C ou D), que vai do mais leve até o mais grave. No Brasil existem unidades de saúde especializadas e as tendas para atendimento inicial. Casos graves tem manejo clínico específico e monitoramento constante para evitar falecimento.

É possível que existam ainda mais casos de dengue do que foi notificado por conta dessa testagem negativa?
GA: Sim. Além dos casos falso-negativos existem os portadores assintomáticos, que podem transmitir o vírus mesmo sem ter sintomas. Além do período da história natural de toda doença, quando já aconteceu a infecção, quando as alterações fisiológicas e bioquímicas que permitem detectar sinais e sintomas estão baixas. Resumo: quando está bem no início da infecção.

Quais os perigos do autodiagnóstico de dengue ou de um paciente que, por conta do teste negativo, acredita que não contraiu a doença?
GA: O autodiagnóstico é perigoso porque toda infecção por dengue gera perda de líquido dos órgãos e essa perda é mais comum que a hemorragia, podendo agravar. O autodiagnóstico não consegue avaliar o corpo no nível que os exames de sangue fazem. Além disso, há grupos de risco: pessoas com situações específicas ou doenças que, se contraírem dengue, tem chance maior de evoluir para casos graves.

Tanto o exame de sangue quanto o exame clínico permitem avaliar a gravidade da doença pelos sinais de hemodinâmicos no início do agravamento, podendo agir para evitar. Enquanto o autodiagnóstico não abarca todas as possibilidades e a doença pode evoluir até causar danos irreparáveis, quando a pessoa perceber que está com sinais críticos, pode ser tarde demais.

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Câncer de pele: Como identificar manchas perigosas e prevenir o risco

A gerente de enfermagem Renata vivenciou uma experiência que transformou sua perspectiva sobre cuidados com a saúde. Após ter sido orientada a realizar acompanhamento médico anual devido a uma lesão pré-cancerígena, ela negligenciou a recomendação. Anos depois, uma consulta devido a uma mancha no rosto a fez descobrir um melanoma em estágio inicial, um dos tipos mais agressivos de câncer de pele. A detecção precoce e remoção rápida garantiram um desfecho positivo.

O caso de Renata ressalta a importância do diagnóstico precoce no câncer de pele, a forma de tumor mais comum no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O melanoma, em particular, é o tipo mais raro e agressivo, e o diagnóstico rápido pode ser decisivo para a cura. Marina Sahade, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, destaca os principais sinais de alerta, como mudanças na cor, tamanho e textura de pintas ou manchas, além do aparecimento de sangramento ou coceira.

Como identificar manchas suspeitas? A dermatologista Luísa Juliatto, do Alta Diagnósticos, orienta que é preciso ficar atento a pintas novas, em crescimento, com cores variadas ou formas irregulares. Também é importante observar pintas antigas que apresentem alterações. Feridas que não cicatrizam, sangramento, dor ou crescimento rápido de uma lesão também são sinais que demandam atenção médica. Para confirmar se a mancha é cancerígena, exames como dermatoscopia e ultrassom dermatológico podem ser necessários. Quando há suspeita, a biópsia de pele é essencial para o diagnóstico final.

Juliatto recomenda consultas dermatológicas anuais, especialmente se não houver histórico de câncer na família. Caso contrário, é importante um acompanhamento mais próximo com o especialista.

Quais manchas não são perigosas? Nem todas as manchas na pele são preocupantes. Manchas solares, sardas (efélides), ceratoses seborreicas e melasma geralmente não são sinais de câncer. Além disso, os nevos comuns, conhecidos como pintas benignas, também não são motivo de alarme.

Fatores de risco e prevenção A exposição solar excessiva e repetitiva, especialmente durante a infância e adolescência, é o principal fator de risco para o câncer de pele. Pessoas com pele clara, olhos e cabelos claros, ou com histórico familiar de câncer de pele, têm maior predisposição à doença. No entanto, é importante ressaltar que até pessoas negras podem ser afetadas.

No caso de Renata, a pele clara e o histórico familiar de câncer de pele de seu pai contribuíram para o desenvolvimento do melanoma. Após o diagnóstico, ela passou a adotar medidas rigorosas para proteger sua pele, como o uso diário de bloqueador solar e roupas especiais de proteção UV, além de evitar a exposição ao sol nos horários de pico.

Para prevenir o câncer de pele, a dermatologista recomenda:

  • Aplicar protetor solar com FPS mínimo de 30 a cada duas horas;
  • Evitar exposição solar entre 10h e 15h;
  • Utilizar barreiras físicas, como roupas com tratamento UV, boné, óculos de sol e guarda-sol.

Essas precauções são essenciais para reduzir o risco de câncer de pele e garantir uma rotina de cuidados adequados com a saúde da pele.

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