Família descobre maus-tratos contra alunos autistas de escola pública do DF após colocar gravadores nas mochilas
Polícia investiga caso como crime praticado contra criança e adolescente.
Regional de Ensino de São Sebastião diz que apura caso por meio de processo
sigiloso.
Áudio de professora que teria cometido maus-tratos contra gêmeos com autismo, no DF. [https://s02.video.glbimg.com/x240/13241581.jpg]
A família de um casal de gêmeos com transtorno do espectro autista denunciou maus-tratos contra as crianças em uma escola da rede pública do Distrito Federal. Ao perceber a mudança de comportamento do menino e da menina, os pais colocaram um gravador na mochila das crianças (ouça áudios acima).
> “Empurra ele, joga ele, não deixa ele fazer mal com vocês. Eu não posso
> empurrar e me defender, mas vocês podem”, disse uma professora em uma das
> gravações.
O caso foi na Escola Classe Morro da Cruz, em São Sebastião. O pai
dos gêmeos, que preferiu não se identificar, disse que o problema começou no
primeiro semestre de 2024. Segundo ele, a escola também teria negado dar água
para as crianças.
A família então procurou a polícia e fez a denúncia. Desde agosto, o caso é
investigado como crime praticado contra a criança e o adolescente. A Secretaria de Justiça disse que a denúncia está sendo apurada e a Regional
de Ensino de São Sebastião disse que o caso é apurado por meio de um processo
sigiloso desde setembro do ano passado. O Conselho Tutelar afirmou que acompanha a família.
No primeiro semestre de 2024, a família percebeu mudança no comportamento dos
gêmeos. As crianças começaram a ter medo de ir para a escola.
> “Primeiro a gente presenciou na menina, minha filha. A gente foi deixar ela na
> porta sala de aula, um comportamento brusco por parte da professora arrastando
> a criança e ela chorando”, conta o pai.
Após colocar o gravador na mochila das crianças, os áudios mostraram agressividade por parte de profissionais da escola.
Uma das preocupações da família é com o consumo de água pelas crianças, já que
elas não costumam pedir. Em e-mail enviado para a escola em junho, o pai faz um
pedido para que as professoras tivessem atenção com a hidratação.
Mas o pai conta que uma outra professora, que não trabalha mais na escola,
revelou que a direção impedia de dar água aos dois alunos.
> “A gente perde o rumo. A gente acreditava que a o sistema educacional
> brasileiro pudesse fazer parte da nossa rede de apoio e para minha surpresa,
> não. Você não tá produzindo inclusão, você tá produzindo exclusão”, afirma o
> pai.
A família levou as crianças para uma avaliação psicológica e a profissional que
atendeu os gêmeos afirma que, durante as sessões, o menino demonstrou
comportamentos indicativos de sofrimento emocional, ansiedade e retraimento
social.
Com os áudios e o laudo da psicóloga em mãos, a família resolveu procurar a
polícia. O caso chegou até a Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e
Intervenção, que repudiou as atitudes dos educadores.
Os pais pararam de levar os filhos à escola, enquanto aguardam uma resposta da
Secretaria de Educação.
> “No caso de maus tratos e bullying, você vai para a esfera criminal, através
> do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas também tem o Estatuto da Pessoa
> com Deficiência, que pune a discriminação com pena de 1 a 3 anos”, diz Flávia
> Amaral, presidente da comissão de defesa dos direitos dos autistas da OAB-DF.