Torcedor do Valencia denuncia “o racista do setor 5 de Mestalla” após um ano testemunhando ofensas
Em artigo publicado na Espanha, o jornalista José Manuel Bort descreveu os insultos direcionados a jogadores de diversas equipes rivais, como Raphinha, Lamine Yamal, e até do próprio Valencia.
O jornalista espanhol José Manuel Bort denunciou, em um artigo publicado originalmente no site “Levante-EMV”, o comportamento racista, sexista e xenofóbico de um torcedor do Valencia, após testemunhar durante um ano e três meses toda sorte de ofensas discriminatórias direcionadas a jogadores de times adversários no estádio Mestalla, especialmente negros, sul-americanos ou de ascendência árabe, mas também proferidas a espanhóis de outras regiões do país, como bascos e andaluzes.
No artigo, intitulado “O racista do setor 5 de Mestalla”, Bort descreve incontáveis situações que, segundo ele, constrangiam os demais torcedores ao redor, pelo baixo nível das ofensas: “Negro de merda”, “Vai para o Bioparc (o zoológico de Valência)”, “Negro dos barcos (referindo-se a imigrantes”, entre outros exemplos de discurso de ódio.
“Estou há um ano e três meses suportando sua raiva no meu pescoço e chegou o momento de torná-lo público, visto que as instituições que deveriam retirá-lo do estádio (LaLiga e Valencia CF) não o fizeram. Faremos nós: um pai, um filho e outros vizinhos de assento que se ofereceram para testemunhar”, contou o jornalista em um dos trechos do artigo.
Bort contou que comprou dois ingressos para a temporada passada na fila 12 do setor 5 do Mestalla para acompanhar os jogos do Valencia com seu filho na região central da arquibancada, onde costumava ir com o pai quando criança. E já no primeiro jogo, contra o Barcelona, se surpreendeu com os gritos vindos da fila 13, logo atrás dele, dirigidos a Yamal e Raphinha: “Dê um amarelo por ser porco e um vermelho por ser negro”, esbravejou em direção ao árbitro, referindo-se ao brasileiro do Barcelona.
“Os insultos continuaram a cada jogo, de forma reiterada, com a mesma sanha: ‘Etarras!’ (dirigido a jogadores do Athletic Bilbao e diante da presença de dois torcedores bascos próximos), ‘Ciganos!’ (para jogadores do Betis), ‘Sudacas!’. ‘Pagaria 50 centavos por cada bala na cabeça de um vermelho. Vermelho morto, vermelho bom’, soltou um dia a não se sabe quem nem por que motivo, já que no seu neurótico saco de bichos e serpentes cabem todos. Um dia até se dirigiu também para um jogador do Valencia, Mosquera: ‘Que ruim é este negro dos barcos’. Tem racismo, xenofobia, fanatismo, intolerância. É ódio disfarçado de torcedor de um time de futebol”, observou.
Após o artigo, o Valencia prometeu agir em relação ao torcedor denunciado por Bort. Segundo o jornalista, todas as suas tentativas de denunciar o agressor na esfera esportiva foram infrutíferas, mas ele decidiu levar o caso à Promotoria de Crimes de Ódio de Valência, no dia 29 de outubro. O Valencia informou nesta segunda-feira que abrirá um expediente disciplinar contra o torcedor denunciado por Bort.
Ataques racistas a Vinícius Júnior no Mestalla, em maio de 2023, acendeu o debate sobre a discriminação racial e xenofobia no futebol espanhol. No ano passado, três torcedores do Valencia foram condenados a oito meses de prisão pelo episódio.
Marcado pelo caso, o Valencia processou em setembro a plataforma de streaming Netflix e a produtora Conspiração Filmes por imagens do episódio exibidas no documentário “Baila, Vini”. Desde o caso de 2023, todos os jogos de Vini Jr. no Mestalla pelo Real Madrid são marcados por confusões envolvendo o brasileiro e a torcida do Valencia. Bort observa que “todos os estádios têm seu idiota de cabeceira” e relembra casos recentes de racismos protagonizados por torcedores do Barcelona e Real Madrid contra jogadores rivais. Como torcedor do Valencia, ele defende que sua torcida merece “um estádio respeitoso e digno”.




