Perfil: presa na Itália, Zambelli já se acorrentou na Câmara antes de virar fenômeno eleitoral e ser condenada a 10 anos de cadeia
Protesto na Câmara foi em 2015. Parlamentar transitou entre movimento feminista e se consolidou no bolsonarismo durante trajetória na política brasileira.
Deputada Carla Zambelli é presa na Itália, diz Ministério da Justiça
Deputada Carla Zambelli é presa na Itália, diz Ministério da Justiça
Presa nesta terça-feira (29) na Itália, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) já se acorrentou na Câmara dos Deputados – antes de ser eleita parlamentar – pelo impeachment da Dilma antes de virar fenômeno eleitoral e ser condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 14 de maio deste ano.
Zambelli deixou o Brasil em 25 de maio maio em direção à Argentina, depois seguiu para a Europa. A parlamentar afirma que deixou o país por causa de um tratamento médico. Ela pediu licença do mandato de deputada.
Carla Zambelli foi condenada por unanimidade pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica.
De acordo com a denúncia, a deputada orientou o hacker Walter Delgatti Neto a invadir o sistema para inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A deputada também responde por porte ilegal de armas e constrangimento ilegal. Na véspera das eleições, em 2022, Carla Zambelli sacou uma arma e apontou para um homem no meio da rua nos Jardins, área nobre de São Paulo, na tarde deste sábado.
A parlamentar começou com ativismo de rua, em 2011, transitou pelo movimento feminista e se consolidou como um fenômeno eleitoral na esteira do bolsonarismo. Nos últimos anos, passou por desgaste e queda de prestígio com aliados.
O DE fez uma lista com os principais pontos da carreira política da deputada:
2011: Deputada fundou o movimento Nas Ruas
Manifestações que pararam o Brasil em 2013. Em 2011, Zambelli fundou o grupo Nas Ruas, que se juntou aos protestos contra o governo Dilma Rousseff em 2013. Após as manifestações, a parlamentar continuou participando de atos da direita e chegou a liderar a tropa de choque bolsonarista no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
2012: Zambelli integrou o grupo feminista Femen
A integrante do bloco bolsonarista da Câmara Carla Zambelli (PL-SP), que prioriza pautas ligadas ao conservadorismo, já foi membro do grupo feminista Femen, em 2012. Ela participou de manifestações com pautas feministas ao lado de Sara Giromini, agente política que se voltou a extrema direita nos últimos tempos.
Na imagem publicada nas rede social X, a parlamentar aparece com a blusa do movimento Femen, cordão de flores na cabeça — marca registrada do grupo feminista — e com a frase ‘quero nascer em casa’ escrita na barriga em uma manifestação em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).
O grupo feminista Femen é conhecido por manifestações mais radicais, como topless para chamar atenção para questões relacionadas ao direito das mulheres. Ele foi criado em 2008, na Ucrânia, e possui células ativas em países como França, Alemanha e Tunísia.
Em 2015: Zambelli se acorrenta na Câmara para pressionar por impeachment de Dilma
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) integrou um grupo de oito pessoas que se acorrentaram em uma pilastra na Câmara dos Deputados, em outubro de 2015.
Os manifestantes se prenderam ao redor de uma coluna no Salão Verde para pressionar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para dar início a tramitação do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
O processo foi aceito pelo ex-presidente da Câmara no início de dezembro e seguiu os trâmites legais que culminaram na votação do Senado, em agosto de 2016, resultando na cassação do mandato de Dilma Rousseff.
Em 2018: Deputada se elege como fenômeno eleitoral, na onda da eleição de Bolsonaro
Nas eleições de 2018, nas quais Jair Bolsonaro se tornou presidente, Carla Zambelli foi eleita deputada federal por São Paulo. Na época, as correntes bolsonaristas se fortaleceram, o que impulsionou diversos candidatos aliados ao ex-presidente.
Durante o primeiro mandato, Zambelli foi vice-líder do Partido Social Liberal (PSL) e do governo, além de integrar comissões permanentes e especiais. Ela também foi eleita presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.
Em 2019: Parlamentar rompe com Joice Hasselmann
Parlamentar Carla Zambelli (PL-SP) rompe relações com Joice Hasselmann. Joice e Zambelli tiveram uma relação conturbada durante o tempo em que estiveram juntas na Câmara dos Deputados. Em um primeiro momento, as duas, ainda apoiadoras do ex-presidente Jair Bolsonaro, chegaram a fazer campanha juntas em 2018.
Após o rompimento de Joice com o bolsonarismo, contudo, as ex-amigas se afastaram e iniciaram uma série de ataques, com direito a discussões pelas redes sociais.
Em 2020: Deputada se casa, tem Moro como padrinho e depois rompe com o parlamentar
A deputada Carla Zambelli se casou com o coronel Aginaldo de Oliveira, tendo o ex-ministro da Justiça e, agora, senador Sergio Moro como padrinho de casamento.
Em fevereiro de 2020, quando houve o casamento religioso, o ex-ministro da Justiça disse que aceitou o convite por “constrangimento” e afirmou que nunca teve um relacionamento pessoal com a deputada.
O rompimento entre Carla Zambelli e Sérgio Moro ocorreu menos de dois meses depois da celebração, assim que o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro pediu demissão do ministério. A demissão foi motivada pela decisão de Bolsonaro de trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, indicado para o posto pelo agora ex-ministro.
Em 2022, no Dia do Amigo, a parlamentar postou uma foto de ambos em seu casamento e ironizou a relação dos dois ao lembrar que os usuários rezassem a oração do Pai Nosso e “livrai-nos do mal, amém”.
Em 2022: Se elege novamente com terceiro maior número de votos
Nas eleições de 2022, Zambelli foi reeleita deputada federal pelo Partido Liberal (PL), com 946.244 votos. Com o resultado dessas eleições, ela se tornou a terceira deputada federal mais votada no país, atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG).
No entanto, em janeiro de 2025, teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) devido a condenações por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação ao espalhar notícias falsas sobre as eleições de 2022. A decisão também a tornou inelegível por oito anos.
Em 2022: Deputada saca arma e persegue homem pelas ruas de SP
A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli sacou uma arma e apontou para um homem no meio da rua no bairro Jardins, área nobre de São Paulo, em outubro de 2022.
Em agosto de 2023, o STF aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), tornando Zambelli ré pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo.
Já em março de 2025, o STF formou maioria para condenar Zambelli a cinco anos e três meses de prisão.
Após ameaçar homem com arma, Zambelli é acusada por Bolsonaro pela derrota na eleição
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou, em março de 2025, que a deputada Zambelli “tirou o mandato” de sua chapa nas eleições de 2022, ou seja, culpou a parlamentar pela sua derrota.
O motivo, segundo Bolsonaro, foi o episódio em que a parlamentar ameaçou com uma arma um apoiador do então candidato Lula. A deputada também passou a ser vista com desconfiança também por aliados de Bolsonaro.
Em 2025: Zambelli vira ré no STF por invasão ao sistema do CNJ e é condenada a 10 anos de prisão
Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A parlamentar foi condenada a 10 anos de prisão e Delgatti a 8 anos e 3 meses.
Os ministros julgaram, no plenário virtual da Corte, acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. A acusação é de que Zambelli teria orientado o hacker Walter Delgatti a invadir o sistema do CNJ para produzir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.
A PGR afirmou que a conduta da deputada evidencia um descompromisso com o cargo parlamentar, além da disposição para realizar atividades ilícitas no cargo, e pediu a cassação do mandato.
A defesa da parlamentar afirmou que “não havia e e não há prova idônea, séria e coerente no presente caso a admitir decreto punitivo. Não bastam ilícitos indícios”.
Caso a condenação de Zambelli seja confirmada após os recursos, a Câmara dos Deputados deverá declarar a perda de seu mandato. A decisão também torna a deputada inelegível, conforme as normas da Lei da Ficha Limpa.