Desafios da nova operadora de trens do RJ: roubos, tráfico e sensação de abandono nas estações

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Roubos, tráfico e sensação de abandono nas estações são desafios para nova operadora dos trens do RJ

A Supervia deixará a concessão em 16 de março, e o novo operador deve ser definido em dezembro. RJ2 percorreu toda a malha ferroviária nas últimas semanas e viu superlotação, insegurança e abandono.

A nova empresa que vai substituir a Supervia receberá por quilômetro rodado

Passageiros dos trens do Rio de Janeiro reclamam da insegurança e da presença constante do crime na malha ferroviária. A Supervia, atual concessionária, deixa o serviço em 16 de março do próximo ano e uma empresa que ainda será definida deve ser a próxima operadora.

Enquanto a definição não vem, a única certeza é que a nova empresa terá um desafio enorme pela frente: insegurança, lotação e sucateamento são uma rotina nas linhas.

A equipe do RJ2 percorreu toda a malha ferroviária nas últimas semanas e acompanhou de perto a rotina dos passageiros nos ramais de Deodoro, Santa Cruz e Paracambi, e flagrou até tráfico e consumo de drogas em estações.

Entre os problemas de insegurança, estão: roubos, arrastões, bocas de fumo e até brigas dentro dos vagões.

“Uma vez mesmo eu quase morri. Gritaram ‘arrastão, arrastão’, eu saí correndo, todo mundo para o mesmo vagão, um desespero”, relata uma passageira.

“Eu particularmente prefiro não andar sozinha”, relata outra.

No ramal Belford Roxo, de noite e de dia funciona uma espécie de feira com várias barracas na estação Jacaré, local que é tomado pelo tráfico de drogas. Já na estação Triagem, há pedestres ocupando a área restrita.

Na Pavuna, crianças e adultos seguem como se estivessem em um calçadão e ainda dividem espaço com o lixo, problema que também é enfrentado no ramal Saracuruna.

Na estação que leva o nome, um vagão de decoração virou lixeira, cercado de esgoto. Em Gramacho, a estação tem rachaduras, sem reboco, pintura e extintor de incêndios.

Uma das extensões do ramal Saracuruna é Vila Inhomirim, no pé da serra no distrito de Magé. Lá, a locomotiva é de motor a diesel e tem dois vagões.

Os repórteres tiveram que aguardar mais de duas horas, que é o intervalo do trem, para embarcar. A estrutura do trem estava bem comprometida.

Depois de quase 30 anos, os trens que cortam boa parte do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense vão mudar de mãos. Após sucessivos adiamentos, a Supervia anunciou que deixa a operação no dia 16 de março de 2026.

A nova empresa terá uma forma diferente de ser remunerada: receberá por quilômetro rodado. Hoje, a Supervia recebe pela tarifa. A duração do novo contrato deve ser de 5 anos.

“Nossa expectativa é que a gente volte a ter a melhor ferrovia do Brasil com essa modernização e com esse novo operador que nós estamos esperando chegar”, afirma a secretária estadual de Transportes, Priscila Sakalem.

O sistema ferroviário do Rio tem 270 quilômetros de trilhos, 5 ramais, 3 extensões e 104 estações. Os trens transportam cerca de 300 mil passageiros por dia, conectando a capital a cidades do entorno.

Em Senador Camará e Padre Miguel, usuários de drogas circulam livremente e há pontos de venda de entorpecentes dentro das áreas da estação.

No ramal Japeri, a situação se repete: usuários de drogas nas estações, vandalismo nos vagões, bancos destruídos e intervalos longos entre os trens.

Em Paracambi, a última estação do ramal, falta até banheiro para os passageiros.

Em Deodoro, passageiros se arriscam pelos trilhos e vagões abandonados formam um “cemitério de trens”.

A superlotação é um dos principais problemas enfrentados diariamente: “Quando tem jogo funciona que é uma beleza. Agora, quando não tem… a gente passa muito sufoco aqui. É muito ruim, moço…”, relata uma passageira.

Outro usuário completa: “Sempre foi esse sofrimento. Até que hoje tá tranquilo, tá vazio. Tem dia que o negócio é feio”.

A falta de manutenção é visível em várias estações. Banheiros em condições precárias, escadas rolantes quebradas e acessibilidade comprometida dificultam a vida de quem depende do serviço.

“Muita falta… ainda mais eu que sou fibromiálgica, então subir escada fica muito difícil. A gente quer reclamar, mas parece que a nossa voz não sai”, desabafa Ana, cuidadora de idosos.

O preço da passagem é de R$ 7,60, com tarifa social a R$ 5. Muitos consideram o valor alto diante da qualidade do serviço.

A concessão da Supervia começou em 1998 e, desde então, enfrenta desafios. Em 2023, a empresa comunicou ao governo que não tinha condições de continuar operando, citando prejuízos com a pandemia, furto de cabos e congelamento da tarifa.

Um acordo judicial prorrogou a operação até março de 2026, quando um novo operador deve assumir o sistema.

A secretária estadual de Transportes, Priscila Haidar Sakalem, afirma que o governo trabalha para garantir uma transição sem prejuízo ao passageiro.

Apesar das promessas de melhorias, os problemas de vandalismo e insegurança persistem.

A Supervia informou, em nota, que investiu junto com o governo do estado cerca de R$ 160 milhões no sistema no último ano. Segundo a concessionária, os recursos foram aplicados em reformas estruturais, como troca de dormentes e recuperação da sinalização, o que resultou na redução do tempo de viagem, principalmente nos ramais Santa Cruz e Japeri. A empresa declarou ainda que a média de passageiros aumentou 10% desde então.

A Polícia Militar afirmou que as equipes atuam com patrulhamento preventivo nas plataformas, acessos e áreas internas das estações, além de realizar rondas embarcadas e reforço nos horários de maior fluxo.

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