Nêspera, cabeludinha e jabuticaba-amarela: a fruta nativa da Mata Atlântica que tem ‘pelos’ na casca
Planta é conhecida por vários nomes e pertence à mesma família da jabuticaba. Especialista detalha características da planta e benefícios associados ao consumo.
1 de 3 Frutos de cabeludinha (Myrciaria glazioviana) registrados no Jardim Nova Europa, em Campinas (SP) — Foto: Nelson Wisnik/iNaturalist
Frutos de cabeludinha (Myrciaria glazioviana) registrados no Jardim Nova Europa, em Campinas (SP) — Foto: Nelson Wisnik/iNaturalist
Cabeludinha, nêspera, guapirijuba, café-cabeludo, jabuticaba-amarela, peludinha e vassourinha-da-praia. Esses são alguns nomes populares da Myrciaria glazioviana, uma planta nativa do Brasil, encontrada em áreas da Mata Atlântica e de restinga.
O nome “cabeludinha” faz menção aos frutos da planta, que tem tricomas – estruturas parecidas com pelos – espalhados por sua casca. Eles são esbranquiçados, quando o fruto está imaturo, e têm aparência mais parecida com uma lã, quando maduros.
Curador do herbário do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP, o botânico Milton Groppo explica que a espécie tem coletas de populações nativas conhecidas para o Nordeste (Alagoas, Bahia), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro) e Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina).
2 de 3 Frutos de cabeludinha (Myrciaria glazioviana) registrados no Jardim Nova Europa, em Campinas (SP) — Foto: Nelson Wisnik/iNaturalist
Frutos de cabeludinha (Myrciaria glazioviana) registrados no Jardim Nova Europa, em Campinas (SP) — Foto: Nelson Wisnik/iNaturalist
“Parente” da jabuticaba, ambas as espécies pertencem à família Myrtaceae, grupo que inclui quase 6 mil plantas. A cabeludinha não é considerada ameaçada, embora suas populações estejam sendo reduzidas devido ao desmatamento da Mata Atlântica.
> “Dado o seu porte não muito grande e beleza, a cabeludinha pode ser usada na arborização de ruas, praças e parques. As flores atraem muitas abelhas e os frutos podem ser consumidos por aves e primatas. É importante o cultivo de plantas nativas e raras, pois estas interagem com a fauna nativa e é uma maneira de proteger essas espécies de serem extintas”, comenta.
Com rápido crescimento, a planta vive bem em climas tropical a subtropical (úmidos), além de climas temperados onde chove mais. Não se adapta muito a temperaturas altas, mas pode crescer nesses ambientes se receber bastante água. Pode viver muitos anos.
Na explicação do botânico, a árvore mede de 2 a 4 metros de altura, com tronco de até 10 metros de diâmetro. As folhas na base têm uma pelugem escura e curta. Junto das folhas, ficam aglomerações de 3 a 15 flores. Suas pétalas são creme e tem muitos estames brancos.
3 de 3 Fruto imaturo da cabeludinha registrado em Timbó (SC) — Foto: Patricia Mees/iNaturalist
Fruto imaturo da cabeludinha registrado em Timbó (SC) — Foto: Patricia Mees/iNaturalist
O fruto é globoso, mas um pouco achatado, esbranquiçado quando imaturo e amarelo intenso ao amadurecer, com a casca coberta de pelos. A polpa lembra a polpa da jabuticaba, sendo esbranquiçada e com uma a três sementes por fruto.
SABOR DOCE COM LEVE ACIDEZ
Os frutos da cabeludinha podem ser consumidas in natura, mas também em forma de sucos, doces, sorvetes e licores. O gosto da polpa é doce, mas mais ácido que o sabor da jabuticaba.
No entanto, esses frutos são menos consumidos que os da jabuticaba. Um dos motivos da baixa exploração comercial está no fato de seus frutos amadurecem rapidamente e serem sensíveis ao transporte, tornando-a mais comum em pomares domésticos.
De acordo com o botânico, a espécie raramente cultivada é rica em fibras, atua no organismo como fonte natural de açúcar e contém muita vitamina C. Além disso, estudos científicos mostram ações antimicrobianas e analgésicas associadas ao consumo.