Veja onde encontrar rios ‘escondidos’ na cidade de São Paulo
Segundo o Projeto Rios e Ruas, que contabiliza os rios, na capital paulista, há mais de 800 rios e, apesar de a maioria estar soterrada ou canalizada, ainda dá para ouvir o ‘chuá, chuá’ no meio do caos.
São Paulo tem um projeto que contabiliza rios subterrâneos escondidos embaixo do concreto que cobre a capital: o Projeto Rios e Ruas. Segundo a iniciativa, cerca de 800 rios e córregos subterrâneos na cidade de São Paulo — a prefeitura reconhece cerca de 300 —, somando de 3.000 km a 4.000 km. Apesar de muitos não estarem visíveis hoje em dia (soterrados, canalizados ou escondidos atrás de muros), alguns cursos d’água ainda podem ser ouvidos em parques, trilhas e até em avenidas barulhentas. São registros raros, mas que revelam como a cidade foi construída sobre a água, além de mostrar como os rios seguem presentes no cotidiano do paulistano.
Para o arquiteto e urbanista José Bueno, fundador do Rios e Ruas ao lado do geógrafo Luiz de Campos Jr., a ideia de que os rios são “um problema” à cidade foi implantada na consciência da população paulistana e “resolvido” pela engenharia com canalização e tamponamento — processo de cobrir ou fechar um rio. “A significância que os rios tiveram como problema trouxe com ela as soluções de obras. E a população, durante muito tempo, agradeceu e elegeu muitos governadores porque eles resolveram esses problemas canalizando, tamponando, tirando os rios da paisagem. Será que a gente vai continuar dando as costas e nos afastando dessa riqueza, da necessidade de termos a água convivendo com a cidade?”, indaga Bueno.
O roteiro, com cerca de 2,5 km, começa na região da Avenida Paulista e segue até o Terminal Bandeira. Na jornada em busca do som dos rios, o DE caminhou por pelo bairro do Bixiga, conhecido pelo caminho do Rio Saracura, pela Avenida 9 de Julho e o entorno da estação Anhangabaú do metrô, na Linha 3-Vermelha.
O Saracura está soterrado, mas em dias de chuva forte ou em certos pontos da Bela Vista e da Avenida 9 de Julho, entre a Praça 14 Bis e o Terminal Bandeira, é possível escutar o som da água fluindo sob as bocas de lobo e bueiros. Quando olhar na tampa de um bueiro e estiver escrito ‘águas pluviais’ é porque, geralmente, são galerias com rios canalizados. Na atual estrutura das cidades, eles direcionam as águas de chuvas e, consequentemente, dos rios, para galerias subterrâneas, evitando alagamento. Não é que o rio sumiu, ele sempre esteve aqui.
O nome Saracura faz referência a uma ave típica da região e inspirou o apelido do bairro do Bixiga, além de estar presente em sambas da escola Vai‑Vai. No passado, o Saracura já foi um rio aberto com cerca de 2 metros de largura onde dava até para nadar. Ele foi completamente canalizado para dar lugar à infraestrutura urbana no final do século XX. Em períodos chuvosos, no entanto, parte de sua água emerge em pontos como a Praça 14 Bis, inundando levemente, reforçando sua presença invisível sob o asfalto. Caminhando pela Avenida 9 de Julho em direção ao Terminal Bandeira, o DE chegou ao Escadão Frei Caneca, escadaria que conecta a área do antigo Vale do Saracura (hoje ocupado pela Avenida 9 de Julho) até a parte mais alta da cidade, onde fica a Rua Frei Caneca e o entorno da Rua Avanhandava.
Outro rio urbano canalizado e quase totalmente subterrâneo, hoje invisível, é o Córrego Anhanguera. Ele atravessa bairros como Consolação, Vila Buarque, Santa Cecília e Barra Funda. Deságua no Córrego Pacaembu, que segue para o Rio Tietê. Ele nasce em duas frentes principais: uma na Rua da Consolação e na Rua Maria Antônia. Outra na Avenida Higienópolis. No Belvedere Roosevelt, localizado na Praça Roosevelt, após o cruzamento da Rua Augusta, há intervenções artísticas com os dizeres: “Aqui passa um rio”. Segundo o Projeto Rios e Ruas, o nome Anhanguera vem do tupi e é traduzido como “diabo velho” ou “diabo antigo”, indicando a relação ambígua que esse rio tem com a paisagem paulistana — presente, mas invisível e até temido pelas inundações e pela infraestrutura subterrânea.
O Córrego Anhangabaú é um dos cursos d’água mais importantes e simbólicos da cidade, apesar de estar totalmente canalizado e invisível. Ele deu nome ao famoso Vale do Anhangabaú, no Centro da cidade, e sua história se mistura com o próprio crescimento urbano da capital. Para imaginar essa divisão dos grandes rios, dá para subir nas passarelas do terminal de ônibus. Antigamente, onde há asfalto havia água. “O Terminal Bandeira é justamente o grande encontro desses dois grandes rios que vão para o Vale do Anhangabaú. Aqui era uma planície, mas tem relatos de criação de cabra”, disse Soares.
Ouvir sons da natureza, especialmente água corrente e canto de pássaros, é associado a benefícios concretos para a saúde física e mental. A pesquisa da PNAS e estu