Hackers que ameaçaram Felca e psicóloga faziam parte de um grupo com 700 suspeitos monitorados pela polícia por abuso infantil
Cayo Santos e adolescente de 17 anos eram vigiados desde 2024 nas redes sociais por policiais por integrarem grupo no Discord e no Telegram que compartilha e vende imagens de abuso sexual infantil. Eles e outro suspeito foram detidos.
Cayo Santos (à esquerda) e um adolescente (à direita) são suspeitos de usar computadores, como um dos apreendidos acima em Olinda, para ameaçar Felca e uma psicóloga que moram em São Paulo — Foto: Reprodução
Dois hackers detidos nesta semana por ameaçar matar o influenciador Felca e uma psicóloga faziam parte de um grupo no Discord e no Telegram com mais de 700 suspeitos monitorados pela Polícia Civil de São Paulo por crimes virtuais. Um terceiro suspeito preso não era investigado (leia mais abaixo).
De acordo com o Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, o grupo se chama “Country”. Nele, seus membros divulgam, compartilham e vendem imagens de abuso sexual infantil. Também cometem estupros virtuais, maus-tratos a animais e ataques a moradores de rua e fazem apologia ao nazismo. E promovem desafios de automutilação, instigando as vítimas, a maioria delas meninas e adolescentes, ao suicídio.
Ainda segundo a investigação, as mensagens com ameaças enviadas por WhatsApp e e-mail ao youtuber Felipe Bressanim, conhecido como Felca, e à psicóloga Ana Beatriz Chamati foram feitas por Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, e um adolescente de 17 anos.
O motivo do ataque? O fato de Felca ter produzido o vídeo “Adultização” e Ana ter participado dele. O documentário viralizou desde que foi postado nas redes sociais, em 6 de agosto. Ele mostra como outros influenciadores digitais ganham dinheiro produzindo conteúdos que exploram e sexualizam crianças e adolescentes. O youtuber demonstrou como esse material é compartilhado por pedófilos.
Após a repercussão de “Adultização”, a Justiça da Paraíba decretou as prisões de Hytalo Santos e Euro, casal de influenciadores citado no vídeo de Felca. Os dois foram presos acusados por exploração sexual de menores, trabalho infantil e tráfico humano entre outros crimes.
Já Cayo foi preso pela polícia paulista na segunda-feira (25) em Olinda, Pernambuco. O adolescente foi apreendido na quinta-feira (28) em Arapiraca pela polícia de Alagoas. Por causa das mensagens enviadas a Felca e a Ana, eles vão responder por ameaça.
Mas também foram acusados de terem cometido outros crimes, como invasão de dispositivo informático, perseguição e associação criminosa em ambiente virtual (saiba mais abaixo).
Os dois foram identificados pela polícia porque já estavam nesse grupo criminoso e intolerante na internet, o “Country”, que era vigiado, desde novembro de 2024, por agentes infiltrados.
Os policiais levantaram uma lista com 708 usuários, muitos deles usando apelidos. Esses membros trocavam fotos e vídeos de garotas menores nuas, algumas delas eram chantageadas depois que suas imagens íntimas eram vazadas e caíam na web.
As identificações de Cayo e do adolescente pela polícia não foram possíveis à época. Mas depois que os dois passaram a ameaçar o youtuber e a psicóloga, deixaram pistas de onde estavam.
“Nós não tínhamos ainda a qualificação completa, a localização, mas tínhamos conhecimento de que esse indivíduo já era um indivíduo perigoso”, disse ao DE Artur Dian, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, sobre Cayo.
Cayo é considerado um dos líderes do “Country”. De acordo com a polícia, ele usava codinomes como Lammer, F4llen ou Lucifage. E decidiu com o adolescente mandar mensagens eletrônicas e digitais com ameaças para Felca e Ana. Eles queriam que o youtuber e a psicóloga retirassem do ar o vídeo “Adultização”.
Felca e a psicóloga, que moram em São Paulo, não atenderam aos pedidos do criminoso e procuraram a polícia para relatar e registrar boletins de ocorrência sobre as ameaças.
As informações do Noad acabaram compartilhadas com a Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCiber) no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). O órgão pediu então mandados de prisão contra Cayo e de apreensão do adolescente. A Justiça de São Paulo concordou.
No dia em que foi preso, Cayo estava com Paulo Vinicius Oliveira Barbosa, de 21 anos, que também acabou detido, mas em flagrante. Ele não havia sido detectado antes.
Os dois estavam numa residência com o computador usado para fazer as ameaças. Segundo os policiais, no momento das prisões, ambos estavam acessando ilegalmente sistemas do governo pernambucano.
Assim como Cayo, Paulo também foi indiciado por ameaça, invasão de dispositivo informático, perseguição e associação criminosa em ambiente virtual.