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Dez anos após lei incentivar castração, Goiânia ainda não oferece serviço gratuitamente

Última atualização 11/05/2022 | 16:50

A capital ainda não oferece castração de animais gratuitamente mesmo dez anos após lei estadual orientando o controle da reprodução de cães e gatos. O procedimento é considerado inofensivo aos animais e benéfico para interromper o ciclo de abandono e de aumento dessa população, além de contribuir para evitar acidentes envolvendo humanos.

Há quatro anos, a estimativa do Centro de Zoonoses de Goiânia era de 270 mil cães e gatos, sendo 200 mil apenas cachorros,  mais de 30 mil felinos e mais 40 mil animais de rua. O número muito provavelmente está desatualizado, considerando a quantidade visivelmente maior deles na cidade e o reflexo da pandemia, que deixou muitos tutores sem condições financeiras de sustentar os pets.

A intervenção cirúrgica para impedir a procriação é indicada por especialistas e protetores de animais. A veterinária Stella Caponi explica que são poucos os riscos, se tomados os devidos cuidados antes da cirurgia, como realização de exames de sangue. Segundo ela, a retirada dos ovários e úteros nas fêmeas e de testículos nos machos é simples e rápida.

“Faz de manhã e à tarde o animal tem alta. Ele precisará usar uma roupinha ou cone cirúrgico para evitar que tire os pontos, tomar antiinflamatório, antibiótico e passar uma pomadinha no local para os pontos cicatrizarem mais rápido. Acho que todo animal a partir do primeiro cio deve ser castrado para evitar vários problemas e evita infecção no útero das não castradas, câncer de próstata, gravidez psicológica e câncer de mama”, detalha.

O preço é relativamente salgado. Ela, que é proprietária da Agropop Setor Aeroporto, afirma que quanto mais pesado, mais caro o procedimento. O valor começa em R$ 800 em fêmeas por ser mais complicado tecnicamente e a partir de R$500 em machos, incluindo anestesia inalatória, considerada menos arriscada a bichinhos.

Castração Solidária

Uma alternativa bastante procurada por quem tem cão ou gato são as castrações solidárias. A proposta é oferecer valores acessíveis para que as pessoas paguem pelo serviço em clínicas particulares. A Associação de Protetores de Animais Miau Auau promove a campanha com a colaboração de parceiros. Assim, o preço inicial da esterilização de um cão macho é de R$200, a de uma cadela a partir de R$250, a de gato sai por R$100 e a de gata fica R$130.

Em Anápolis, a cerca de 60 quilômetros de Goiânia, os tutores têm um castramóvel à disposição há cerca de dois anos. O atendimento é exclusivo para famílias em situação de vulnerabilidade social cadastradas em um dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) do município, mas depende de uma triagem realizada por equipe técnica atestando que a família do animal se enquadra no perfil socioeconômico para receber o benefício.

Direito do animal

O critério socioeconômico dos tutores não deveria ser exclusivamente considerado para o oferecimento da esterilização dos cães e gatos. Na perspectiva da presidente da Comissão Especial de Direito Animal da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Pauliane Rodrigues, a questão é de saúde pública e direito do próprio bichinho.

“Duas legislações falam sobre isso, uma em âmbito federal e outra no estadual. O Poder Público deveria garantir a castração para todos os animais independente da classe econômica das famílias tutoras. Deveria ser direito básico dele. Se uma pessoa deixa uma fêmea sair, ela cruza e volta para prenha, logo que os filhotes nascem eles serão abandonados na rua”, reforça.

A realidade, porém, é a de falta de recursos para oferecer a cirurgia gratuitamente. Pauliane lembra que a lei estadual em vigor desde 2012 sobre o assunto atrela as despesas “à conta de dotações orçamentárias próprias”.

“Não temos uma  política pública efetiva relacionado a esse tema. Prevê que será gratuito, mas não especificam onde nem regulamentaram a lei, que não tem verba porque não é destinada por nenhum deputado. Chegaremos em um ponto em que não sei o que  faremos porque não temos mais onde pôr tantos animais abandonados. Jogam o problema para a Saúde ou para a Amma e, enquanto isso, os animais vão ficando em terceiro plano”, lamenta.