Dez anos depois, lei de cotas nas universidades será repensada em 2022

A Lei de Cotas deve passar por uma revisão este ano, de acordo com o que ela mesma previa, quando foi aprovada em 2012. Por outro lado, o texto não define como isso deve ser feito, nem coloca data de validade: se não for revisada, a política de cotas continua valendo. Ainda assim, a discussão sobre o impacto dela vem ganhando força, pela possibilidade de ser repensada.

“As cotas não representam uma reparação não, mas uma mudança importante para conseguirmos o mínimo de equilíbrio entre os estudantes. A gente nota, visualmente, que tem mais alunos negros no campus nos últimos anos”, comenta a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Sonia Ray.

O que a professora percebeu é comprovado por números do Consórcio de Acompanhamento das Ações Afirmativas 2022. Em 2001, pretos e pardos eram 30% dos matriculados e, hoje, são mais da metade. Além disso, neste mesmo ano, estudantes que vinham dos 20% mais ricos do Brasil ocupavam 69% das matrículas nas universidades públicas. Em 2022, não chegam a 40%, segundo o Consórcio formado por pesquisadores de diversas universidades.

A mudança na “cara” da universidade é consequência do que a Lei de Cotas garante, segundo afirmam os defensores dela. Isto porque esta política reserva metade das vagas em universidades e institutos de educação federais para quem estudou em escola pública. Destas vagas, metade vão para alunos que têm renda de, no máximo, 1,5 salário mínimo para cada integrante da família. A quantidade de vagas guardadas para pretos, pardos e indígenas varia de acordo com a população de cada estado, seguindo o censo do IBGE.

Bem mais que entrar na universidade, o estudante precisa chegar à outra ponta: a do diploma. Por isso, a professora universitária defende que as ações que apoiem estes estudantes podem melhorar. “O aluno de cotas pode não estar em situação de necessidade economicamente, mas de qualquer forma precisa se sentir seguro de saber que não vai sofrer discriminação só porque é um estudante que entrou na universidade por cota. Então, precisa de um apoio moral, psicológico e não só apoio financeiro”, comenta.

Neste ano em que a Lei 12.711, de 2012 deve ser colocada em pauta na Câmara dos Deputados, a Casa tem outros projetos que discutem o futuro das cotas. Entre eles o PL 4.656/2020, do senador Paulo Paim (PT-RS), pedindo que a revisão da Lei de Cotas aconteça a cada dez anos, entre outras mudanças. Já o PL 1.676/2021, do senador Rogério Carvalho (PT-SE), considera que a ação afirmativa deve ser consolidada na legislação nacional, ou seja, se tornar fixa no Brasil, sem ser revista. Na intenção contrária, existe o PL 1.531/19, da deputada professora Dayane Pimentel (PSL-BA) que defende o fim do critério de raça dos estudantes para reservar as vagas.

 

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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