Diário do Estado, 10 anos: reparação ambiental bilionária, mas Rio Doce mais pobre em biodiversidade

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Diário do Estado, 10 anos: reparação ambiental já custou bilhões, mas bacia do Rio Doce está mais pobre em biodiversidade

Segundo especialistas, tragédia favoreceu o avanço de espécies exóticas, em detrimento das nativas, e ações de reparação não foram suficientes para reverter os danos.

Diário do Estado, 10 anos: bacia do Rio Doce está mais pobre em biodiversidade, dizem especialistas

Desde que recebeu uma avalanche de rejeitos de mineração da barragem da Samarco, em Mariana, dez anos atrás, o Rio Doce mudou. A tragédia favoreceu o avanço de espécies exóticas, em detrimento das nativas, e a bacia ficou mais pobre em biodiversidade.

Além disso, segundo especialistas, as ações de reparação ambiental executadas na última década não foram suficientes para reverter os danos. Pelo contrário, elas podem estar contribuindo para a perda de variedade da fauna e da flora nos locais afetados.

Inicialmente, essas medidas ficaram a cargo da Fundação Renova, entidade criada e mantida pelas mineradoras – Samarco e acionistas, Vale e BHP. No entanto, com a assinatura de um novo acordo de reparação com o poder público, em 2024, a Renova foi extinta, e as ações ambientais passaram a ser responsabilidade da Samarco.

O Diário do Estado publica nesta semana uma série especial sobre os 10 anos do rompimento da barragem da Samarco. Além de abordar em que resultaram os processos judiciais que tratam do caso, mostraremos como estão a recuperação da área atingida no Rio Doce, as famílias que sobreviveram e foram realocadas e a área tomada pela lama.

Fauna simplificada e invasão de espécies exóticas

De acordo com Frederico Fernandes, biólogo pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e um dos coordenadores da Rede Terra Água, a fauna de peixes ficou mais “simplificada” desde o desastre.

Ele compara os efeitos que o rompimento da barragem causou no rio aos que uma floresta sofre quando é transformada em pastagem.

Segundo o pesquisador, coletas realizadas em diferentes pontos da bacia identificaram a presença majoritária de espécies exóticas, ou seja, organismos de outras áreas que foram introduzidos na região, como piranhas-vermelhas e tucunarés.

O mesmo está acontecendo no solo. De acordo com Geraldo Fernandes, professor de Ecologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, estudos recentes identificaram que minhocas exóticas estão se espalhando rapidamente pelas áreas onde há depósito de rejeito.

Pesquisas indicam também que as taxas de decomposição – processo em que folhas e animais mortos são transformados em material nutritivo para o solo – são muito menores nos ambientes contaminados por rejeito de mineração.

Reparação inadequada com ‘homogeneização’

De acordo com Geraldo Fernandes, as ações de reparação não têm levado em consideração a biodiversidade original da flora, e a vegetação que restou na bacia do Rio Doce já é “completamente diferente” da que existia antes.

Para o professor da UFMG, é preciso repensar o processo de reparação ambiental.

Na avaliação do pesquisador Frederico Fernandes, da UFV, a lentidão do processo de reparação também prejudica o alcance dos resultados esperados.

Falta de esgotamento sanitário

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (órgão colegiado vinculado ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos), José Carlos Loss Júnior, também defende que investimentos em saneamento básico sejam prioridade na reparação.

Segundo dados do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (PIRH), apenas 42 dos 211 municípios com sede na bacia têm ao menos 30% dos efluentes tratados em relação ao esgoto coletado.

O que diz a Samarco

Em nota, a Samarco afirmou que mais de R$ 68,4 bilhões foram investidos em diversas frentes de atuação, desde a tragédia, contemplando as ações ambientais.

Com a assinatura do novo acordo de reparação e o fim da Fundação Renova, a mineradora ficou responsável pela recuperação ambiental da foz do Rio Doce e do litoral de Linhares.

Ainda segundo a Samarco, o monitoramento hídrico na bacia do rio Doce indica que “a qualidade da água apresenta parâmetros similares àqueles anteriores ao rompimento da barragem”.

Sobre o processo de reparação, a mineradora disse que mais de 200 espécies nativas são utilizadas, como jenipapo, ipê rosa e imbaúba. Elas foram selecionadas de acordo com o inventário florestal realizado na bacia do rio Doce. Há ainda uma rede de sementes, que envolve comunidades locais na coleta de sementes nativas para abastecer viveiros e plantios diretos.

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