Diretores afastados denunciam improviso em curso de reciclagem da gestão Nunes: falta de mentoria e planejamento prejudicam formação

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Diretores afastados apontam improviso e falta de mentoria em curso de reciclagem da gestão Nunes: ‘Ficamos sós, olhando para as paredes’

O DE ouviu cinco diretores das delegacias regionais de ensino de Butantã, Penha,
Guaianases e Pirituba. Eles narraram cumprir jornada de 8 horas e meia nas
delegacias sem nenhuma mentoria. Gestão municipal diz que é mentira e que o
grupo já teve mais de 50 horas de formação.

Diretora afastada mostra diretoria de ensino de Guaianases vazia durante
reciclagem

Diretores afastados das escolas municipais de São Paulo pela gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmam que o curso de aperfeiçoamento e reciclagem anunciado pela prefeitura com o objetivo de melhorar a gestão escolar é improvisado, não conta com mentoria nem segue um padrão.

Ao DE, eles destacaram ter sido retirados das atividades escolares pela Secretaria Municipal da Educação, pasta chefiada por Fernando Padula, sem que fossem nomeados substitutos. O DE ouviu profissionais das DREs do Butantã, da Penha, de Guaianases e de Pirituba.

Passados mais de 20 dias desde o início do programa Juntos pela Aprendizagem, eles dizem que as aulas de formação que deveriam ocorrer nas diretorias regionais de ensino (DREs) não estão acontecendo.

O programa prevê que os diretores deveriam passar uma semana recebendo aulas de reciclagem nas próprias DREs onde atuam e, na outra, acompanhariam palestras na sede da secretaria, no Centro de São Paulo.

Mas não foi o que aconteceu com a diretora Alessandra Messias Cardozo, da EMEF CEU Paraisópolis. Ela questiona a falta de planejamento. “Eles nos tiraram da escola para fazer a gente cumprir mais de oito horas de jornada nas delegacias regionais de ensino da nossa área. Mas, chegando à DRE, não tem nenhum tutor, ninguém para nos orientar. Aplicam um questionário que poderia ser respondido pela internet e depois não sabem o que fazer com a gente”, afirmou.

A escola que ela administra pertence à delegacia regional do Butantã e, depois de 20 dias de licença médica, a diretora deveria ter tido a primeira aula de formação na segunda-feira (23).

Um dos registros dessa situação foi compartilhado nas redes sociais pela diretora Ruth Reis.

Na segunda-feira (23,) ela filmou o prédio da Diretoria Regional de Ensino de Guaianases completamente vazio, enquanto aguardava o fim das oito horas de jornada de reciclagem obrigatória (veja vídeo acima).

O registro foi feito às 22h20, onde apenas um vigia e uma colega supervisora estavam no prédio. Como a EMEF Saturnino Pereira, onde ela trabalha, tem Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no período noturno, a jornada teria que ser cumprida até as 23h.

No registro, a diretora, que tem pós-doutorado em Educação pela USP e mestrado em Portugal também na área, afirma que os diretores estão vivendo uma situação de “cárcere privado”.

Ruth é da mesma delegacia de ensino do diretor Carlos Roberto Cardoso, diretor da EMEF Caio Sérgio Pompeu de Toledo, em Cidade Tiradentes, Zona Leste.

Como a jornada de trabalho dele na rede municipal é pela manhã, há três semanas ele vai regularmente às 7h para a DRE Guaianazes cumprir sua carga horária obrigatória.

Chegando lá, ele conta que aguarda sozinho numa sala cerca de 8h30, quando chegam os primeiros funcionários da DRE. Ao DE, ele narrou que o suposto instrutor de reciclagem entra na sala e entrega o material do dia para leitura, tenta um diálogo e vai embora.

“A gente tem percebido que não existe um planejamento central do que se pretende fazer com os diretores afastados. Conversando com os outros diretores nessa condição, verificamos que cada DRE está indo para um caminho, apresentando materiais diferentes e sem um objetivo central de melhorar a escola”, afirmou Cardoso.

“Geralmente os assuntos que eles estão nos trazendo não têm nenhuma relação com o cotidiano que a gente vive nas escolas. Como forma de resistência, a gente se recusa a dialogar sem um cronograma e um plano de aprendizagem. E muito respeitosamente os funcionários entendem. Alguns até pedem desculpas por estarem nos submetendo a esse tipo de situação”, disse.

A DRE Guaianazes tem três diretores afastados participando do programa oferecido pela prefeitura. Cada um deles vai em um horário diferente.

“Estamos sendo submetidos a um processo de humilhação pública e de perversidade sem precedentes no serviço público municipal. O secretário Padula nem sequer nos afastou oficialmente em Diário Oficial e não nomeou os substitutos para não criar fatos contra si que podem ser objeto de ação na Justiça ou do Ministério Público”, afirma Cardoso.

“Enquanto isso, as nossas escolas estão abandonadas. Há crianças que criaram vínculos conosco que não podemos atender porque estamos proibidos de retornar às escolas”, desabafou.

Uma diretora que prefere não se identificar diz que, durante três semanas de formação, foi entregue para ela um roteiro de leituras que ela questiona se precisava mesmo ser cumprido dentro da delegacia regional.

“Na minha área só tem eu e uma outra diretora que está afastada. Então, na prática, os seminários de trocas propostos e publicados no Diário Oficial não estão acontecendo porque estou sozinha. Essas oito horas de leitura que eu fico sozinha na DRE podiam ser cumpridas na escola perfeitamente. Além disso, são leituras que não tem nada de inovador na gestão escolar. A gente questiona aonde eles querem chegar com esse material fraco e facilmente questionável”, disse.

O DE destaca as denúncias dos diretores afastados em relação à falta de mentorias, planejamento e ineficácia do curso de reciclagem proposto pela gestão municipal. As críticas se estendem à ausência de tutores, falta de conteúdo relevante para a prática diária nas escolas e a sensação de abandono vivenciada pelos profissionais durante a jornada de formação. A Secretaria Municipal da Educação se manifesta contrapondo as acusações e reforçando o compromisso em melhorar a gestão pedagógica para beneficiar os alunos da rede municipal de ensino. A controvérsia em torno do afastamento dos diretores e dos critérios utilizados para fundamentar tal medida continuam a gerar debate e questionamentos pela comunidade escolar e demais entidades ligadas à educação.

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