Última atualização 29/02/2024 | 14:43
Autoridades palestinas denunciaram a morte de dezenas de pessoas por disparos feitos por soldados israelenses enquanto se dirigiam aos caminhões de ajuda humanitária na Cidade de Gaza nesta quinta-feira, 29. As Forças Armadas de Israel afirmam que estão investigando o caso, enquanto o Hamas alertou que o incidente pode comprometer as negociações para um novo acordo de cessar-fogo temporário.
Neste mesmo dia, o enclave palestino contabilizou mais de 30 mil mortes desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, iniciada em 7 de outubro.
De acordo com o Ministério da Saúde do enclave palestino, controlado pelo Hamas desde 2007, o balanço é de pelo menos 104 mortos e cerca de 760 feridos, em uma atualização dos números, que anteriormente marcavam pelo menos 81 mortos e 700 feridos.
“As equipes médicas não conseguem lidar com o volume e o tipo de ferimentos que chegam ao Complexo Médico al-Shifa, devido à fraca capacidade médica e humana”, disse o porta-voz da pasta, Ashraf al-Qudra, em um comunicado.
O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) afirmou que há dezenas de mortos e centenas de feridos, “cujo número final ainda não é conhecido devido aos bombardeios israelenses e aos disparos deliberados”. Em uma nota publicada nas redes sociais, a ANP condenou a ação, descrevendo-a como um “massacre hediondo”.
O diretor da emergência do maior hospital do enclave palestino, o al-Shifa, disse que pelo menos 50 pessoas que corriam em direção aos caminhões de ajuda humanitária foram atingidas pelos disparos israelenses.
“Há pelo menos 50 mártires e mais de 120 feridos, incluindo mulheres e crianças, devido aos disparos das forças de ocupação contra milhares de cidadãos que corriam em direção aos caminhões”, disse Amjad Aliwa.
As Forças Armadas de Israel, em uma publicação nas redes sociais, afirmaram que dezenas de pessoas foram mortas devido à “superlotação, aglomeração e atropelamento”. Nas imagens aéreas divulgadas na mesma postagem, é possível ver uma multidão que parece cercar os comboios.
Segundo o Times of Israel, as forças israelenses alegaram ainda que abriram fogo contra a multidão que se movia em direção às tropas na região de uma forma que as “colocava em perigo”. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que estava “ciente dos relatórios”.
Testemunhas relataram à AFP que viram milhares de pessoas correndo em direção aos caminhões de ajuda humanitária que se aproximavam da rotatória de Nablus, ao oeste da Cidade de Gaza, principal cidade do norte do território. O Exército israelense afirmou que estava “verificando” os relatos.
“Os caminhões cheios de ajuda chegaram muito perto de alguns tanques do exército que estavam na área e a multidão, milhares de pessoas, simplesmente avançou sobre os caminhões”, disse uma testemunha que não quis se identificar por motivos de segurança. “Os soldados dispararam contra a multidão quando as pessoas se aproximaram demais dos tanques.”
O Hamas, em um comunicado citado pela Reuters, afirmou que o incidente poderia prejudicar as negociações sobre um novo cessar-fogo temporário para a região. Uma nova proposta tem sido discutida entre as autoridades israelenses, cataris, americanas e egípcias, que também inclui a troca de reféns e prisioneiros palestinos.
Segundo o acordo, o Hamas deverá libertar 40 reféns, incluindo mulheres, crianças e jovens menores de 19 anos, pessoas com mais de 50 anos e doentes. Israel, por sua vez, libertaria cerca de 400 prisioneiros palestinos e não os prenderia mais. A proposta também permitiria que hospitais e padarias em Gaza fossem reparados, e que 500 caminhões de ajuda humanitária entrassem no enclave por dia.
“As negociações conduzidas pela liderança do movimento não são um processo aberto à custa do sangue de nosso povo”, disse o grupo em referência às mortes desta quinta-feira, afirmando que Israel seria responsável por qualquer fracasso nas tratativas.
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