Do interior de SP para o mundo: artista que iniciou carreira com ateliê
improvisado em marcenaria expõe em mais de 20 países
Henrique Oliveira é de Ourinhos, onde começou em um espaço montado em uma antiga
marcenaria que o pai tinha desde os anos 1980. Até março de 2026, esculturas do
artista, feitas com madeira compensada e outros materiais, podem ser vistas em
Taiwan.
Henrique Oliveira é de Ourinhos, onde começou em um espaço montado em uma antiga
marcenaria que o pai tinha desde os anos 1980. Até março de 2026, esculturas do
artista, feitas com madeira compensada e outros materiais, podem ser vistas em
Taiwan.
Compensados de madeira, galhos, canos de PVC, tapumes e até um sofá sem uso.
Todos esses materiais, muitos recolhidos nas ruas, são matéria-prima para as
esculturas do artista plástico Henrique Oliveira e que já puderam ser vistas e
apreciadas em mais de 20 países.
Natural de Ourinhos (SP), os primeiros contatos
de Henrique com as artes foram as aulas de pintura que frequentou no período em
que se mudou para São Paulo, aos 16 anos. O incentivo veio de um artista amigo
da mãe de Henrique.
As aulas aconteciam em paralelo ao curso de comunicação, como explica o artista
em entrevista ao DE.
“Quando me mudei pra capital eu não conhecia muita gente, então passava o tempo
em casa rabiscando ideias e desenvolvendo algumas linguagens. Mas eu não tinha a
referência de ninguém que era artista profissional. Eu não sabia que eu podia
trabalhar pintando quadros, pensava que tinha que empregar meu talento numa área
prática. Só com 18 anos fui pela primeira vez em um museu, o MASP”, lembra.
De volta a Ourinhos, aos 23 anos, Henrique iniciou, realmente, a jornada como
artista em um espaço que foi improvisado como ateliê.
“Foram quase dois anos estudando por conta própria e trabalhando num ateliê
improvisado numa marcenaria semiabandonada que meu pai tinha desde os anos 80.
Nessa época, no interior, eu não precisava de muito para viver. Era tudo muito
simples. Com 25 anos decidi prestar vestibular para artes plásticas e fui
estudar na USP onde aconteceu minha formação.”
Foi também na cidade natal que Henrique fez a primeira exposição, em 1997, no
Teatro Municipal de Ourinhos. A partir daí, ele recebeu outros convites para
expor em cidades do país e voltou a morar em São Paulo, visando a expansão na
carreira artística.
“Entre 1999 e 2007, em paralelo a minha prática de pintura, eu comecei a fazer
colagens e instalações. Aos poucos comecei a participar de exposições[…] Em
2006 fiz a minha primeira individual em uma galeria do circuito. A partir daí
minha carreira começou a deslanchar e passei a viver apenas da minha profissão
de artista”, conta.
Henrique ressaltou ainda que foi um período também bastante favorável para as
artes no país e as impulsionou no exterior.
“Na primeira década dos anos 2000 houve um salto econômico no país e um
desenvolvimento excepcional do mercado de arte. Era uma época em que surgiam
novas galerias em São Paulo, novos colecionadores. Havia investimento em
instituições públicas como a Funarte e o Centro Cultural São Paulo. Isso tudo
ajudou a promover a arte brasileira no mundo.”
Do início das mostras e exposições em Ourinhos, depois em São Paulo e tantas
outras cidades do Brasil, a obra de Henrique chegou ao exterior. A primeira
participação foi em uma exposição coletiva em Paris, em 2005. Dois anos depois,
o artista realizou sua primeira mostra individual no México.
Na lista tem ainda Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Noruega, Reino Unidos e
tantos outros, incluindo duas exposições no Japão, além da que ainda está aberta
em Taiwan.
“Ultimamente eu tenho feito muitas exposições na Europa. Em boa parte destes
países a arte faz parte do cotidiano das pessoas nesse, é um elemento
cultural. Na França, por exemplo, eu percebo que a arte ocupa um lugar
próximo, em importância, do que seria a música popular no Brasil. As pessoas
conhecem os artistas, vão aos museus e às galerias.”
“A minha impressão é que eles veem na arte brasileira um sopro de renovação. A
proximidade da língua latina também permite uma conexão mais forte, como uma
curiosidade por um parente distante”, completa Henrique sobre a receptividade
das obras fora do Brasil.
A conexão com a França também rendeu premiações ao artista, entre elas, o prêmio
Pierre Cardin, na categoria escultura, pela Académie des Beaux-Arts de Paris.
Henrique também recebeu premiações no Japão, no Rio de Janeiro e em São Paulo,
entre elas a de destaque do ano em 2011 pela Associação Paulista de Críticos de
Arte.
Embora atualmente o trabalho do artista esteja concentrado na Europa,
principalmente em Londres, Henrique reforça suas origens no interior de São
Paulo, inclusive na sua arte.
“Em Ourinhos eu cresci em proximidade com a natureza. Quando era criança ia com
os meus pais para chácaras na beira de lagos. Já adolescente eu ia acampar com
meus amigos, fazia trilha nas matas, banho de cachoeira e andava de caiaque
pelos rios que cortam o município. Acho que isso aparece, ainda que
indiretamente, no meu trabalho até hoje.”
Sempre que pode vir ao Brasil, ele ressalta que tenta visitar a cidade, onde o
pai e o irmão ainda moram.
Pela primeira vez, Henrique levou suas obras para Tawain. Até 29 de março de
2026, ele participa da Bienal de Taipei. O artista falou sobre a expectativa
para a exposição e sobre a experiência de ter trabalhado na escultura no país.
“Em Taiwan eu encontrei materiais muito interessantes para fabricar minha
obra. Acho que pela primeira vez estive em um país onde a presença de
compensados usados é tão grande quanto no Brasil. Estou curioso para ver como
as pessoas vão reagir ao ver este material tão presente no seu dia a dia,
transformado na linguagem que emprego na minha obra.”




