O grande ditador (por André Gustavo Stumpf)
Trump é Trump
Donald Trump, criticado no mundo inteiro, festejado nos Estados Unidos e Israel,
tem uma característica que deve ser percebida. Ele sabe gerar notícias dele próprio, frequentou a primeira página de todos os jornais do mundo, dos mais importantes até os menos votados, mas ninguém ficou sem saber o que o novo presidente dos Estados Unidos pretende fazer. E o fez de maneira original: enquanto assinava uma catadupa de decretos, respondia às perguntas dos jornalistas convidados para a inesperada entrevista coletiva no salão oval da Casa Branca. Deu vários tiros no mesmo momento: disparou recados, intimidou adversários e atendeu os jornalistas com bom humor. Desmontou a carranca anterior que o caracterizava.
Mas Trump é Trump. Não perde a oportunidade de dar uma canelada para mostrar que é o novo rei do mundo, personagem saído do cinema de Charles Chaplin, na pessoa do Grande Ditador. Ele brinca com o globo terrestre nos seus delírios de poder. O planeta sobe e desce ao sabor de seus golpes mais ou menos violentos. Ele está deslumbrado com seu próprio poder. Mas derrapa, vez por outra. Ele participou da solenidade na catedral de Washington, que é ecumênica. Foi construída em homenagem aos fundadores do país livre, que não persegue religiosos, ao contrário, os acolhe.
A construção imponente, no cruzamento das avenidas Wisconsin e Massachusettes, ostenta, no seu interior discreto e limpo, bandeiras de todos cinquenta estados que integram a federação dos Estados Unidos. É um símbolo da união, da democracia, da fé na construção de uma sociedade igualitária. Ali, a religião é a defesa dos princípios básicos que nortearam a formação do país. Entre eles, figura a recepção de migrantes. O pedido de clemência, paciência, com os migrantes, crianças e adultos, feitos pela bispa Mariann Edgar Budde teve este sentido. É casada, tem filhos e dedicou sua vida ao trabalho em favor da paz, da tolerância e da democracia. O novo presidente subiu o tom para dizer que ela defendia comunistas. Um disparate monumental.
Passado os primeiros momentos de choque nas principais democracias do mundo, resta esperar para ver se ele conseguirá se manter atuante e desafiador nos próximos quatro anos. Segundo a legislação atual dos Estados Unidos, ele não poderá se candidatar a outro mandato presidencial. Lá o cidadão norte-americano só pode ser presidente da República por duas vezes. Trump está na segunda. É uma tempestade de verão que vai durar quatro anos, a não ser que mude a lei, o que é possível depois que os Estados Unidos começaram a avacalhar a própria democracia. Na realidade, o novo presidente dos EUA é um empresário que fala o que o norte-americano branco pensa. Na média, este personagem enxerga o resto do mundo em plano inferior.
Mas, o norte-americano médio usualmente não conhece história e geografia. Não tem a menor ideia de onde fica o Brasil ou a Polônia. O presidente George Bush filho quando foi convidado a ir a Paris, disse que ouviu dizer que “lá se come muito bem”. Eles sabem que o Canadá fica ao norte o México ao sul. Daí para baixo todos são latinos e não há a menor distinção entre eles. O brasileiro, por exemplo, não existe nas leis de migração nos Estados Unidos. O brasileiro quando chega lá precisa informar a sua procedência. Tem que escolher entre hispanic, ou europeu branco, o que também é discutível. É a visão racista que eles têm do mundo. Trump, além de agasalhar estes conceitos, quer ganhar dinheiro. Só fala em taxar, taxar e taxar. Quer fazer lucros comerciais crescentes.
Ele antecipou sua decisão de perfurar para produzir mais petróleo e deixar a Venezuela ver navios. Parar de comprar o produto do ditador Maduro. Ele vai fazer acordos com a Arábia Saudita, e com Israel, para conseguir uma paz razoável no Oriente Médio. Depois olhar para a reconstrução da faixa de Gaza, que será um dos grandes negócios do mundo. O outro grande negócio é a reconstrução da Ucrânia. Há dinheiro nos bancos internacionais para financiar as obras. Os chineses, que jogam xadrez nas relações internacionais, já fincaram raízes na América Latina e na África. O Brasil, a exemplo do Trump disse, precisa mais dos Estados Unidos, que os Estados Unidos do Brasil.
Aqui, o presidente Lula deu início ao ano eleitoral. Declarou que 2026 já começou. E não garantiu que vá ser candidato a reeleição. Acendeu o sinal amarelo na direção do PT. Não há plano B para eventual substituição de Lula. Os estrategistas do Planalto entendem que Joe Biden demorou muito para apoiar Kamala Harris. Se tivesse feito antes, ela poderia ter vencido a eleição. O panorama político brasileiro deve mudar muito nos próximos meses. A sombra de Trump vai se projetar sobre o Planalto e os nomes da direita e do centro-direita começarão a aparecer. O PT pode perder o favoritismo na corrida presidencial.