O álbum ‘Branco’ de Douglas Germano, bamba dos terreiros paulistanos
Douglas Germano assina sambas com Alfredo Del-Penho, Luiz Antonio Simas e Roberto Didio no álbum ‘Branco’ — Foto: Sofia Colucci / Divulgação
ANÁLISE
Faz dez anos que Douglas Germano, bamba do samba de São Paulo, ganhou visibilidade nacional com a gravação do samba Maria da Vila Matilde (Porque se a da Penha é brava, imagina a da Vila Matilde) na voz de Elza Soares (1930 – 2022). O samba foi a primeira amostra de A mulher do fim do mundo (2015), álbum que recolocou a cantora carioca no topo da música brasileira.
Nascido em novembro de 1968, filho de pai percussionista, Germano já havia sido apresentado como compositor pelo Fundo de Quintal com a gravação de Vida alheia (parceria com Carica) no já longínquo ano de 1991, quando ainda adotava o nome artístico de Cuca, como foi creditado no disco do grupo carioca.
Contudo, foi somente depois da gravação contundente de Elza que Douglas Germano – compositor e multi-instrumentista lapidado nos terreiros (inclusive nos do Candomblé) e nas quadras das escolas de samba de São Paulo – alicerçou a carreira fonográfica.
O percurso fonográfico foi pavimentado com álbuns como Golpe de vista (2016), Escumalha (2019) e Partido alto (2021), este um disco colaborativo com o grupo Batuqueiros e sua Gente. Branco – álbum lançado em 19 de setembro de forma discreta, em edição independente do artista – amplia a coerente discografia do artista.
Gravado entre 19 de março de 2024 e 6 de junho de 2025 no Estúdio Eifel, em Santo André (SP), o álbum Branco de Douglas Germano é quase um flagrante do artista no bloco do eu sozinho.
O sambista assina direção artística, produção musical, arranjos e as 12 músicas do repertório inédito, além de cantar (com alguns feats com nomes como Loreta Colucci), de tocar todas as percussões (um vasto arsenal composto por ferros, atabaques, tamborins, pandeiros, triângulo, surdo, cuíca, caixa, zabumba, agogô e berimbau) e de pilotar cavaquinho – instrumento que aprendeu a manusear de forma autodidata – e violão. Já o toque do violoncelo é dividido com Thiago Faria, creditado na ficha técnica como “músico especialmente convidado”.
Outros músicos fazem intervenções pontuais ao longo das 12 faixas do álbum Branco e há, claro, os parceiros letristas. Luiz Antonio Simas assina os versos de Desbancando Gordon Banks, Xaxará e Tudo é samba (faixa que ecoa a pulsação rítmica da obra de João Bosco & Aldir Blanc). Alfredo Del-Penho é o parceiro de Ramo. Roberto Didio é o letrista de Zelite.
“O Xaxará chacoalha quando chama / A peste, a morte, a vida rara / E no chacoalhar ampara o drama / De quem mora entre o morro e a lama”, canta Germano no supracitado Xaxará, petardo de álbum que transita entre a fé afro-brasileira e a política com aguçada consciência social.
Em suma, Branco é mais um álbum com que pede (mais) passagem este bamba dos terreiros paulistanos.
Capa do álbum ‘Branco’, de Douglas Germano — Foto: Divulgação




