Economia de bairro: fica cada vez mais fácil comer perto de casa em Goiânia

Eles vêm dando cada vez mais as caras onde antes havia somente casas. Em Goiânia, os estabelecimentos gastronômicos passaram a integrar a paisagem de bairros menos tradicionais sem deixarem a desejar na qualidade e na apresentação dos pratos e dos espaços. A pandemia impulsionou profissionais da área de alimentação a criar ou repaginar os próprios negócios, enquanto os consumidores mudaram um pouco os hábitos valorizando mais as micro e pequenas empresas.

Sabe o barzinho da esquina ou o restaurante de uma senhora conhecida na região? Eles se tornaram escolha recorrente para as pessoas se distraírem. Esse movimento de descentralização com mais gente saindo de points e indo até outros bairros ou mesmo evitando sair deles ajudou a impulsionar os números da economia. É que esse tipo de estabelecimento representa pouco mais de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e ajudam a aquecer os segmentos relacionados e ainda a  gerar empregos.

A força desses estabelecimentos ajuda o Brasil a compor índices sociais e econômicos com impacto direto no dia a dia do cidadão comum. Um exemplo é o Buteko do Peixe, no Jardim Ana Lúcia, na capital. A proprietária, Andréia Reis, criou o espaço há cinco anos incentivada por um grupo de amigos que tinham o peixe como estrela das resenhas.  Atualmente, o bar recebe gente de vários lugares. “Movimentamos a economia local. Compramos vários insumos dos nossos vizinhos”, diz a proprietária. O despertar do comércio nos setores fora dos polos gastronômicos ganha cada vez mais fôlego e representatividade.

Aqui?

Os amantes de hambúrgueres especiais e bebidas diferenciadas têm no Santa Comedoria um point com tudo o que oferecem lugares em regiões nobres do setor Marista e Bueno. A fachada, de cara, chama atenção. O estilo moderninho bem aos moldes dos mais badalados e instagramáveis, o cardápio antenado com a gastronomia incluindo sanduíches com ingredientes mais refinados ou despretensiosos, a exemplo de pepperoni, e molhos de combinações totalmente fora do comum (eles têm um de barbecue de goiabada cascão!), e sobremesa com nomes diferentões – de Frida, em homenagem à pintora mexicana, passando por Abracadabra e Bethânia, de Maria, a cantora.

A criatividade se apresenta no menu, mas, principalmente, em manter o local na ativa há mais de seis anos. Vencer em qualquer negócio não é fácil, mas os proprietários da hamburgueria, Maria Clara Pimentel e Youssef Najar, vivem uma situação à parte porque são sucesso e ainda assim enfrentam preconceito pelo endereço da empresa. Ela mora na região desde os dois anos de idade e ele se mudou para viver com a amada. Para ambos, a afetividade pelo espaço e a proximidade com a residência do casal fazem toda a diferença para manter o estilo de vida tranquilo como gostam.

“Muita gente diz que somos muito bons para estarmos aqui, como se tivéssemos feito uma escolha errada. Só que estamos no Goiânia 2 por muitos motivos e as pessoas da região também merecem boas opções. Não se trata apenas de uma questão econômica. A nossa vontade de estar aqui conta bastante. As pessoas buscam qualidade e  são fiéis ao que gostam. Atendemos muitos moradores do bairro e muitos de fora. Para os clientes, vir ao Santa Comedoria é mais do que simplesmente comer. É uma experiência”, diz a empresária.

A administração considera os aspectos locais, apesar de esbarrar em algumas dificuldades. Produtos como sorvete são comprados na sorveteria do bairro e a preferência é por funcionários com residência próxima ao local de trabalho. O problema é associar tantas variáveis envolvidas no estilo “difereciado”. O preço de alguns produtos em grandes redes e um colaborador de outro setor com meio de transporte próprio acabam vencendo nesse jogo em que nem sempre a estratégia da emoção vence a razão.

Engrenagem

O analista do Sebrae Goiás, Paulo Renato Adorno, enxerga esse tipo de iniciativa como um movimento extremamente importante. Ele afirma que o aumento do custo de vida e pandemia promoveram mudanças nos hábitos das pessoas e das empresas. A preferência delas é por estabelecimentos de diversos segmentos que atendem as necessidades, o que inclui gastar nada ou bem menos com deslocamento. Nesse sentido, serviços e alimentação nas redondezas da casa ou do apartamento acabam sendo mais procurados e tiveram de se adequar à nova realidade. 

“As entregas se tornaram uma facilidade na maioria desses pequenos negócios. Em geral, elas são gratuitas num raio de dois quilômetros de distância porque são feitas por funcionários conduzindo bicicletas. Comprar no bairro pode ser mais barato ou mesmo sair pelo mesmo preço que a pessoa pagaria em um grande mercado se pontuar todos os custos envolvidos. Todo bairro tem um comércio tipo salão, barbearia, depilação, açougue, alfaiate e padaria que juntos criam uma demanda, por exemplo, por avental que pode ser fornecido ou consertado pela costureira ali da região e outros necessidades que são atendidas por eles mesmos”, explica.

Essa concorrência entre produtos e serviços entre empresas de grande e pequena escala em diferentes pontos da cidade cria oportunidades que ajudam a desenvolver a economia e favorecer os consumidores. A universitária Mariana Gramacho mora no setor Aeroporto e ama aproveitar o que a região oferece em opções de bares. São vários, porém, a estudante prioriza os mais próximos da residência até por economia com gasolina.

“Não gosto de locais muito longe. Como vou de carona com amigos, fica mais fácil de voltar de Uber, se estiverem afim de ficar mais tempo. Também penso pelo lado deles, pagar gasolina e etc. Tá bem complicado e é um preço muito em conta. Da última vez que fomos, bebemos e comemos bem. Saiu bem mais barato do que a maioria dos bares em Goiânia. Todos saímos satisfeitos. Além disso, o ambiente também é legal”, relembra.

Pormenores

O cuidado consigo e a atenção a detalhes do negócio são as principais estratégias apontadas por especialistas para o sucesso no trabalho do empreendedor. De acordo com o Sebrae, 30% dos MEIs entram em falência em até cinco anos devido a problemas de gestão financeira. Outros erros são não conhecer o público-alvo, não saber o capital de giro necessário, não pesquisar o mercado e comportamento da concorrência, a escolha inadequada da localização, não conhecer os fornecedores, desconhecer aspectos legais, falta de estimativa de investimento e desconhecimento das qualificações necessárias para o funcionamento.

 

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