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Mídias sociais mudam percepção corporal e lotam consultórios de cirurgia plástica

Última atualização 06/09/2022 | 17:38

Já experimentou um filtro de mídia social e reconsiderou a própria beleza natural? Muitas pessoas estão vivenciando esse dilema e lotando os consultórios de cirurgiões plásticos. Os especialistas na área afirmam que as redes sociais estão alterando a percepção do corpo das pessoas, fazendo com que pedidos inusitados tenham se tornado comuns, como copiar a aparência de algum famoso da internet.

No país vice-líder em cirurgias plásticas no mundo, Goiás é o quarto no ranking nacional, de acordo com a regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Empresas de vendas de próteses de silicones apontam o estado como um dos que mais têm procura por intervenção na região dos seios. A vaidade e o alto poder aquisitivo da população ajudam a explicar o cenário favorável para o “estica e puxa” estético que aumentou desde o início da pandemia.

A região dos olhos ficou evidente com o uso de máscara e ganhou espaço como uma das submetidas a intervenções, principalmente as mulheres. Elas, inclusive, são a maior parte do público que procura os consultórios médicos em busca de saúde, beleza e rejuvenescimento. A mudança na faixa etária dos pacientes agora sinaliza aumento da procura de jovens por plásticas.

“O estado tem uma representação bastante expressiva no cenário nacional. A pandemia permitiu que muitas pessoas desengavetassem o sonho de passarem por uma cirurgia plástica. Temos visto crescimento exponencial de intervenções nessa área, que tem um pós-operatório bastante simples e que atende de forma expressiva a demanda por rejuvenescimento facial”, destaca a presidente da SBCP-GO, Raquel Eckert.

Embora a especialidade ofereça possibilidades menos invasivas, a cirurgia em si tem sido a motivação de pacientes em busca de transformação radical na imagem pessoal. De acordo com a médica, alguns mostram fotos de uma pessoa famosa e pedem para se tornarem parecidos. Eckert afirma ressaltar para esse grupo que a medicina tem limites variando conforme o resultado pretendido, tipo de corpo e composição cutânea.

“Não somos escultores de barro, mas sim técnicos que trabalham com o corpo da pessoa. As mídias sociais e os filtros de aplicativos são extremamente nocivos na percepção corporal e estimulam uma doença chamada dismorfismo corporal, a falta de identificação da pessoa em frente ao espelho. É o pior problema que podemos enfrentar na cirurgia plástica porque é um tipo de paciente que ficará eternamente insatisfeito com o procedimento”, frisa.

O cirurgião plástico Paulo Renato de Paula afirma que costuma ocorrer muita comparação com blogueiras. As insatisfações são decorrentes de insegurança, carência e grau de cobrança pessoal elevados, muitas vezes inalcançáveis, segundo ele. O médico ressalta que a intervenção possibilita uma versão melhor do paciente, a partir das características do corpo dele, e, por isso, os resultados são individualizados.

“Precisamos tomar cuidado com as mídias sociais porque algumas pessoas usam de forma inadequada. Por exemplo, fotografia de pré e pós operatório é uma infração ao Código de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina. Muitos pacientes acabam se baseando por estas fotos, mas, muitas vezes, elas têm edição, jogo de luz e sombra e as pessoas  veem resultados que não são verdadeiros”, pontua. 

Custo x Benefício

Para realizar o sonho de uma nova aparência, especialmente do rosto, muitas pessoas preferem se submeter a outros profissionais da saúde. O custo é o principal atrativo para ela, embora a integridade física possa ser violada. A presidente da SBCP-GO lembra que a harmonização facial é um dos procedimentos pioneiros feitos por cirurgiões plásticos. A defesa dela pela exclusividade do procedimento por médicos especialistas é o conhecimento aprofundado e preparo para lidar com intercorrências.

“Nós injetamos substâncias em algumas regiões da face que podem obstruir artérias e veias do rosto, promovendo necrose e perda tecidual com sequelas irreversíveis, inclusive cegueira É muito importante que quem o realize tenha profundo conhecimento de anatomia e detalhes de vasos da face, logo podemos oferecer o mesmo tratamento com injetáveis com nível de segurança maior”, defende.

Ela chama atenção para as consequências da escolha de um profissional sem o preparo técnico. Raquel diz que os médicos sempre recebem inúmeros casos de complicações gravíssimas, sendo algumas difíceis de corrigir. A orientação é a mesma de Paulo Renato. “Quem está fazendo tem que estar apto a tratar as complicações, que ocorrem com qualquer profissional, mas deve estar apto para saber conduzi-la”, reforça.

A escolha do médico deve se pautar em cuidados simples. Eles sugerem conferir se há um Registro de Qualificação de Especialista (RQE), que comprova a experiência e aprofundado conhecimento teórico do cirurgião plástico, se está estudando e se aprimorando com frequência, marcar uma consulta e se decidir.