Em Brasília, Caiado defende que Goiás vive “avanço substantivo” na alfabetização de crianças

O índice de estudantes alfabetizados em Goiás ao final do 2º ano do ensino funtamental, em 2023, foi de 67%, resultado superior à média nacional (56%). A informação divulgada nesta terça-feira ,28, pelo Ministério da Educação aponta a educação pública goiana na quarta colocação nacional, atrás apenas do Ceará (85%), Paraná (73%) e Espírito Santo (68%). Esse é o primeiro resultado do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, lançado no ano passado pelo governo federal. Em levantamento anterior, realizado em 2021, o estado possuía índice de alfabetização de 39%.

“Em Goiás, no ano de 2021 mais de 70% das crianças não sabiam ler e nem escrever, muito menos interpretar texto no segundo ano do ensino fundamental. E, hoje, chegamos a esse nível, um avanço substantivo implantado no estado”, afirmou o governador Ronaldo Caiado, no evento de apresentação dos dados, em Brasília (DF). A solenidade contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Educação, Camilo Santana, e de governadores de todos os estados que aderiram à iniciativa.

Em Goiás, os esforços para melhoria dos níveis de alfabetização estão concentrados no programa Alfa Mais Goiás, criado em 2021, ou seja, antes mesmo do Compromisso Nacional. O programa está em execução em todos os 246 municípios goianos, com oferta de material didático, cursos de formação para professores e atividades especiais. “Goiás assumiu esse compromisso e hoje já temos registradas 300 mil crianças atendidas, é um marco histórico. Temos 14 mil professores cadastrados e ajudamos a cuidar de 3,2 mil escolas”, ressaltou a secretária da Educação, Fátima Gavioli.

Para Caiado, o investimento nesta fase da vida escolar das crianças é fundamental para assegurar oportunidades no futuro. Em discurso, ele explicou que deficiências na alfabetização provocam “sequelas enormes nos jovens, que não têm condições de cursar uma faculdade no futuro, em decorrência da falta de uma base sólida”. O chefe do Executivo ainda frisou que os estudantes goianos são acompanhados ao longo de todo o ensino fundamental e médio, com acesso a incentivos como o Bolsa Estudo, que destina R$ 111,00 por mês a cada aluno do 8º ano e da 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio.

O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou a conquista da educação brasileira no período pós-pandemia. “Retornamos ao patamar de 2019, um avanço muito importante”, frisou. Naquele ano citado por ele, a média de alfabetização estava em 55%. Em 2021, em meio à pandemia de Covid-19, caiu para 36%. Já em 2023, foi de 56%. “Só acreditamos em qualquer política pública da educação básica se for construída através do pacto federativo, porque quem tá lá na ponta são estados e municípios”, encorajou.

A meta para a rede pública é que todos os estados tenham níveis de alfabetização superiores a 80% até 2030. No caso de Goiás, o objetivo é crescer dois pontos percentuais a cada ano. “A gente vai acompanhar todos os municípios e todos os estados. Temos informação e vamos acompanhar, não pra ficar fazendo concorrência entre quem fez e quem fez menos, mas para orientar e discutir junto como é que a gente melhora o que não está bem. E também como é que a gente divulga o que vai bem, para que outros possam seguir os mesmos passos”, finalizou o presidente Lula.

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Uma a cada 3 famílias diz que filhos não aprendem o esperado na escola

Pais, mães e responsáveis estão preocupados com a permanência e com o aprendizado dos filhos na escola. Pelo menos um a cada três responsáveis acredita que os filhos não estão aprendendo o esperado para a idade. Diante dessa situação, 91% acreditam que é preciso fortalecer o ensino de matemática e mais de 80% apoiam a ampliação de atividades artísticas, esportivas e culturais, além da inclusão de temas sobre diversidade étnico-racial.

As informações fazem parte da pesquisa Opinião das Famílias: Percepções e Contribuições para a Educação Municipal, realizada pelo Instituto Datafolha com 4.969 pais e/ou responsáveis por crianças e adolescentes de 6 a 18 anos que estudam em escolas públicas de redes municipais de ensino. A pesquisa foi encomendada pela Fundação Itaú e pelo Todos Pela Educação.

“Acho que esses dados mostram um cenário, de fato, de preocupação. Os pais desses estudantes veem que existem diversos desafios olhando para o contexto da escola, que têm estudantes que estão abandonando, que esses estudantes não estão muito motivados para ir para a escola, que eles não estão aprendendo”, diz a coordenadora de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Natália Fregonesi.

Para ela, isso é uma sinalização importante para os governantes: “É uma percepção da sociedade de que a educação precisa melhorar. Então, acho que é uma sinalização muito importante para os governadores, para os prefeitos, para todos os governantes, de que é preciso investir e dar prioridade política para a educação”, diz.

A pesquisa mostra uma preocupação com a permanência escolar: metade (51%) dos responsáveis concordam que “muitos estudantes estão abandonando a escola”. Entre as famílias com menor rendimento, de até um salário mínimo, esse percentual é maior, 53%. Entre aquelas com maior rendimento, de mais de cinco salários mínimos, esse percentual cai para 37%.

Considerando apenas os responsáveis por estudantes dos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, o abandono escolar é uma preocupação mencionada pela maioria (57%) das famílias dos estudantes.

A qualidade da aprendizagem também é preocupação dos pais. Entre os responsáveis por estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, 36% não acreditam que seus filhos estão adquirindo o conhecimento esperado para a idade. Já nos anos finais, essa porcentagem é ainda maior, 41%.

Mais aulas

Os responsáveis acreditam que os estudantes precisam de mais reforço nas escolas. Nove em cada dez (91%) acreditam que é imprescindível fortalecer o ensino de matemática nos currículos escolares. Além disso, mais de 80% apoiam a ampliação de atividades artísticas, esportivas e culturais, além da inclusão de temas sobre diversidade étnico-racial.

“Esse ponto de melhoria do ensino da matemática é um ponto que apareceu muito forte na pesquisa. Acho que é algo bastante perceptível para os pais que acompanham esses estudantes em casa, que veem as dificuldades. É um ponto que de fato precisa ser priorizado e isso está na percepção dos pais, mas está também nos resultados educacionais. Então, quando a gente olha para os índices educacionais do Brasil, a gente vê que existe uma lacuna muito grande, especialmente em matemática, em que o país não consegue avançar”, diz Fregonesi.

Essa lacuna ficou evidente em pesquisa internacional divulgada recentemente que mostrou que mais da metade dos estudantes brasileiros do ensino fundamental não domina conhecimentos básicos de matemática. De acordo com os resultados do Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Timss), divulgado este mês, esses estudantes estão abaixo do nível considerado baixo.

Isso significa, por exemplo, que a maior parte dos estudantes do Brasil do 4º ano do ensino fundamental não foi capaz de resolver questões de soma de números em matemática ou mesmo, em ciências, identificar que plantas precisam de luz para sobreviver.

Escolas em tempo integral

Quando perguntados sobre a ação prioritária para as próximas gestões municipais na educação, a expansão do número de escolas em tempo integral aparece em primeiro lugar, apontada por 30% dos entrevistados.

“Nas escolas de tempo integral, para além das atividades curriculares que já tem na escola regular, se abre uma possibilidade de oferecer outras atividades e outras disciplinas para esses estudantes. Então, é possível ter mais momentos, por exemplo, de reforço de matemática, é possível ter mais momentos de aulas voltadas para habilidades artísticas”, diz a coordenadora.

Em 2023, o governo federal lançou o Programa educação em tempo integral. O programa prevê o aumento das vagas em tempo integral, ou seja, com uma jornada igual ou superior a 7 horas diárias ou 35 horas semanais. Para isso, a União irá repassar recursos e oferecer assistência técnica a estados, municípios e Distrito Federal. A meta é alcançar, até 2026, cerca de 3,2 milhões de matrículas.

Outras prioridades elencadas para os novos gestores incluem a necessidade de aprimorar a infraestrutura escolar (20%) e as condições de trabalho dos professores (17%), bem como realizar investimentos na alfabetização dos estudantes (17%).

As melhorias de infraestrutura são demandas mais presentes principalmente entre famílias das regiões Norte (23%) e Nordeste (26%). Na região Sudeste, apenas 12% consideram esse tipo de melhoria como prioritária.

Valorização dos professores

A pesquisa mostra também que as famílias reconhecem que os professores são o elemento mais importante para a garantia da aprendizagem de crianças e adolescentes. Os resultados mostram que 70% dos pais e responsáveis relataram que os filhos se sentem acolhidos pelos professores. Além disso, itens como maior acompanhamento do desenvolvimento dos alunos e melhor formação e qualificação dos docentes receberam 86% de concordância entre os entrevistados como centrais para a melhoria da aprendizagem dos estudantes.

“Isso é muito interessante para mostrar o quanto que os professores, de fato, são reconhecidos como tendo essa importância na vida dos estudantes”, diz Fregonesi. “É mais um sinal para os nossos governantes de que, de fato, esses são os profissionais mais importantes para garantir a aprendizagem dos estudantes. Então, é preciso investir nesses profissionais, dar boas condições de trabalho, valorização, garantir sua formação, sua qualificação”, defende.

A pesquisa foi realizada entre julho e agosto de 2024. Foram feitas tanto entrevistas pessoais com abordagem dos entrevistados em pontos de fluxo populacional, distribuídos geograficamente nas áreas pesquisadas, nas cinco regiões do país, quanto abordagens telefônica a partir de sorteio aleatório de números de telefones celulares distribuídos de acordo com o código DDD.

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