Emails comprovam negociação entre governo e empresa que denunciou propina

E-mails obtidos pela Folha de S. Paulo mostram que o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro, negociou a venda de vacinas com representantes da Davat Medical Supply. A informação foi confirmada ao jornal por um representante da empresa nesta terça-feira (29) que afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1 pode dose em troca de assinar contrato. No total, o governo de Jair Bolsonaro pretendia lucrar com US$ 2 bilhões gerados com o esquema de corrupção.

De acordo com a reportagem, os e-mails foram trocados entre o ex-diretor de Logística do Ministro da Saúde, Roberto Ferreira Dias, pelo CEO da empresa, Herman Cardeas, e por Cristiano Alberto Carvalho, que se apresentou como procurador dela.

Dias enviou o e-mail em que é mencionado um reunião ocorrida sobre o tema. Ele foi apontado como o autor da proposta de propina e foi exonerado do cargo no Ministério da Saúde nesta terça-feira (29) após as revelações.

Em uma das conversas, trocadas no dia 26 de fevereiro desde ano às 8h50, Cardenas informou a oferta de 400 milhões de doses da AstraZeneca, citando Luiz Paulo Dominguetti Pereira como um dos representantes da empesa. “Fico no aguardo para ajudar a obter vacinas para seu país”, diz.

Em entrevista ao jornal, Dominguetti teria dito que jantou com o ex-diretor na noite anterior ao e-mail em um restaurante em Brasília, quando ouviu a proposta de propina de US$ 1 por cada dose de vacina negociada.

No e-mail seguinte, Roberto Dias solicita uma reunião com a empresa na tarde do mesmo dia. “Este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos”, informa Roberto Dias, solicitando a reunião para às 15 horas.

No mesmo dia, Dias teria recebido a informação que a propina não seria paga. Com a negação, o governo então teria encerrado as negociações.

Roberto Ferreira Dias foi exonerado do cargo após as acusações. O ex-diretor irá ser ouvido na próxima sexta-feira (2) na CPI da Covid.

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Indiciado, Bolsonaro diz que Moraes “faz tudo o que não diz a lei”

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta na rede social X, nesta quinta-feira (21), trechos de sua entrevista ao portal de notícias Metrópoles. Na reportagem, ele informa que irá esperar o seu advogado para avaliar o indiciamento. 

“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse o ex-presidente.

Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, criticou Bolsonaro.

Bolsonaro é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

O relatório final da investigação já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Na última terça-feira (19), a PF realizou uma operação para prender integrantes de uma organização criminosa responsável por planejar os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

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