Empreiteiros goianos com contratos de R$ 19 milhões na Codesvaf receberam auxílio emergencial

O braço do “cartel do asfalto” em Goiás tem três empresas cujos donos são ex-beneficiários do Auxílio Emergencial. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que o governo federal teria reservado R$ 19,3 milhões para o pagamento das entidades com sede em Fazenda Nova, município com cerca de 5 mil habitantes. Elas teriam vencido pregões eletrônicos da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para o fornecimento de veículos tipo pick up 4×4 para a superintendência goiana da empresa pública.

De acordo com o acórdão, haveria uma série de irregularidades cometidas pela BR Prime Comercial e Serviços Ltda., Horus Comercial e Serviços Ltda. e Inovação Distribuição e Comércio Ltda. Uma delas é a existência de fraude no processo licitatório pela participação de empresas “de fachada” que se utilizavam de “laranjas” como proprietários. A própria sócia-proprietária da BR Prime Comercial e Serviços Ltda. teria admitido não ser a real dona da empresa. Ela teria emprestado o nome para que o agora ex-marido atuasse de fato na gestão da firma. 

“Existe evidente incompatibilidade entre a condição econômica exigida para o público-alvo contemplado pelo auxílio e aquela necessária para a aquisição e integralização de cotas em empresas, de forma que as credenciem a participar de certames do porte dos discutidos nestes autos, que chegaram, somados, a aproximadamente R$ 43 milhões”, se manifestou o ministro relator Jorge Oliveira.

As empresas foram notificadas a se defender, mas nenhuma conseguiu comprovar a capacidade econômico-financeira dos sócios administradores à época em que ingressaram na sociedade formada por apenas uma pessoa. O representante legal da  Inovação Distribuição e Comércio Ltda. tinha o ex-senador e procurador de Justiça aposentado do Ministério Público do Estado de Goiás, Demóstenes Torres, como um dos advogados.

Condições reais de operacionalização e os capitais sociais declarados também não tiveram comprovação, embora estes variem entre R$ 300 mil e R$ 1 milhão e o faturamento obtido superasse R$ 2,5 milhões, de acordo com a Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog). Os supostos empresários receberam parcelas do programa de transferência de renda aos mais vulneráveis durante a pandemia de covid entre 2020 e 2021. Coincidentemente, todas as empresas têm o mesmo contador responsável. 

 

Trecho do relatório em que a Selog informa aos ministros do TCU que “empresários” recebiam o Auxílio Emergencial

 

A partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o TCU percebeu ainda não haver funcionários vinculados. Os diferentes objetos sociais das empresas ou, popularmente as áreas de atuação, chamaram atenção dos técnicos por contemplarem diversos serviços que a administração teria interesse em contratar. Os ministros proibiram as três empresas de participarem de licitações com o governo federal e com municípios e estados com o processo custeado pelo Executivo federal por cinco anos e determinaram o cumprimento de outras medidas.

O esquema de fraudes em licitações de asfalto ocorreu durante o governo Bolsonaro pela Codevasf, que realiza obras de pavimentação e máquinas em regiões metropolitanas em todo o país. A avaliação do TCU apontou irregularidades entre 2019 e 2021. O chamado Cartel do Asfalto  seria formado por 35 empresas. O problema teria sido identificado pelos técnicos na sede da estatal federal, em Brasília, e nas superintendências regionais em 63 pregões com valor total de R$ 1,13 bilhão concorridos por 27 empresas. 

Mudança drástica na Codesvaf 

A Codevasf,  do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), foi criada para promover projetos de irrigação no semiárido, mas passou a cuidar de asfalto na atual gestão do chefe do Executivo federal. Denúncias relacionando a Companhia a irregularidades sugerem que ela serviu de moeda de troca da bancada do Centrão do Congresso Nacional por apoio a pautas do governo Bolsonaro.

A Codevasf refutou ter cometido práticas em desacordo com a legislação porque “os procedimentos licitatórios da instituição são realizados de acordo com leis aplicáveis, por meio do portal de compras do governo federal, e são abertos à livre participação de empresas de todo o país”, afirmou por meio de nota.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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