Empresário condenado por matar esposa após discussão por ciúmes: ‘Não sou má pessoa’

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Vídeo mostra júri de empresário condenado por matar esposa com 25 facadas dizendo que cometeu crime após ser chamado de ‘corno’

‘Não sou uma pessoa ruim’, disse Dadie Alves na semana passada, quando recebeu pena de 29 anos de prisão por homicídio motivado por ciúmes, sem defesa da vítima e feminicídio. Carla Vieira foi morta no apartamento em 2024 em Santana de Parnaíba, Grande SP.

Empresário diz que não é pessoa má após matar esposa com 25 facadas

Empresário diz que não é pessoa má após matar esposa com 25 facadas

O empresário Dadie Barbosa Alves, condenado por matar a esposa com 25 facadas no ano passado, alegou em sua defesa que atacou Carla de Oliveira Vieira após, segundo ele, ter tido um “surto” quando ela, supostamente, o chamou de “corno” e “chifrudo”.

DE teve acesso ao interrogatório do réu no julgamento, que foi gravado pela Justiça na semana passada no Fórum de Santana de Parnaíba, Grande São Paulo, mesma cidade em que ocorreu o crime (veja vídeo acima).

Em 20 de agosto, Dadie recebeu pena de 29 anos, oito meses e 17 dias de prisão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil (ciúmes), recurso que dificultou a defesa da vítima (usou uma faca) e feminicídio (assassinato cometido contra a mulher no contexto de violência doméstica).

> “O denunciado, movido pelo ciúmes em razão de uma suposta traição da vítima, desferiu nela diversos golpes de faca até a sua morte. No caso, o réu evidenciou mentalidade possessiva e patriarcal, acreditando que poderia ceifar a vida da vítima em razão da suspeita de uma traição, tornando ainda mais reprovável a conduta homicida”, escreveu a juíza Natália Domingues Takaki, que classificou o réu como frio e calculista na mesma sentença.

DISCUSSÃO POR CIÚMES

DE e Carla eram casados e moravam em Santana de Parnaíba, Grande São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Dadie e Carla eram casados e moravam em Santana de Parnaíba, Grande São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

O crime foi cometido em 19 de junho de 2024 no apartamento do casal em Santana de Parnaíba. A filha de 4 anos de Dadie e de Carla não estava no imóvel no momento. O agressor tem 39 anos e era sócio de um restaurante japonês. A vítima estava com 29 anos e fazia faculdade de direito.

Dadie contou aos jurados que matou a esposa após discutirem sobre a traição dela com outro homem, descoberta por ele dois meses antes, e que o casal já havia conversado a respeito.

“Veio para cima de mim, aí já veio me xingando”, disse Dadie no interrogatório ao responder às perguntas das partes envolvidas no processo.

> “[Dizendo] que ele [o amante] era melhor que eu, que era mais gostoso que eu, que ele era muito melhor que eu, que eu não era homem para ela e que eu era um velho para ela, que eu era corno e chifrudo mesmo”, falou o réu, que alegou não se lembrar de mais nada depois que atacou Carla. “Aí… me dando um surto, eu perdi a cabeça. Para mim, eu tinha atingido ela com um garfo, eu tava com um garfo na mão.”

VÍDEO MOSTRA ASSASSINO COM FACA

Câmeras de segurança do prédio mostram Dadie Alves com uma faca e sendo preso após esfaquear a esposa, Carla Vieira, que foi retirada ferida do elevador pela GCM — Foto: Reprodução

Câmeras de segurança do prédio mostram Dadie Alves com uma faca e sendo preso após esfaquear a esposa, Carla Vieira, que foi retirada ferida do elevador pela GCM — Foto: Reprodução

Outros vídeos, gravados por câmeras de segurança, foram mostrados aos sete jurados (veja também acima). As imagens mostram que Dadie não segurava um garfo e sim uma faca, em frente ao elevador. Ele tenta esconder a arma sob a camisa.

Segundo a perícia, é a mesma faca de 12 centímetros que ele usou para esfaquear Carla 11 vezes no peito, três vezes na barriga, quatro vezes nas costas, cinco, nas pernas e uma, na mão.

O irmão de Carla, que mora no mesmo imóvel do casal, chegou a segurar Dadie quando ouviu os gritos da vítima. Mas mesmo assim, segundo a acusação, o empresário ainda conseguiu dar três golpes na esposa.

As câmeras do condomínio ainda mostram Dadie sendo contido em flagrante por outros moradores enquanto o corpo de Carla é retirado pela Guarda Civil Municipal (GCM) dentro de um lençol saindo pelo elevador (assista acima).

A maioria do júri, formado por cinco mulheres e dois homens, não acreditou na versão da defesa do acusado, que queria a absolvição de Dadie se valendo da tese de homicídio privilegiado — que aos olhos da lei seria cometer um crime sob forte emoção, o que diminuiria sua culpa e, consequentemente, a pena.

O QUE DIZEM DEFESA, ACUSAÇÃO E FAMÍLIA

Dadie Alves (com camisa azul) durante seu interrogatório no júri no qual foi condenado por matar a esposa Carla Vieira em Santana de Parnaíba. O advogado dele, Bruno Perecin (à esquerda), pediu a anulação do julgamento — Foto: Reprodução

Dadie Alves (com camisa azul) durante seu interrogatório no júri no qual foi condenado por matar a esposa Carla Vieira em Santana de Parnaíba. O advogado dele, Bruno Perecin (à esquerda), pediu a anulação do julgamento — Foto: Reprodução

O advogado de Dadie, Renato Perecin, falou ao DE que recorreu à Justiça pedindo anulação do júri que condenou seu cliente. “O recurso de apelação já foi interposto para tentar um novo julgamento, por ter ocorrido julgamento contrário as provas dos autos e subsidiariamente a redução de pena.”

A acusação foi feita pela promotora Renata Fuga, representante do Ministério Público (MP). “Carla foi mais uma vítima de feminicídio”, afirmou à equipe de reportagem. “Ela foi morta por seu próprio companheiro e pai de sua filha. Por aquele que deveria tê-la amado e protegido.”

“Ele deu no primeiro momento 21 facadas e foi colocado para fora do apartamento pelo irmão dela, desceu as escadas, subiu de elevador, voltou e deu mais quatro facadas na Carla”, disse Ricardo Martins, advogado assistente de acusação, e que foi professor da vítima na faculdade de direito.

Ao lembrar que não vê a filha desde que foi preso, Dadie chorou num dos poucos momentos em que se emocionou no julgamento. A criança está sob a guarda dos avós maternos.

“A família está mais tranquila e em paz diante do julgamento pelo Tribunal do Júri, mas isso não trará a Carla de volta”, falou um dos tios da vítima ao DE.

Filha de Dadie e Carla está sendo cuidada pelos avós maternos após pai matar a mãe por ciúmes — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Filha de Dadie e Carla está sendo cuidada pelos avós maternos após pai matar a mãe por ciúmes — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

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