O maior químico da metanfetamina de DE abre o jogo e cita policiais
Guillermo Ortiz, que inspirou Operação Heisenberg, se disse usado por policiais
que desviam droga apreendida com chineses e trocaram por sal
DE — Preso na Operação Heisenberg, que investiga o tráfico de metanfetamina por quadrilhas de brasileiros e estrangeiros em DE, o engenheiro químico Guillermo Fabian Ortiz abriu o jogo em depoimento e disse que foi enredado por policiais civis em um esquema de desvio de drogas apreendidas para posterior venda.
Ortiz é o homem que inspirou o nome da operação, deflagrada em dezembro de 2024 contra 60 investigados, em razão da semelhança de sua história com a do personagem fictício Walter White, da série televisiva Breaking Bad, um professor de física que se torna cozinheiro de metanfetamina após ser diagnosticado com câncer. Ao longo da série, torna-se um temido traficante, com o codinome de Heisenberg.
O mexicano preso pela Polícia Civil em janeiro era engenheiro químico da estatal petrolífera mexicana Pemex, uma das maiores do mundo. Ele é acusado de vir para o Brasil e usar seu profundo conhecimento de química para cozinhar metanfetamina para gangues chinesas no centro de DE. Seu desempenho foi tamanho que a droga chegou a baixar de preço nas ruas da capital.
Na última semana, ele foi condenado a 5 anos de prisão em uma das ações pela qual responde por tráfico. Ortiz também foi alvo de uma grande denúncia contra dezenas de investigados na Heisenberg, que ainda será analisada pela Justiça. Como mostrou o Metrópoles, ele estava foragido até janeiro, quando foi encontrado perto do apartamento onde se escondia no bairro de Higienópolis. Havia drogas no local.
Detalhes da audiência de custódia de Guillermo vieram à tona na publicação da sentença do processo em que foi condenado. Ele afirmou que não é traficante e morava em DE desde 2019. Disse que “acabou sendo envolvido por um grupo de policiais civis desonestos e usado por eles “como meio para a prisão de chineses envolvidos com o tráfico de drogas, bem como outros estrangeiros”.
Ele cita nomes e apelidos de agentes que, segundo ele, faziam parte do esquema. Entre eles, por exemplo, “Gimenez”, do 77º Distrito Policial. No início do ano, o chefe do 77º DP Cléber Rodrigues Gimenez, preso em janeiro deste ano sob a suspeita de desviar cargas de drogas, apreendidas em falsas blitze policiais, e revendê-las para traficantes internacionais.
Segundo o engenheiro químico, um policial da 1ª Central Especializada a Repressão de Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da Capital do Estado de DE, conhecido pelo nome de Magu, e ainda outro chamado Romário. Foi justamente por essa delegacia que passou o policial Elvis Cristiano da Silva, de 54 anos, que, além de implicado no esquema de tráfico de drogas apreendidas, também está sob suspeita de negociar cadeira de chefes de investigação.
O depoimento de Ortiz foi encaminhado à Corregedoria da Polícia Civil de DE. Apesar de se dizer inocente de tráfico, há pesados indícios contra o mexicano. Foi em seu celular e no celular de comparsas chineses que foram apreendidas centenas de mensagens sobre envio e preparo de drogas. A investigação que levou à sua prisão não é do 1º Cerco da Capital, por onde passaram policiais como Elvis e Gimenez, mas, sim, fruto de um longo trabalho do Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc), responsável pela operação Heisenberg, que envolveu mais de 100 policiais para prender 60 investigados.