O enredo da Mangueira deste Carnaval traz à tona a cultura banto, presente na culinária, na música e na língua brasileira. Palavras como ‘xodó’, ‘chamego’ e ‘macumba’, assim como pratos típicos da culinária afro-brasileira como o frango com quiabo, são algumas das heranças deixadas pelo povo banto, que chegou escravizado ao Brasil e desembarcou no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro. Essa influência é explorada pela Mangueira no desfile deste ano com o enredo “À flor da terra: no Rio da negritude entre dores e paixões”.
As raízes banto estão presentes em diversos aspectos do cotidiano carioca. O samba, por exemplo, tem influências banto, como o uso da cuíca, instrumento característico dessa cultura. Durante a pesquisa para o desenvolvimento do enredo, membros da Mangueira visitaram cidades em Angola, de onde o povo banto foi trazido para o Brasil, para conhecer a cuíca “original”. Além disso, práticas como o ano-novo na praia e o jongo, presentes na cultura carioca, também são heranças banto.
A presença banto no Rio de Janeiro vai além da música e da culinária, estendendo-se também às práticas de convívio e religiosidade. O culto aos pretos-velhos na Umbanda, o jongo no Morro da Serrinha e a africanização de rituais cristãos são exemplos de como essas influências estão enraizadas na sociedade carioca. Palavras do dia a dia, como “xodó”, “chamego”, “jiló” e “fubá”, também têm origem banto, contribuindo para o rico tecido cultural da cidade.
O chef João Diamante, do restaurante Dois de Fevereiro, no Largo da Prainha, ressalta a influência banto na culinária afrobrasileira, com pratos como angu e quiabo. Ao mesclar referências da África, da Bahia e do Rio de Janeiro, João celebra a diversidade cultural presente na gastronomia brasileira. Essa mistura de culturas e tradições contribui para a construção da identidade culinária do país.
O desfile da Mangueira é inspirado na dissertação de mestrado do professor Júlio César Medeiros, que destaca a relevância dos descendentes bantos na formação da cultura brasileira. A escola de samba atribui aos “crias” da Mangueira, como José William Ferreira de Paula, de 12 anos, protagonismo na celebração dessa ancestralidade banto. Através desse enredo, a verde e rosa busca resgatar e valorizar a contribuição desses povos para a história e a identidade do Rio de Janeiro.
José William, tamborinista da escola mirim Mangueira do Amanhã, representa a quarta geração de mangueirenses em sua família. Com uma forte ligação com suas raízes bantas e uma história marcada pela música e pela cultura da Mangueira, Zé personifica a continuidade e a importância dessas tradições. A presença de descendentes bantos no desfile da Mangueira reforça a diversidade e a riqueza cultural presentes no Carnaval carioca.
O manifesto “O Rio é banto”, lançado pela Estação Primeira no YouTube, destaca o orgulho e a valorização das influências bantas na cultura carioca. Através da música, da dança, da gastronomia e de outras manifestações culturais, a herança deixada pelo povo banto se mantém viva e pulsante na cidade. A Mangueira, ao abordar esse tema em seu desfile, reforça a importância de reconhecer e celebrar as contribuições desses povos para a construção da identidade carioca.