Entenda o que acontece após abertura de inquérito da PF contra Bolsonaro

A Polícia Federal abriu, na última segunda-feira (12), um inquérito para investigar se o presidente Jair Bolsonaro cometeu ou não o crime de prevaricação ao não comunicar os órgãos de investigação sobre os indícios de corrupção nas negociações para compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde. A irregularidade foi relatada pelo Deputado Federal Luiz Miranda, que teria sido informada diretamente ao Presidente Bolsonaro.

O advogado criminalista e sócio da Bernardo Fenelon Advocacia, Bernardo Fenelon, explica que o crime de prevaricação está previsto no artigo 319 do Código Penal e prevê detenção de três meses a um ano, além de multa, para o servidor público, independentemente do escalão, que retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

“O que ocorre é que, ao tomar ciência da existência de supostos atos ilícitos, seria obrigação funcional do servidor público, reportar para que houvesse a investigação devida, eis que se trata de um crime contra a Administração Pública”, explica Fenelon.

A instauração do referido inquérito foi autorizada pela Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber atendendo a um pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).

“O inquérito seguirá os trâmites normais de investigação, uma vez que a ministra afastou a aplicação da cláusula de imunidade penal temporária do presidente, prevista no art. 86, §4º da Constituição Federal, por entender estarem os fatos ligados diretamente às funções presidenciais”, ressalta o advogado.

Renato Ribeiro de Almeida, advogado especialista na área de direito eleitoral e doutor em Direito do Estado, explica que, caso o inquérito indique que o Presidente tenha cometido crime, os autos deste inquérito serão encaminhados para o Procurador Geral da República, e caberá a ele decidir se moverá ou não ação criminal contra o Presidente no Supremo Tribunal Federal.

“Caso ocorra essa hipótese, o processo só poderá ser iniciado, caso a Câmara dos Deputados aprove o início do processo criminal contra o Presidente. Caso o Congresso aprove, o Presidente será afastado. Do contrário, o processo fica paralisado aguardando o final do mandato para retomada. É exatamente o que aconteceu com Michel Temer, que à época recebeu denúncia criminal do PGR Rodrigo Janot, em duas oportunidades. Em ambas, a Câmara dos Deputados não autorizou o início do processo”.

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Indiciado, Bolsonaro diz que Moraes “faz tudo o que não diz a lei”

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta na rede social X, nesta quinta-feira (21), trechos de sua entrevista ao portal de notícias Metrópoles. Na reportagem, ele informa que irá esperar o seu advogado para avaliar o indiciamento. 

“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse o ex-presidente.

Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, criticou Bolsonaro.

Bolsonaro é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

O relatório final da investigação já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Na última terça-feira (19), a PF realizou uma operação para prender integrantes de uma organização criminosa responsável por planejar os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

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